Author: Valter Hugo Muniz Page 51 of 240

Valter Hugo Muniz - Formado em Comunicação Social com ênfase em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de SP (PUC-SP) em 2009, concluiu em 2012 a “laurea magistrale” em Ciências Políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália. Com experiência em agências de comunicação, multinacionais, editoras e televisão é, atualmente, consultor de comunicação na ONG Arigatou International, em Genebra, Suíça. Com vivência de mais de cinco anos na Europa (Itália e Suíça), participou de trabalhos voluntários em São Paulo e na Indonésia pós Tsunami (2005), além de uma breve estadia na Costa do Marfim (2014). É fundador do escrevoLogoexisto.

Um modelo de protesto que gera o confronto violento

mudando

Uma das instituições que considero mais problemáticas no contexto brasileiro é a Policia Militar. Ela sempre me faz pensar, com preocupação, se existe mesmo a necessidade de termos tantas instituições mantenedoras da ordem (polícias militar, civil, federal e exército).

Deixando de lado a minha opinião pessoal sobre o excesso de corporações policiais, a segunda coisa que mais me questiono é o teor da formação de um policial militar. A Polícia Militar, paga por nós brasileiros, ao meu ver, deveria estar preparada para manter a ordem social, protegendo o bem estar dos cidadãos do país, que  não é, porém, um sujeito abstrato; é cada um, negro, branco, índio, rico, pobre; é qualquer pessoa que adquiriu os direitos civis legalmente e que deve ser defendida, jamais agredida.

Contudo, de maneira geral, alguns representantes dessa instituição policial humilham, agridem, reprimem e até executam cidadãos que protestam, buscando exercer seu direito de expressão, de ser um ator político. A violência policial desperta o ódio e desfaz o vínculo entre cidadãos com a Corporação. Dessa forma, a Polícia Militar se torna um grupo independente, quase uma milícia, que age de acordo com as próprias ideologias e esquece de que é, acima de tudo, uma prestadora de serviços aos cidadãos brasileiros.

Enfim… meus questionamentos a respeito da Polícia Militar têm aumentado diante da atual “desordem social” em São Paulo, que faz vítimas inocentes e coloca a Corporação contra os manifestantes.

Hoje, eu pude assistir a entrevista com o jovem Caio Martins, integrante do Movimento Passe Livre (MPL), explicando o andamento dos protestos e  o crescimento de um cenário violento, devido ao modelo de reivindicação adotado. “Depois que começa a repressão a manifestação já é outra, não é mais unida e organizada como antes”, disse o jovem.

Mas, enfim, considerando que a Polícia Militar “é aquela que é”, vamos raciocinar de maneira clara e objetiva:

Os sujeitos envolvidos no conflito são: Os manifestantes – que têm o direito (e, na minha opinião, devem) de se organizar para exigir medidas que sejam favoráveis à população como um todo; e os policiais – que são PAGOS para manter a ordem social, ou seja, AGIR, quando ela esteja ameaçada.

A passeata, inicialmente, organizada pelo MPL e que ganhou proporções difíceis de controlar, é um modelo de protesto que provoca a ação da polícia, que não pode permitir o fechamento das vias públicas, principalmente no horário do rush. Por mais que a luta do Movimento seja legítima e essencialmente positiva, ela descambou para o descontrole, porque, primeiramente, ignorou o fato de que a Polícia Militar é despreparada para lidar com pessoas e, depois, pela falta de coesão e unidade metodológica dos envolvidos na manifestação. Enquanto existem muitos jovens que pregam a PAZ no ato de ocupar as ruas, outros grupos políticos, ideologicamente violentos, usam a massa para impor “na base da força” as medidas exigidas coletivamente.

Existe uma apuração manipulada da mídia destacando só o negativo? Existe. A violência descamba só depois que a polícia repressora ataca? Pode ser. O fato contudo é que o contexto mudou e esse modelo de protesto está levando seus envolvidos à iminência de uma tragédia, que precisa ser compreendida e responsabilizada.

Concordo com o jovem do MPL que a violência, gerada no contexto da passeata, acaba banalizando, ocultando, a violência cotidiana que o cidadão sofre, de maneira silenciosa e que, quase sempre, “abaixa a cabeça”.

O radicalismo juvenil, contudo, precisa ter a consciência de que nenhuma vida perdida vale uma causa. É preciso saber que as situações nos conduzem à caminhos que as vezes produzem consequências trágicas.

Eu, ainda acredito que a passeata não muda a conjuntura do problema. É preciso transformar, antes de tudo, a própria vida, a postura cidadã. A desilusão de muitos trabalhadores diante dos acontecimentos, pode se dar pelo fato de que, muitos desses jovens “revolucionários” que estão lutando (de maneira violenta) pelo direito a um transporte público com valor decente, têm seu Audi, com o qual ele se desloca cotidianamente, parado na garagem.

