Author: Valter Hugo Muniz Page 37 of 240

Valter Hugo Muniz - Formado em Comunicação Social com ênfase em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de SP (PUC-SP) em 2009, concluiu em 2012 a “laurea magistrale” em Ciências Políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália. Com experiência em agências de comunicação, multinacionais, editoras e televisão é, atualmente, consultor de comunicação na ONG Arigatou International, em Genebra, Suíça. Com vivência de mais de cinco anos na Europa (Itália e Suíça), participou de trabalhos voluntários em São Paulo e na Indonésia pós Tsunami (2005), além de uma breve estadia na Costa do Marfim (2014). É fundador do escrevoLogoexisto.

Uma ideia revolucionária | Impressões sobre a Lumen Fidei

ideia revolucionária

É por puro acaso que eu sou católico. Eu, como milhões de outros meus conterrâneos, nasci em uma terra catequizada pelos missionários europeus católicos, e essa tradição, percorreu os séculos, encontrando-se com meus avós, pais e chegando até a mim. Contudo, o que era só acaso, no decorrer da minha infância e adolescência, se transformou em escolha. Aprendi a amar, não somente uma instituição feita de homens, essencialmente falíveis (como somos todos), mas uma ideia revolucionária: o Amor.

Este Amor, que se traduz na essência do Deus cristão, é o mesmo que muitas outras religiões promovem. Entendê-lo e procurar vivê-lo me ajudou em cada passo, cada escolha, muito mais do que essas receitas prontas que as revistas “teen” procuram vender aos jovens. A ambiciosa ideia de um Amor incomensurável me ajuda até hoje, especialmente quando devo enfrentar uma situação nova, suportar os limites do outro e me manter fiel e coerente às escolhas definitivas que fiz.

O Amor cristão é promovido, especialmente, pela Tradição da sua Igreja. É a vida dos seguidores dessa ideia, documentada, que preservou, no passar dos milênios de experiências, com erros e acertos, a essência de uma vida que não é feita de palavras, mas ações.

ideia revolucionáriaLuz da Fé

Tenho procurado, em minha vida, me alimentar da ideia do Amor e partilhá-la com pessoas que acreditam nela. Olhando para outras ideias revolucionárias que surgiram na história da humanidade, percebo que elas, se não minimamente vividas, se dissipam com a ação do tempo. É por esse motivo que decidi ler a Encíclica  Lumen Fidei, que apresenta, do ponto de vista católico, o profundo significado da fé.

Iniciando das demandas atuais em relação à vida humana, a Encíclica acena para a necessidade de recuperar a dimensão da Fé, que é capaz de “iluminar toda a existência do homem”.  O documento explica a importante ligação entre Fé e a escuta, em que a ideia é transmitida por inúmeros mediadores ao longo do tempo, promovendo a concepção de que ela precisa da relação entre as pessoas para se difundir. “No encontro com os outros o olhar se abre em direção a uma verdade maior que nós mesmos”.

Ter fé, segundo o documento católico, é abrir-se para entender, conhecer, a partir de novas perspectivas, a nossa humanidade. A fé, porém, não é um sentimento excluso de razão, mas acompanha a Verdade em uma relação recíproca. A Fé conhece, é verdadeira, quando está ligada ao Amor. Maravilhosa a citação do filósofo Ludwig Wittgenstein onde o amor “não pode ser reduzido a um sentimento que vai e vem. Ele toca, sim, a nossa afetividade, mas para abri-la à pessoa amada e iniciar, assim, um caminho que é um sair do fechamento no próprio Eu e andar em direção a outra pessoa, para edificar um relacionamento duradouro; o amor mira à união com a pessoa amada.

Enfim, a Fé não se limita a uma ideia revolucionária particular, individual, mas vive na medida em que preserva a sua essência comunitária. Isso me faz entender melhor a necessidade de igrejas, de símbolos e outros elementos que conservam a memória e convidam as comunidades, em cada momento da história, a reviverem a mesma Luz, o mesmo Amor, a mesma ideia que revolucionou e ainda continua a revolucionar a vida daqueles que acreditam nela.

Queria mencionar uma frase final da Lumen Fidei que tocou particularmente o meu coração: “A Fé não é luz que dissipa todas as nossas escuridões, mas lâmpada que guia, na noite, os nossos passos e isso é o suficiente para o caminho. Ao homem que sofre Deus não doa um raciocínio que explica tudo, mas oferece a sua resposta na forma de uma presença que acompanha, de uma história de bem que se une a cada história de sofrimento, para abrir nessa uma passagem de luz.”

