Author: Valter Hugo Muniz Page 54 of 240

Valter Hugo Muniz - Formado em Comunicação Social com ênfase em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de SP (PUC-SP) em 2009, concluiu em 2012 a “laurea magistrale” em Ciências Políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália. Com experiência em agências de comunicação, multinacionais, editoras e televisão é, atualmente, consultor de comunicação na ONG Arigatou International, em Genebra, Suíça. Com vivência de mais de cinco anos na Europa (Itália e Suíça), participou de trabalhos voluntários em São Paulo e na Indonésia pós Tsunami (2005), além de uma breve estadia na Costa do Marfim (2014). É fundador do escrevoLogoexisto.

Quando a apuração tendenciosa é evidente

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É sempre difícil saber quais são os verdadeiros interesses que se escondem nas reportagens que vemos/lemos. Por mais que os fatos sejam objetivos, existe sempre um enfoque que direciona o leitor/espectador para determinadas conclusões.

O que aprendi, na minha formação, é que o jornalista pode, ao ler os fatos de um evento, condicionar o receptor às suas conclusões, às suas verdades, destruindo aquele valor objetivo que está no DNA dos fatos, mas que se torna subjetivo a partir do momento em que é “lido”. Pode-se ver esse dilema claramente no modo como a Rede Globo apresentou o fracasso corintiano na Copa Libertadores, quarta feira passada, e a Virada Cultural, ocorrida neste final de semana.

Após o fim do jogo que decretou a eliminação do Corinthians, a torcida corintiana deu um show. Aplaudiu, cantou, vibrou, mostrando que futebol é mais que vencer. Porém, a exaltação feita pela mídia da “religião” Corinthians é o que mais me incomoda, porque os mesmos corintianos fanáticos que deixam tudo – inclusive família ou emprego – pelo time, se acabaram “na porrada”, fora do estádio, depois do jogo. Logo em seguida da tal “festa”, membros de torcidas organizadas rivais, se espancaram brutalmente, como animais. Torcedores do mesmo time, que dentro do estádio estavam cantando juntos. Uma vergonha! Interessante, contudo, que a Rede Globo (e também outros meios de comunicação) fez questão de diminuir, quase ignorar o episódio violento. Mas, para mim, a festa foi ofuscada pela violência brutal. As imagens estão aí pra falar.

O mesmo comportamento, mas na contramão da exaltação positiva, a Globo teve em relação à apuração dos fatos da Virada Cultural (que acabou pautando outros veículos, como o Estadão).

É verdade, os números mostram: essa foi a edição da Virada mais violenta, com 2 mortes, inúmeros roubos, arrastões e esfaqueamentos. Mas, proporcionalmente, o evento promovido pela prefeitura de São Paulo foi um grande sucesso. 4 milhões de pessoas espalhadas pelo centro da cidade. Muitas atrações para todos os públicos. Famílias, idosos, portadores de deficiência, todos ali para desfrutar desse maravilhoso evento.

Contudo, claro, a violência (fato objetivo) ofuscou de certa maneira, o evento.  Mas será que ela deveria ser estampada nas capas de jornais e nas chamadas do Fantástico como principal aspecto da Virada?

A minha resposta é não! Esta leitura tendenciosa, como aconteceu também na eliminação do Corinthians na Libertadores, só prejudica as avaliações sobre ambos os acontecimentos. Em nenhum dos dois eventos houveram só coisas boas, então por que só a festa corintiana foi hegemonicamente positiva?

Triste é saber que a violência dos torcedores corintianos também afetou a Virada. Depois do título, ontem à noite, dezenas de torcedores brigaram nas redondezas da Estação da Luz, ao lado do Show do uruguaio Jorge Drexler, que fechou a Virada. Porque isso não foi noticiado?

O longo Inverno Árabe

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Todas as vezes que alguém me entende e adere às minhas ideias fico feliz, pois o “gostinho da razão” parece o melhor alimento para as nossas vaidades humanas.

