Author: Valter Hugo Muniz Page 44 of 240

Valter Hugo Muniz - Formado em Comunicação Social com ênfase em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de SP (PUC-SP) em 2009, concluiu em 2012 a “laurea magistrale” em Ciências Políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália. Com experiência em agências de comunicação, multinacionais, editoras e televisão é, atualmente, consultor de comunicação na ONG Arigatou International, em Genebra, Suíça. Com vivência de mais de cinco anos na Europa (Itália e Suíça), participou de trabalhos voluntários em São Paulo e na Indonésia pós Tsunami (2005), além de uma breve estadia na Costa do Marfim (2014). É fundador do escrevoLogoexisto.

Adaptar-se ou morrer

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Em situações de crise e escassez, vida é movimento. Esse conceito, originário do último filme que assisti (Guerra Mundial Z), exprime uma verdade importante e que me faz lembrar outro filme visto recentemente: Adaptation. As dinâmicas e evoluções da vida exigem um passo “no incerto”, no novo, que deve ser dado com cautela, mas é uma adaptação inevitável.

Ultimamente tenho pensado muito nisso, ancorado nos discursos do Papa Francisco, mais pela sua leitura “intuitiva”, que por motivos religiosos. O Papa, refletindo sobre a situação atual da Igreja Católica, fala da capacidade da Igreja de ir “contra a corrente” da ditadura tecnicista, que coloca a velocidade como medida fundamental no “acompanhar” os avanços sociais.

Acredito que a visão de Francisco é o ponto de equilíbrio e de cautela para que não sejamos tomados pela “ilusão do novo e do rápido”. Mas, por outro lado, não tem, em nenhum sentido, o objetivo de justificar o comodismo.

Adaptar-se aos “sinais dos tempos” é ter a coragem de ousar, de crescer, evoluir, sem simplesmente acreditar que o que já foi feito basta. Adaptar-se é continuar em movimento, é querer viver, pois, pelo contrário (e independentemente da vontade), se morre.

É interessante me dar conta do quanto essa capacidade vai diminuindo ao longo do tempo. A velhice nos faz buscar o “aconchego”, o seguro, o “cômodo”. É isso que nos leva à morte. Continuar “em movimento” exige do corpo, da alma e da mente um contínuo esforço que, contudo, nos faz (re)viver.

Morremos (não necessariamente de maneira literal) quando paramos, conservando o que já temos; quando enterramos a moeda que ganhamos, para não perdê-la; quando tememos as mudanças e não queremos nos adaptar. Porque “vida é movimento”.

Pedagogia futebolística

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Gosto de pensar a pedagogia da vida a partir do futebol, pois foi justamente por meio desse esporte que descobri a beleza de lutar, de superar os desafios, de ser criativo, de me doar, de ter espírito de equipe, generosidade e claro, foi onde aprendi a perder e recomeçar.

Esse “paralelismo” me fez perceber que a vida é, sobretudo, um grande jogo. Ás vezes nós nos preparamos bem e conseguimos superar desafios. Outras tantas, “treinamos pouco”, acreditamos que só o talento basta e somos surpreendidos com derrotas, fracassos. No jogo, como na vida, também podemos construir laços profundos, principalmente nos momentos de dificuldade. Assim, ficamos mais fortes, porque unidos.

Ontem, no amistoso entre Brasil e Portugal, o capitão brasileiro Thiago Silva mostrou, concretamente, como tudo isso é possível. Durante o primeiro tempo, após uma falha grave do lateral brasileiro Maicon, a seleção portuguesa abriu o placar.

Quantas vezes um “grupo” é prejudicado por uma falha individual? Contudo, a vida nos dá a oportunidade (se quisermos) de olhar pra frente, continuar “jogando” para nos recuperarmos. E foi isso que aconteceu no jogo de ontem. Após um escanteio batido por Neymar, Thiago Silva, o capitão, subiu mais alto que os zagueiros portugueses e cabeceou a bola para empatar a partida.

A comemoração de Thiago foi simbólica, comovente. O zagueiro brasileiro apontou para Maicon, ofereceu-lhe o gol, colocando em evidência o valor da união, da ajuda recíproca, o valor do grupo que cobre as falhas individuais.

Que lição bonita deu o futebol! Poderíamos estar lamentando hoje, como fazemos muitas vezes em nossas vidas, que perdemos porque fulano ou ciclano falhou e comprometeu o trabalho do grupo. Mas, Thiago Silva mostrou que, enquanto a bola rola, a vida continua, podemos sempre transformar a realidade e, digo mais, fazer com que uma dificuldade seja oportunidade de estreitar laços, fortalecer o grupo, para as muitas dificuldades que ainda virão.

A tridimensionalidade das referências

CONHECIMENTO E INFORMAÇÃO

A comunicação, na sua origem, promove o encontro com o outro, a partilha que, se aproveitada, revela as diferenças que nos fazem seres autênticos. Descobrirmo-nos “iguais em direito”, mas diferentes na essência é fundamental também para a preservação das referências. Já em uma sociedade aberta, em que a comunicação de massa serve de ponto de encontro amplificado entre as “alteridades”, surge a necessidade de repensar a coabitação cultural, no que diz respeito, especialmente, ao reconhecimento e a importância das diferentes referências.

Partindo disso, Dominique Wolton propõe a distinção de três tipos “globais” de discurso ou visões de mundo. Como ele mesmo afirma, “o progresso da democracia é permitir a cada um, através da informação, o acesso a certa compreensão dos múltiplos pontos de vista sobre o mundo, desde que se tenha bem em mente tudo o que continua distinguindo as três grandes relações com o mundo que a informação, o conhecimento e a ação constituem”.