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2 reflexões antes de começar um relacionamento binacional | Valter Hugo Muniz

relacionamento binacional

Ontem, o post do escrevologoexisto.com “3 motivos para casar com estrangeiro” bateu todos os recordes relacionados ao número de visitantes e de visualização de um artigo. É bonito perceber o quanto o tema do casamento e a relação entre pessoas de países/culturas diferentes interessam a uma enorme quantidade de pessoas, não só do Brasil, mas de todo o mundo.  Porém, passado um dia, e estando mais consciente da grande repercussão do texto, pensei se, como casal, eu e minha esposa não acabamos simplificando uma relação que é muito complexa.

Dessa reflexão surgiram dois aspectos, importantíssimos, que precisam ser pensados antes de iniciar uma relação binacional. Saber o momento certo de começar, procurando não se deixar levar somente pelos impulsos sentimentais e usando o mínimo de razão, pode definir o futuro deste tipo de relacionamento.

littlefeelings (29)Tem hora certa para sofrer

Na nossa história – minha e com a minha esposa – muitas coisas aconteceram até que decidíssemos nos aventurar juntos, primeiro no namoro e agora no casamento.

Mesmo se de modo bem jovial, principalmente no quesito “maturidade”, nos conhecemos há quase dez anos. A amizade inicial transformou-se em paixão, na medida em que a partilha profunda das nossas vidas tornou-se cotidiana e com uma intensidade quase incontrolável.

Porém, mesmo apaixonados, éramos jovens demais, de países diferentes e não existia nenhuma possibilidade ou projeto concreto de um viver na nação do outro. Por isso, sem nos envolvermos – isto é, sem nenhuma manifestação física do sentimento – decidimos não alimentarmos mais o sentimento. Continuarmos sim, amigos, mas nada que excedesse a essa amizade.

Claro que, naquele momento, essa decisão foi, inicialmente, uma fonte inesgotável de lágrimas, ainda mais porque, na adolescência, as emoções estão mais afloradas. Por outro lado, temos a certeza de que, o sofrimento daquele momento, preservou os aspectos mais importantes do que sentíamos e cultivamos.  Assim, quando nos reencontramos, 5 anos depois, mais maduros e com possibilidades concretas de iniciar um relacionamento mais comprometido, as chances de sucesso eram bem mais reais.

56Mais a perder

Além de saber a hora certa de iniciar um relacionamento binacional, como mencionei em “A fundamental temporalidade dos relacionamentos à distância” é essencial que a distância entre dois amantes tenha um prazo determinado. O relacionamento sem um projeto comum, visando a proximidade física, está determinado a falir.

Contudo, como já desenvolvi o tema da distância nesse outro post, queria me concentrar aqui sobre a seriedade que envolve um relacionamento binacional.

Os aspectos positivos, apresentados pela minha esposa, para o sucesso de um casamento binacional, são verdadeiros e muito importantes. Contudo, pelo fato de, antes do casamento, não se ter uma vivência íntima cotidiana, que auxilia no conhecimento profundo e recíproco um do outro, no namoro, a distância geográfica tem um papel decisivo em um relacionamento binacional.

Mas no namoro não! Neste caso, a distância mal calculada pode gerar sérios ruídos na comunicação do casal, como a indiferença em relação às demandas do outro, além de  fatores que podem minar a harmonia de uma relação, impedindo que ela seja duradoura.

Esses dois aspectos não podem, de jeito algum, serem ignorados. Eles são o primeiro passo para se chegar ao Grande Sim, que também é outro “primeiro passo”, mas que iremos, aos poucos, partilhar com quem lê o escrevologoexisto. Aos poucos.

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A manipulação dos meios de comunicação de massa

comunicação de massa

Que a mídia, no geral, é um instrumento de manipulação das elites econômicas, isso qualquer “pseudo-marxista” de plantão afirmaria de olhos fechados. Em uma sociedade em que as dinâmicas sofrem cada vez mais influência dos meios de comunicação de massa, faz sentido o imenso interesse que os detentores do poder têm sobre esses meios.