As transformações precisam de uma consciência coletiva e não só vontade política. Isso a história do passado e do presente nos ensinam. É só olhar para os frutos da aclamada Primavera Árabe.

Ateu, graças a Deus!

deus existe

“Quem fez mais mal à humanidade? Os bancos, as ideologias ou as religiões?”. Essa pergunta, semanalmente posta aos entrevistados de “Provocações”, na TV CULTURA, do “mestre” Abujamra, sempre me faz pensar em “qual” religião ele coloca em questão. E se é aquela em que eu acredito.

Depois de um período de exclusão do pensamento religioso, principalmente contraposto aos âmbitos filosófico e científico, surge, ao poucos, um despertar do interesse religioso. “Não significa automaticamente retorno à fé cristã, mas, sobretudo, à abertura de credibilidade no confronto de outras formas religiosas e até mesmo pseudo – religiosas”, afirma o teólogo italiano Piero Coda.

Esse fenômeno, continua Coda,“juntamente com a valorização da dimensão afetiva, experiencial e até mesmo mística, que se contrapõe à tendência racionalista e reducionista do moderno, apresenta um aspecto antropológico regressivo e perturbador”.

Pensando as definições de Piero Coda, entendi o porque do olhar “negativo” de Abujamra às manifestações religiosas contemporâneas, majoritariamente pseudo-religiosas, ao meu ver.

O ser humano, na sua religiosidade ontológica, encontrou, através de uma caminho “devocional” a possibilidade de “encontrar” a legítima face de Deus. As inúmeras práticas religiosas concebidas de forma comunitária (mesmo que o caminho espiritual seja pessoal) se propõem a “revelar” esse Deus/Luz/Amor que existe na essência de todo ser humano. Contudo, se essa dimensão espiritual não promove autenticamente à pessoa humana, transforma-se em ideologia, fundamentalismo, idolatria.

Foi, e parece ainda ser, esse semblante da religião o motivo (de certa maneira compreensível) de repulsa, principalmente daqueles que se propõe a entender profundamente a historia da humanidade.

Hoje, a devoção tem, muitas vezes, um aspecto partidário, ideológico, deixando de exprimir sua dimensão universalista. Vive-se a própria religiosidade promovendo a mesma rivalidade que existe entre torcedores de times  de futebol. Também os líderes espirituais acabam idolatrados da mesma forma que os famosos do mundo da música ou outras celebridades.

É esse fanatismo religioso, que promove a necessidade de afirmação da própria fé perante os “outros” e a exclusão de quem não partilha uma determinada prática, que precisamos tomar cuidado. Essa forma de “religião” divide pessoas, culturas e deixa de promover o ser humano, na sua dimensão fraterna, naquilo que une.

Diante dessa religião, eu sou ateu. Mas acredito que Buda, Maomé  e Jesus Cristo também seriam.

Pensando os modelos de Ensino e de Comunicação

humanistaHoje, por meio de uma rede social, debati com caros colegas de estudo algumas questões a respeito do cenário educacional brasileiro.

Mesmo tendo abordagens e leituras diferentes, mais por conta das nossas histórias pessoais, do que  por qualquer outro motivo, pudemos pensar juntos sobre a importância da distinção da escola com os outros “espaços” da sociedade, para que ela recupere algumas dimensões de caráter filosófico e, porque não, religiosos, que o modelo de ensino funcional perdeu. Essa distinção não é, contudo, um rompimento de relações, mas a redescoberta da identidade específica da escola, no favorecimento de um processo de ensino global.

Dominique Wolton, ao analisar o ambiente pedagógico, essencialmente “transmissor de conhecimentos”,  com o universo comunicacional, por ele analisado, é categórico:

“No campo da educação é preciso transmitir os conhecimentos… mas, hoje, os professores estão muito mais atentos às condições de recepção. Ensinar sempre foi comunicar, isto é, pensar nas modalidades que permitem ao receptor, o aluno, compreender aquilo que lhe é dito, e ao professor, por sua vez, levar em conta as reações de seu aluno”.

Conhecer as dificuldades e, principalmente, os ruídos, em prol de uma comunicação autêntica necessita, essencialmente, do encontro fundamental com o Outro (e seus limites). Essa metodologia relacional e, por que não, pedagógica, permite que a “partilha” seja “aceita” pelo receptor de uma informação/conhecimento.

Assim, tanto o comunicar, como o ensinar, em uma dinâmica relacional, promove modelos mais eficazes, no que diz respeito aos resultados funcionais e, principalmente, redescobrem a riqueza de uma metodologia que nasce da fadiga do “Encontro entre “Outros”.

