Author: Valter Hugo Muniz Page 41 of 240

Valter Hugo Muniz - Formado em Comunicação Social com ênfase em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de SP (PUC-SP) em 2009, concluiu em 2012 a “laurea magistrale” em Ciências Políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália. Com experiência em agências de comunicação, multinacionais, editoras e televisão é, atualmente, consultor de comunicação na ONG Arigatou International, em Genebra, Suíça. Com vivência de mais de cinco anos na Europa (Itália e Suíça), participou de trabalhos voluntários em São Paulo e na Indonésia pós Tsunami (2005), além de uma breve estadia na Costa do Marfim (2014). É fundador do escrevoLogoexisto.

A (ir)relevância do que lemos

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Estamos constantemente consumindo informações e, muitas vezes, nem nos damos conta do conteúdo que a Grande Mídia “soca” em nossas mentes, sem qualquer tipo de compromisso em prover algo que é realmente importante para a vida das pessoas.

Hoje de manhã, acessando o site do globo.com, me deparei com dois exemplos pontuais de noticias que se encaixam nos extremos do que considero relevante ou não.

A primeira delas era sobre o passei solitário do jogador de futebol brasileiro Neymar, na China. É descarado o modo como a globo segue o jovem por todos os lados, faltando somente noticiar quando ele vai ao banheiro. Não é raro ler matérias sobre ele que fogem completamente do universo futebolístico em que ele está inserido. O porquê disso é difícil de entender, talvez pela necessidade comercial de fabricação de celebridades, mas a desnecessidade e irrelevância são óbvias.

A segunda notícia não se tratava de alguém famoso, mas de seres humanos desconhecidos, que, contudo, testemunharam algo que diz muito mais aos leitores, de maneira global.  Ela conta rapidamente o bonito ato de um americano com doença terminal que levou a filha ao altar deitado em uma maca. O testemunho Scott Nagy, no casamento da filha Sarah, na cidade de Strongsville, em Ohio, toca o coração do leitor de qualquer lugar deste planeta, pois acena para uma humanidade em que todos nos encontramos.

O paradoxo entre as matérias acima mostra a falta de critérios na produção de uma informação noticiosa. A humanidade de Neymar não vale menos ou mais que nenhuma outra. Por isso, ela deveria ser notícia, somente quando exprime algo relevante, no caso dele, principalmente, dentro de campo de futebol.

Seria bom se todos os sites fossem obrigados a incorporar um tipo de avaliação, como acontece em blogs e vídeos do youtube, para que as pessoas possam se manifestar, positivamente ou negativamente diante das informações exibidas, auxiliando o “corpo editorial” a escolher melhor o que noticiar. Isso se a Imprensa, de maneira geral, considerar relevante o que os leitores pensam sobre as noticias. Por enquanto, acredito eu, que não.

Pensamentos sobre a “relação-encontro”

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Uma das realidades mais bonitas e profundas do casamento, pensando no meu primeiro ano de “aventura”, é perceber o quanto ele é um “encontro formativo”. Aprende-se, individualmente, no exercício diário de purificação visando um amor sempre mais gratuito; e, como casal, na fusão cotidiana de sonhos, projetos, desejos, que deixam de serem pessoais e se tornam escopos familiares.

Tudo isso só é possível no verdadeiro encontro com “o outro”.  Hoje, durante as minhas leituras diárias, encontrei uma frase que define muito bem a potência dessa experiência: “No encontro com o outro, o olhar se abre em direção a uma verdade maior até do que nós mesmos”.

Refletindo sobre a frase acima, pude redescobrir a beleza de ter me casado “jovem”. É difícil explicar a alegria de construir a própria história junto da pessoa que a gente mais ama. Nessa “relação-encontro” mesmo o passado é redimensionado e nos leva, inegavelmente, a tal “verdade maior que nós mesmos”.

O grande aprendizado do ultimo mês, fruto da comunhão que o casamento promove, foi entender a importância de sempre valorizar as dificuldades, considerando-as etapa fundamental do processo de amadurecimento. Não é um conceito novo, mas uma experiência nova, porque vivida “em família”. Assim, é possível sermos felizes com pequenas coisas, vitórias, gestos, como o mais singelo sorriso.