Contudo, independentemente do seu uso, a comunicação é um instrumento que, na sua ontologia, leva, indiscriminadamente, à partilha, mesmo se não de maneira plenamente gratuita e integral. Em defesa da comunicação de massa e da sua vinculação com a ideia de progresso, o comunicólogo francês Dominique Wolton, recorda o quanto ela “contribuiu par expandir os quadros da sociedade, para democratizar os gostos, os comportamentos, os julgamentos e, de certo modo, para relativizar o domínio das elites sobre a sociedade”.

Wolton não afirma, de jeito algum, que este domínio das elites tenha acabado (mesmo considerando uma diminuição perceptível em relação ao passado não tão distante). Para ele, as elites são hoje mais numerosas e heterogêneas e mídia desempenhou um importante papel de democratização. “De um modo geral”, afirma Wolton, as elites “nunca defenderam muito a democracia de massa”.

manipulacao051Em uma geração as elites se converteram à comunicação de massa para, ás vezes sem pudor, usar a mídia em prol se seus interesses, mas sem jamais questionar a sua essência. Para essas elites, explica Wolton, “a comunicação é ruim, perigosa, discutível, mas vamos usá-la em nosso beneficio”. Porém, essa instrumentalização da comunicação acabou reforçando a ideia de que ela se reduz à transmissão de informação, em que o espectador simplesmente aceita o que lhe é transmitido.

Na contramão do conceito de comunicação de massa, reforçados pelas elites, está o fato de que, mesmo que manipulada, selecionada, condicionada, essa, e qualquer outro tipo de comunicação, transforma. Principalmente por conta do processo de interpretação, que age no processo comunicacional de forma independente, estando profundamente vinculado àqueles que recebem uma informação.

Essa explosão das relações fundadas em um contexto de comunicação de massa tornou, inevitavelmente, a sociedade, hoje, culturalmente mais aberta. O grande desafio que emerge, neste cenário, parece levar a comunicação de massa (como instrumento social) a percorrer um novo caminho, que não se limite à expansão da transmissão de informação, nem se baseie exclusivamente na interpretação da mesma, mas reencontre os sujeitos comunicacionais que fazem uso desse instrumento, para, com eles, redescobrir o fator comum, centrípeto, que os faz, essencialmente iguais e, ao mesmo tempo, profundamente diferentes.

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Brasil: terra dos sem consciência | Valter Hugo Muniz

sem consciência

O Brasil é a terra dos sem consciência. Isto é fato. Não temos consciência cidadã, consciência do bem comum (ou bem público), consciência ambiental, consciência em relação ao que é vida, saúde, educação. Não temos consciência nem mesmo da nossa história e pouco nos importamos com isso tudo, pois o que vale é o nosso bem estar individual.

Deveríamos não somente ter um “Dia da Consciência Negra”, mas o “Dia da consciência do ser humano”, em que, todos nós, pararíamos parar refletir quem é o ser humano na sociedade brasileira; quais direitos ele deveria ter? quais deveres? Assim, chegando a uma ou a um leque de respostas, procuraríamos aplicar o modelo estabelecido às diferentes classes ou “minorias”(?) presentes na sociedade: mulheres, pobres, negros, índios, imigrantes. Não o cidadão da classe média, que tem carro, casa própria, desfruta do ensino e da saúde privada. Não! Esse aí, temos consciência de que está bem de vida (???).

blogMuito pelo contrário, por mais que temos hoje mais gente na tal “classe média”, nossos índices de desigualdade social ainda são de envergonhar qualquer brasileiro ufanista. Somos completamente primitivos no que diz respeito à luta por uma igualdade de direitos (e não estou falando uniformidade dos papéis sociais). Isso conserva a sociedade corrupta e violenta, o que é ruim para todos nós.

Quem estuda um pouco de história pode entender que existem grupos de indivíduos que foram sistematicamente marginalizados e, por isso, hoje, são visivelmente excluídos da sociedade. A culpa é minha? Não. É sua? Claro que não. Mas, cabe a mim, a nós, como sociedade, pagar as contas pelos erros de nossos ancestrais, para equalizar a situação social do país.