Ampliando o contexto e olhando para os acontecimentos que envolvem a Comunidade Internacional, é possível perceber um mesmo sentimento de felicidade (e a consequente vaidade) Ocidental, em relação a aparente adesão dos Estados árabes à democracia, lutando para derrubar ditadores, opressores. Simbólico o nome dado ao acontecimento: Primavera Árabe. O renascimento, o sentimento global de “novos tempos”, capaz de superar a “barbárie” do Oriente Médio.

Contudo, a tal felicidade pela adesão dos valores democráticos ocidentais tornou-se frustração diante da tragédia instalada na região, principalmente na Síria. Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, desde o início da revolta contra o regime do presidente Bashar al-Assad, em março de 2011, morreram no país mais de 80.000 pessoas, metade delas civis.

Existem muitas controvérsias a respeito dos números divulgados pelo Observatório, principalmente porque se acredita que ele é expressão dos interesses dos países Europeus, que buscam diversas formas de pressionar o governo sírio. Mas, certamente, a contagem é aproximativa.

Dados da ONU, dizem que o conflito já deixou 4,2 milhões de deslocados e 1,4 milhão de refugiados. Triste também é realidade enfrentada pelas mulheres. Algumas refugiadas sírias estão sendo vendidas para serem noivas na Jordânia e, assim, ajudar suas famílias.

Recentemente, em uma reportagem da BBC, testemunhas relataram que em Saraqeb, no norte da Síria, helicópteros do governo teriam lançado ao menos dois artefatos contendo um gás venenoso.

A diplomacia internacional tem buscando um percurso político para sair da crise síria, mas os esforços não têm mostrado resultados relevantes. Talvez a universalidade dos valores ocidentais precisa ser revista.

Enquanto isso, milhares de pessoas perdem suas vidas, suas casas, sua terra. A violência desse genocídio e o impasse nas instituições internacionais que deveriam intervir mostram que a racionalidade conquistada no pós Segunda Guerra, ainda está longe de promover uma paz global duradoura.

Pelo visto o  Inverno Árabe ainda será longo.

Quando é o idoso que desrespeita

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Na imensa São Paulo, todos os dias, milhares de pessoas se deslocam de diferentes formas para o trabalho. Uma parcela grande dessas usa, beneficamente, o transporte público.

Como sou ciclista, raramente vivencio os absurdos que acontecem dentro dos ônibus e metrôs da cidade. Mas, hoje, experimentei “na pele” um pouco da falta de educação dos residentes da maior cidade do Brasil.

Sempre ouvi dizer do desrespeito da juventude em relação aos idosos dentro do transporte público. Já vi, muitas vezes, jovens sentados nos bancos reservados à Terceira Idade, fingindo ou, efetivamente, dormindo. Essa atitude mal educada já virou até “meme” nas redes sociais.

Contudo, hoje foi diferente. Entrei no ônibus vazio para ir ao trabalho e tive o cuidado de, mesmo sentando na frente, não ocupar os assentos preferenciais, por questão de princípios e também porque fui estudando.

Na metade do percurso sentou-se ao meu lado uma senhora idosa, tipo “madame”. Duas ou três paradas depois entrou no ônibus outra idosa.

Passados alguns minutos a “madame” que estava ao meu lado me deu um cutucão com o cotovelo e me apontou a sua coetânea, em pé, sugerindo que eu deixasse o lugar para ela. Dei uma olhada nos bancos ao redor e percebi que todos os assentos preferenciais estavam desocupados e assim, disse a ela que o assento em que eu estava não era preferencial.

_ É sim! Respondeu de forma atrevida e mal educada a senhora.

Senti o sangue bulir pela fata de respeito. Os idosos, que tanto exigem o respeito da juventude, dessa vez foram profundamente mal representados pela senhora que estava ao meu lado.

Alguns segundos depois, respirei fundo e me desloquei para um outro assento, ao lado, que também não era preferencial e estava livre.

A decepção demorou alguns minutos para passar. Refletindo o ocorrido pensei que possivelmente é o filho ou o neto daquela senhora que, talvez, esteja me representando como “juventude”, dormindo em assentos preferenciais e, assim, promovendo uma visão pejorativa dos meus coetâneos.