Vivendo desta maneira encontramos a força para enxergar a beleza da vida, “encoberta de cinzas” pelo ativismo funcionalista que, quase sempre, promove o esquecimento de si mesmo e de quem está ao nosso lado. Contudo, nada disso seria possível sem o outro, essencialmente diferente, profundamente misterioso e fundamentalmente fantástico.

A retomada do “Homem que Sabe”

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Na sociedade em que vivemos “tudo é visível, mas cada vez menos compreensível”, afirma Dominique Wolton. Isto que nos obriga a sair de uma hermenêutica informacional e tecnocrática da sociedade, em busca do conhecimento verdadeiro das coisas e dos acontecimentos.

A virada do século XIX para o XX foi marcada pelo “ápice” da valorização da ciência como instrumento de desenvolvimento social. Contudo, as poucos, os acontecimentos e as escolhas politicas criaram um contexto em que não bastavam mais funções e operações matemáticas para compreender o mundo. Como afirma Wolton, “o século XXI é a revanche das ciências humanas em relação ao positivismo técnico e econômico do século XX”. Agora, “compreender as sociedades e agir sobre elas é muito mais complexo que compreender a matéria, a natureza e a vida e agir sobre estas”.

A grande oportunidade que parece se esconder na frase do teórico francês é a de da retomada da centralidade do ser humano como elemento de interpretação da realidade, “a revalorização do estatuto das ciências do homem e da sociedade”. É a partir disto que a comunicação torna-se um elemento fundamental de análise, do homem e da realidade. Como disciplina, ela “conhece a dificuldade das relações entre saber, poder e comunicação; sabe da necessidade da coabitação dos saberes e da obrigação da interdisciplinaridade” para vislumbrar de novos caminhos.

Dominique Wolton afirma que “as ciências da comunicação, por sua própria existência, ilustram a necessidade da interdisciplinaridade. Ilustram a importância e a dificuldade do conflito de legitimidade”. Mas para que seja possível uma relação profícua entre as ciências humanas e as “ciências positivistas” é fundamental uma mudança no estatuto do intelectual. Para Wolton , ele “não é mais a única sentinela da democracia e do universal”, sobretudo porque “ao longo do século XX, os intelectuais erraram nos combates essenciais da democracia”. Por isso, hoje, “o intelectual é mais modesto, fala em nome de suas competências e não do universal.

A relação interdisciplinar entre as diferentes ciências, pode convergir para a demanda essencial de não só produzir informação, mas fazer dela conhecimento, isto é, instrumento que concorre para a melhoria da sociedade.

A herança de Francisco para o Brasil

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Desculpo-me com os leitores pelo post “católico” demais, obrigando-lhes a colher este aspecto “privado” da minha existência. Porém, eu acredito, sem dúvidas, que esta dimensão “comunicada” seja capaz, como qualquer outra expressão religiosa, de iluminar a vida de todos. Por isso achei pertinente, hoje, escrever sobre o livro que acabei de concluir: “Palavras do Papa Francisco no Brasil”, editado pelas Paulinas.

Falar sobre a presença “profética” de Francisco no Brasil seria “chover no molhado”. Sempre que o Papa visita o Brasil, especialmente quando encontra os jovens, renova-se a alegria e a coragem de testemunhar o tal Cristo, exemplo de um amor nada ideológico, porque aberto ao outro; um amor  livre e acolhedor.

As inúmeras mensagens, algumas, doces como o abraço materno, outras duras como conselhos paternos, transformaram as vidas não só daqueles que foram encontrar o Papa no Rio. Graças aos meios de comunicação, televisivos ou não, a Luz de Francisco ressoou pelo Brasil, chegando também a todos os cantos do planeta.

Mas por que o que o Papa diz é importante? Porque suas palavras estão carregadas com a força do seu testemunho e, por isso, transformam. Da comunidade na favela, ao hospital, à basílica, em cada discurso uma mensagem de encorajamento humilde, sem sermões clericais, mas como conselhos de um Amigo, um companheiro na Viagem da vida, que caminha com os pés no chão e os olhos no Céu.

Para entender o que eu digo é fundamental ler, conhecer, o que Francisco disse, mesmo um não católico, pois a linguagem deste “sucessor do apóstolo Pedro” é capaz de tocar o coração de todos, é universal, como era a mensagem do Cristo. O Papa Francisco não veio ao Brasil promover o catolicismo, mas deixar uma mensagem de Amor, Esperança, que pode ser vivida por todos, com simplicidade e, especialmente, no serviço aos marginalizados da sociedade.