E aqui, um aceno importante para o dia de amanhã, o da Consciência Negra. Você, cidadão médio brasileiro, pegue o seu carro zero (se tiver coragem) e vá às periferias para ver o percentual de cidadãos afrodescendentes que vivem por lá. Depois, para encontrar um contrapeso, entre nas principais universidades do país, públicas e privadas, e conte nos dedos a quantidade dos mesmos “filhos de africanos” que estão por lá, também na direção das grandes empresas, nos altos cargos públicos. Será que os negros são realmente “geneticamente” inferiores para terem participação tão irrelevante nesses setores da sociedade, como acreditava o Führer alemão? Tenho bons exemplos que negam veementemente essa questão.

blog_1338074021As mulheres, ao menos em aparência, parecem ter conquistado um protagonismo social que a sociedade machista lhes negou por séculos. Temos consciência de que hoje, por questões de gênero, nenhum ser humano pode ser impedido de ascender profissionalmente.  É fundamental que a consciência, em relação a essas diferenças, seja ampliada aos negros e, especialmente, aos índios.

Ser consciente das nossas diferenças históricas nos ajuda a valorizar as nossas potencialidades e nos esforçar para que todos, em solo tupiniquim, tenham o direito a se desenvolver para ter uma vida digna e rica, como são as nossas terras e a nossa diversidade racial.

Apadrinhar casamentos: um convite para pensar sobre a própria família | Valter Hugo Muniz

Apadrinhar casamentos

Nas últimas semanas recebi o bonito convite para, com a minha esposa, apadrinhar casamentos de dois casais de amgios. É maravilhoso ver as pessoas com quem eu cresci junto, realizando o sonho de fundar uma família, com todas as formalidades importantes, porque elas tornam a união de duas pessoas que se amam, um evento verdadeiramente comunitário.

Isso, contudo, me fez pensar na seriedade deste que os cristãos chamam (mesmo às vezes sem viver) de sacramento. Um casal que eu apadrinhei, infelizmente, hoje não existe mais. Outro vive uma situação complicada, que parece caminhar rumo ao fim. Diante disso, comecei a ficar mais receoso em aceitar esse tipo de convite.

Este ano, descobri que o apadrinhamento é uma responsabilidade grande, não só perante a família que inicia, mas diante de Deus. Assim, disse a um desses casais que eu aceitava somente se eles nos deixassem (eu e minha esposa) livres para “dar pitaco” na família deles, sobretudo quando estiverem vivendo momentos complicados entre eles.  Ser padrinho é realmente o convite a estabelecer um vinculo verdadeiro com seus afilhados, mesmo que, devido à distância geográfica, limite-se à dimensão espiritual. Se não for desta maneira, não tem sentido. Ser padrinho se transforma em um formalismo estúpido e carnavalesco.

A realidade das famílias binacionais

header_bra_suiEste mesmo casal a quem discursei meu “atestado de intromissão”, vive uma realidade parecida com a minha e da minha esposa: a dos casamentos binacionais. Se casar já é uma grande novidade na vida de dois indivíduos, casamento entre pessoas de continentes diferentes é uma dupla-aventura.

Nesse – quase – um ano como família “suíça-brasileira”, eu e minha esposa pudemos experimentar – na pele – o quanto as diferenças culturais influenciam as atitudes e incidem diretamente no cotidiano da vida em família. Parece algo banal e às vezes até passa despercebido, mas nos momentos de dificuldade, a diversidade de alguns valores pode ser motivo de conflito. Claro que isso acontece também entre casais do mesmo país, mas acredito que aqueles formados por pessoas de países diferentes vivem essa experiência de maneira potencializada.

Por exemplo, independente onde ela se instale, fatalmente, um ou ambos os conjugues de famílias binacionais deve abdicar da própria língua, da comida, da família natural e dos amigos, algo que está ligado à essência de cada individuo. Parece-me fundamental considerar com maturidade e “respeito” esse aspecto.

Por outro lado, existe a riqueza infinita no relacionamento entre pessoas de culturas diferentes, que vão, aos poucos, se misturando, criando uma nova cultura, híbrida, capaz de aproveitar o bom e descartar o ruim das culturas de origem. Aumenta-se o background cultural, o conhecimento das línguas, os gostos gastronômicos, o mundo fica muito maior.

Não posso discursar demasiadamente sendo parte de uma família “embrionária”, com pouquíssimo tempo e experiências, mas me sinto feliz demais por fazer parte de uma família binacional. Ela me impulsiona a viver o casamento com uma seriedade capaz de superar os ruídos de comunicação – verbal ou não.

É fantástico perceber também que temos construído, com outros casais binacionais, um vínculo bonito, de ajuda e partilha mútua para, juntos, superarmos todos os possíveis obstáculos que envolvem essa palavrinha simples, mais cheia de significados, chamada cultura.

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