“O indivíduo que aprendeu a melhor se conhecer e a se expressar  (e eu acrescentaria aqui, na metodologia que se fundamenta no Encontro entre Outros) é também mais critico”, afirma Wolton.

A violência dos democratas primitivos

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Foi na universidade que as manifestações de caráter sindicalista começaram a me enojar. Eu não era (e ainda não sou) contra a luta pelos direitos privados pelo Estado ou por outras instituições. Isso se o protesto fosse (seja) feito de maneira pacífica.

Uma linha ideológica da “pseudo esquerda” que ainda sobrevive neste país de Terceiro Mundo, no que diz respeito ao pensamento (e a prática) político, defende a violência dialética como única forma de fazer ouvir a própria voz . Esse tipo de comportamento primitivo destrói os avanços democráticos e mostra que a (minha) geração pós ditadura, mesmo tendo crescido em um ambiente “livre”, pena para promover um debate maduro em prol da melhoria do país.

Os representantes dessa “pseudo esquerda” também lutavam por bolsas na universidade onde eu estudava, sem, contudo, frequentar 50% das aulas. Abdicavam do direito que eles tinham de estudar e lutavam, de maneira incoerente, por um direito que, na prática, eles mesmos desprezavam. Isso sem contar o consumo irresponsável de drogas de alguns dos seus “representantes”. Uma incoerência que causava espanto.

Pois bem… ontem São Paulo foi agredida por esses jovens “revolucionários” que acreditam que a transformação só pode ser feita com o choque violento de realidades. Que a síntese, a melhoria da situação social, exige o confronto. Assim, os mártires são parte do processo, porque uma vida singular é pouco, se comparada À CAUSA.

Essa ideia VELHA de revolução precisa acabar, principalmente em um país que sonha ser grande. É fundamental lutar pelos direitos, estar atento aos desmandos do Governo e outras instituições, mas não é a violência incoerente que irá solucionar os problemas de todos.

Sempre fui o primeiro a detestar as ações violentas e repressoras da polícia, sobretudo o Choque, despreparada para lidar com pessoas. Porém, as imagens do vandalismo ontem na Avenida Paulista me impressionaram… Parece que existe um sindicalismo profissional que se articula para manipular “às massas” em prol dos seus interesses.

A juventude paulistana vândala, presente no protesto ontem, envergonhou seus concidadãos.  Destruindo o patrimônio público eles não prejudicaram o Estado, mas o povo, que precisa do metrô, dos ônibus, das ruas, para exercer seu direito de trabalhar, ir e vir…

É interessante, contudo, perceber que a incoerência também gera consequências simbólicas em seus atores. Alguns jovens que protestavam, reclamando não ter 20 centavos à mais para pagar uma viagem de transporte público, por conta dos atos de vandalismos, foram presos. Para se libertarem, tiveram que pagar 3000 reais… o valor que cobriria o aumento do preço de 15.000 viagens.

Quem vai pagar o prejuízo (pessoal e coletivo) dessas manifestações violentas? A revolução?

Não. Todos nós!

O bem em temer as diferenças

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Muitas pessoas acreditam que o Amor é capaz de equilibrar as diferenças. Por ter vivido (e viver em família) experiências significativas a esse respeito, posso afirmar, com certeza, que é uma crença verdadeira.

Contudo, por mais potente que possa ser, o Amor não anula as diferenças, não as supera. Em uma relação verdadeira, transparente, com qualquer “outro”, continuamos sempre os mesmos, com traumas, caráteres, experiências e, principalmente: somos frutos da nossa cultura natal.

Na verdade, o Amor nos ajuda a superar nós mesmos… nossos limites pessoais, esquemas psicológicos que, tantas vezes, nos bloqueiam, nos afastam do “outro”, profundamente diferente.

Descobrir isso, o quanto antes, em uma relação é talvez o aspecto mais importante, principalmente quando ela é transcontinental. As diferenças, nesse caso, são abissais, pois a distância geográfica (que pode ser aplicada também entre as regiões do Brasil) produzem dinâmicas culturais muito variadas, contrastantes, que, na vida cotidiana, podem naturalmente gerar problemas.

Assim, é recomendado TEMER AS DIFERENÇAS. Um temor positivo, um respeito delicado, pois elas aparecem aos poucos, criam impasses que nem sempre são superáveis imediatamente, por isso é fundamental ter paciência.

Esse temor também nos ajuda a ser realistas. Caso o “outro” não esteja disposto a mergulhar na difícil e aventurosa jornada da “inculturação” isso, com certeza, é um mau sinal. Claro que, por outro lado, nem sempre estamos prontos no momento em que somos exigidos. Às vezes fracassamos por falta de força, preparação ou coragem. Contudo as oportunidades de viver essa experiência reaparecem,  principalmente se o relacionamento persevera

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