O Papa viu nos brasileiros um povo “tão grande e de grande coração; um povo tão amoroso” e, quando deixou o nosso país, sentiu saudade “do sorriso aberto e sincero, do entusiasmo”, convidando todos a mostrar, COM A VIDA, “que vale a pena gastar-se por grandes ideais, valorizando a dignidade de cada ser humano”.

Francisco se foi, mas deixou seu testemunho e palavras, que podem ser meditadas, dia após dia, graças à publicação de seus discursos. Altamente recomendado.

Quem quiser comprar o livro, ele custa R$6,00 e pode ser adquirido online, clicando aqui.

A fundamental temporalidade dos relacionamentos à distância

Se existe algo que eu tenho conhecimento de causa são os relacionamentos à distância. Todas as experiências que fiz antes de me casar tiveram essa particularidade cheia de benefícios, quando existe um propósito e maturidade suficientes para suportar, de maneira equilibrada, a ausência “do outro”.

Propósito, maturidade, equilíbrio. Três conceitos que definem bem quando esse tipo de relacionamento “vale a pena”.

Explico.

Talvez o aspecto mais importante para sobreviver a uma experiência afetiva à distância é a necessidade de um “propósito comum”. Sem um projeto claro, um “ponto de chegada”, os problemas de espaço/tempo se transformam em uma dificuldade sufocante e crescente. O principio é o seguinte: quando duas pessoas realmente se gostam o desejo de passarem mais tempo juntas, em teoria, aumenta progressivamente, até um ponto em que as despedidas se tornam insuportáveis. Haver um propósito em comum nos permite “auto justificar” os sacrifícios e entender que, quando se trata de felicidade, alguns sofrimentos fazem parte. Temporariamente.

Com um escopo assumido, juntos, o segundo passo é em relação à maturidade. Olhando para trás, eu poderia dizer que esse é o aspecto mais dramático de uma relação, pois tem protagonismo individual e ressonância coletiva. Isso quer dizer que, em relacionamento, não basta que só uma pessoa tenha maturidade. É preciso um “paralelismo de essências”, um caminho percorrido junto, para que o propósito assumido seja alcançado. Mas, amadurecemos em momentos diferentes e raras vezes conseguimos aceitar o fato de que “o outro” ainda não chegou aonde queremos. É preciso muita paciência, que vem, contudo, com o tempo. É isso: maturidade exige tempo – cronos e kairós.

Por último existe a questão do equilíbrio. Racionalmente pode-se viver até que bem as duas dimensões apresentadas acima, mas, todo ser humano “transcende” a sua razão. Sendo assim, saber lidar com os próprios sentimentos pode realmente ter papel determinante no futuro de uma relação. Aqui entram os esquemas psicológicos, as experiências familiares e outros aspectos “obscuros”, inconscientes, que ignoramos. Acho que esse equilíbrio exige a soma dos dois aspectos apresentados, mas também necessita de um “algo mais”, uma certeza Maior, que eu chamo de Fé e que “cobre” aquilo que muitas vezes não encontramos respostas imediatas, ou não entendemos. Encontrar o equilíbrio “sentimental” para viver uma relação a distância é a “ponta do iceberg” desse tipo de relacionamento “temporário”.

TEMPORÁRIO. É assim que defino um relacionamento em que os dois envolvidos estão na maior parte do tempo distantes geograficamente. Pois, o normal de uma relação, de uma vida em família, é constituído da presença material do outro. O “outro”: que tem hábitos culturais e familiares completamente diferentes, sonhos e desejos particulares, com quem precisamos “nos fundir” e renovar, constantemente, propósitos e equilíbrios, em um processo que só termina com a morte.

Quem não se prepara para “VIVER-COM” o outro, pode ter grandes surpresas com o casamento. E aí está a grande riqueza que um relacionamento a distância pode prover, pois a proximidade física sem propósito, maturidade e equilíbrio pode “dissolver” a beleza que existe na vida a dois. Aqueles que sobrevivem à temporalidade do relacionamento à distância acabam, se quiserem, amadurecendo e preservando a profundidade do propósito que os uniu anteriormente, de maneira equilibrada. De outra forma esse tipo de relação não se justifica. É uma baita perda de tempo.

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