Saber que informar não é conhecer e conhecer não é agir é “admitir a existência de três grandes discursos e relações com o mundo que estruturam a sociedade; é reconhecer o papel complementar e indispensável dos três, pois cada um deles representa uma visão particular do mundo”, afirma massmidiólogo francês.  Dominique Wolton afirma que “o conflito de legitimidade é reconhecer a legitimidade e a irredutibilidade dos três discursos (informação, conhecimento e ação) na sociedade democrática. É também pedir que cada um desempenhe o seu papel e não o dos outros”.

Simplificando, com temor de não reduzir a complexidade do pensamento de Wolton, a diversidade de referências, quando pensada na perspectiva social e buscando a coabitação cultural, pode ser relacionada a três diferentes visões de mundo, baseadas na informação, no conhecimento e na ação. A relação entre essas três realidades promove a verdadeira comunicação, pois não simplesmente informa, ou gera conhecimento e ação, mas permite, ao mesmo tempo em que afirma a originalidade dessas três dimensões, que, relacionando-se, essa “tridimensionalidade” leve a coabitação.

“Coabitar é, em primeiro lugar, refletir sobre as condições simbólicas, portanto culturais, que permitem simultaneamente trocas e um mínimo de distancia”.

Antídoto contra o mal

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A grande lição do final de semana que passou foi redescobrir a importância (para não dizer: necessidade) de alimentar-se de coisas boas. Um bom antídoto contra o mal.

Nos últimos meses, vendo (e vivendo) situações negativas, em diversos ambientes, comecei, em doses homeopáticas, a perder a esperança nas pessoas, no mundo e em Deus. O grande problema é que, essa falta de expectativa positiva, nos leva a aceitar o mal que “busca” se fazer presente; faz-nos aceitar comodamente os limites, nossos e alheios, como triste “condenação”. Esse “vitimismo” não é somente contra produtivo, mas auxilia a manutenção do “status quo”.

Procurar o bem, nos acontecimentos e relacionamentos, nos dá o fôlego suficiente para ultrapassar, no dia-a-dia, a linha tênue entre o “simples viver” para o “viver e fazer a diferença”.

Simplesmente viver, é aceitar, cotidianamente, que o pouco que fazemos é inútil à transformação da sociedade. É não ter a ilusão, romântica ou ideológica, de que as coisas mudam através dos pequenos atos. Essa concepção é tão racional, tem tanta lógica, que parece verdadeiramente definitiva.

Contudo, não são as revoluções exteriores que transformam definitivamente a nossa vida, mas as mudanças interiores, a capacidade de “ler” os acontecimentos de maneira diferente, visando um agir “novo”, que não muda (talvez) o mundo, mas o “revoluciona” sim, no pequeno.

Alimentar-se de coisas, relacionamentos e experiências boas nos tira do comodismo omisso e nos impulsiona a fazer a diferença na nossa e na vida que existe ao nosso redor.

Mais um Francisco para entrar na história

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Entre os considerados “santos” pela Igreja Católica aquele que, provavelmente, mais arrebatou simpatizantes, dentro e fora da comunidade eclesial, é um tal de Francisco de Assis; testemunho avassalador de radicalidade, simplicidade, desapego e amor à natureza.

Francisco, nascido na belíssima Assis, região da Úmbria italiana, ficou também conhecido por ser pai dos pobres e dedicar sua vida no cuidado aos excluídos e doentes da sua cidade. Inspiradas nele nasceram inúmeras expressões religiosas que, também nos dias de hoje, testemunham a caridade, como pilar da fé cristã.

Mas, parece que não somente ás ordens e os movimentos religiosos decidiram seguir o rastro de Francisco de Assis. O cardeal Bergoglio, agora Papa Francisco, tem mostrado, através de suas atitudes “pastorais” que “um novo catolicismo” começa a emergir.

O carisma e a simplicidade do papa Francisco é assunto batido. No Brasil, foram incontáveis as demonstrações de que, antes de tudo, o sacerdócio é SERVIÇO para a comunidade eclesial e não privilegio de uma elite clerical que, historicamente, gozou de um prestígio que transgredia o significado original do termo.

Contudo, o Francisco do século XXI não para de revolucionar. Esta semana, após receber a carta de uma jovem romana, abandonada pelo marido, grávida e que dizia temer não poder batizar seu filho, o papa ligou para a jovem e disse que, ele mesmo, iria batizá-lo. O gesto inusitado e carregado de significados para a Igreja católica sacramenta a “pedagogia pastoral” do sumo pontífice: falando pessoalmente com um fiel, para acolher seu drama, ele fala a todos, promovendo um novo modo de ser igreja, ser católico, em que, antes de tudo, se olha o ser humano e, depois, a “lei”.

Além do seu xará italiano, parece que outro revolucionário que viveu neste mundo, há 2.000 anos, propunha a mesma coisa. Mas, sendo humana, a Igreja Católica acabou se tornado uma espécie de antro dos fariseus modernos, mais voltada para a lei, que para o amor, que acolhe todos.

O testemunho do papa Francisco parece ser a resposta “transcendente” aos sinais dos tempos, em que valem mais os relacionamentos, a convivência no amor fraterno, a acolhida de todos. Afinal de contas, Jesus e seus discípulos se preocuparam mais em SER/VIVER Igreja do que escrever regras para adesão exclusiva da mesma.

Pois bem, parece que o catolicismo está, finalmente, retrocedendo e, assim, progredindo.

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