Jamais silenciar a não-violência

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Sempre ouvi dizer que os pilares do desenvolvimento de uma nação são: a saúde (física e mental), a educação (acadêmica e social) e o emprego.  Não basta ter apenas um ou até mesmo dois dos três aspectos. Sem os três um país não se sustenta ou cresce de forma desordenada, esquizofrênica.

O problema maior, contudo, é que, muitas vezes, os esforços para um crescimento “igual” e, até mesmo, os “poucos” sucessos, acabam suprimidos pela Grande Imprensa, na ânsia de denunciar o negativo que é mais presente na nossa sociedade.

Ontem, no Fantástico, a Globo demonstrou esse percalço crônico que se fundamenta no “informar” a sociedade de maneira parcial, no que diz respeito à triste realidade da violência nas escolas.

As imagens chocantes de brigas entre alunos e, destes, com os professores decretam o estado de calamidade moral em que vivemos. No Brasil atual, detentor de certa liberdade social, parece que ainda não conseguimos, como sociedade, educar as novas gerações ao respeito do “outro”. É difícil viver em um contexto em que a liberdade é nossa, sim, mas que envolve muitos “iguais”, com os mesmos direitos.

A reportagem do Fantástico é uma denúncia a essa falta de respeito verdadeiro para com o “outro”. Um comportamento destrutivo, violento, quando a própria individualidade não é respeitada integralmente. Contudo, existe também outro lado, em que se promove uma juventude forte, dona de si, mas sem ser violenta.

Desde o inicio do ano, um projeto importante tem sido realizado no Brasil. Promovido pela comunidade terapêutica Fazenda da Esperança, que realiza um trabalho sério de recuperação de drogados, o Forte sem violência é já uma tentativa, um começo de solução, para o grave problema que assola a juventude.

Em parceria com a empresa alemã Starkmacher e a banda internacional Genrosso, será feita uma série de espetáculos pelo Brasil, junto com alguns jovens “recuperandos”, visando promover uma cultura de paz.

Um aspecto interessante é que o projeto nasceu na Alemanha justamente para combater a violência dentro do contexto escolar. No Brasil o projeto foi construído como proposta de combate e prevenção às drogas, mas, pelo que se pôde ver ontem no Fantástico, essas realidades estão mais próximas do que se imaginava.

Os casos de violência nas escolas têm sim relação direta com as drogas, mesmo que não seja o único fator. Dessa forma, projetos como o “Forte sem violência” precisam ser apresentados à sociedade como possíveis alternativas, propostas concretas, de promoção de um projeto educativo que envolva a pessoa humana, na sua integridade.

Assim a juventude, talvez, possa descobrir que a consciência dos próprios limites é, sobretudo, uma grande oportunidade para descobrir o valor do “outro” e a possibilidade de um crescimento em conjunto.

Um ambiente de descoberta reciproca dos próprios talentos, da própria vida, na relação positiva com o “outro”, igual em direitos, mas profundamente diferente, impulsiona uma sociedade sem violência nas ruas, nas escolas, nas comunidades.

Mais informações sobre o Forte sem Violência:

Forte sem Violência

Telefones: (12) 3013-6441

Email: fortesemviolencia@fazenda.org.br

De bike ao trabalho!

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Todos os dias eu me levanto às 7h, me troco, tomo meu cafezinho e saio pedalando com a minha bike.

Mesmo tentando, é difícil explicar a sensação de liberdade que existe em ser ciclista em uma cidade como São Paulo. Buscar a difícil interação entre as pedaladas, buzinadas, “fechadas” e freadas é um desafio que exige respeito com a dinâmica do trânsito.

Como ciclista, eu não busco ser “senhor das ruas”, mas procuro me adaptar ao contexto existente para ser instrumento de melhoria e não mais um estorvo no caos do trânsito.

Depois de pedalar meus 7,5km, passando por lugares históricos da cidade, observando meu povo, chego ao trabalho feliz, bem disposto.

Tomo um banho quente e, assim, começa mais um dia de trabalho.

Todo dia é assim, felizmente.

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