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Valter Hugo Muniz - Formado em Comunicação Social com ênfase em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de SP (PUC-SP) em 2009, concluiu em 2012 a “laurea magistrale” em Ciências Políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália. Com experiência em agências de comunicação, multinacionais, editoras e televisão é, atualmente, consultor de comunicação na ONG Arigatou International, em Genebra, Suíça. Com vivência de mais de cinco anos na Europa (Itália e Suíça), participou de trabalhos voluntários em São Paulo e na Indonésia pós Tsunami (2005), além de uma breve estadia na Costa do Marfim (2014). É fundador do escrevoLogoexisto.

Renascer com o Natal

Renascer

Natal. Há tempos pouco se fala do célebre aniversariante. Prefere-se promover o laicismo ideológico em vez de valores religiosos “questionáveis”, ao menos na prática.

Assim, em vez de “perder tempo” com as mensagens moralistas, aproveitamos o período de festas para estar com os amigos, em família, para cantar, dançar, comer bem, descansar e divertir-se.

O mais interessante dos comportamentos “anti-Natal” é que nenhum deles consegue, de fato, fugir da áurea natalina que se estabelece. Tudo isso porque a grande mensagem deste dia não é, como muitos pensam, a realização de algum tipo de profecia religiosa salvadora ou a transformação escatológica do mundo.

Se o nascimento do “tal Jesus” não conseguiu transformar radicalmente nem o mundo que conviveu historicamente com ele, porque acreditar que Natal é sinônimo de salvação?

Natal é renascer

Não! Natal é, sobretudo, tempo de renascer; de estar com aqueles que amamos, mesmo se a proximidade seja “de espírito”, pois, ás vezes, as situações nos distanciam sem, jamais, nos afastar; é oportunidade de “conversão”; de repensar nossas atitudes, mensurar as consequências das escolhas que fizemos durante o ano e se perguntar se elas nos levaram ao melhor caminho, rumo a desejada felicidade.

Mesmo um não cristão, abrindo-se ao espirito que emana do menino recém-nascido, pode descobrir a universalidade da sua mensagem. O Deus dos cristãos não escolheu um berço de ouro para si, nem abriu mão de “encarnar-se” fora de uma família. Simplicidade e vida comunitária são dois pilares da mensagem natalina.

Durante o ano, tantas vezes, preocupados em conquistar nossas ambições materiais, acabamos nos isolando daqueles que amamos. Sozinhos, sem alguém com quem compartilhar as nossas conquistas, elas perdem o sentido.

Por isso, Natal tem tudo a ver com a família e amigos! Pois é com eles que, principalmente, partilhamos dores e alegrias, sucessos e fracassos. Desta forma crescemos, tornando-nos pessoas melhores, para nós mesmos e para os outros.

Repensar a própria vida nos faz perceber que somos seres-relação e encontramos no amor ao outro, espelhado no testemunho do menino-Deus, o significado da nossa existência, da nossa felicidade.

Reis à procura do Rei

Reis

Ao amanhecer do primo dia de dezembro, depois de semanas de preparativos, Melquior, rei dos Persas, partiu em direção da estrela-guia levando ouro, sua oferenda destinada ao Rei dos reis. Depois de uma longa jornada, encontrou seu irmão Gaspar, Rei das Índias, que trouxera consigo incenso, oferenda digna de divindade , para presentear o recém nascido. Não muito longe dali, Baltazar viera a se juntar com os outros reis magos, trazendo a mirra.

Após algumas semanas de caminhada chegaram a Belém, na Judeia, local aonde as Escrituras haviam mencionado que nasceria o Rei dos reis. Caminharam pelas ruas da cidadezinha até, finalmente, avistarem um pequeno estábulo, escuro e frio, sob a estrela-guia. Seus corações pareciam querer explodir de ansiedade. Aproximaram-se lentamente, até que foram surpreendidos por uma voz forte e levemente rouca:

_ Hou! Hou! Hou! Feliz Natal! Entrem! Entrem!

Confusos eles não entendiam a presença do autor da saudação. Todos esperavam o choro de um bebê, mas, em vez disso, estavam diante de um velho barbudo, acima do peso, segurando uma garrafa cheia do que parecia ser uma bebida gasosa escura.

Após os minutos iniciais de acanhamento e dúvida os reis, em um consenso gestual, ajoelharam-se e tiraram de suas bolsas o ouro, o incenso e a mirra, oferecendo-os para o velho barbudo, como sinal de respeito e admiração, enquanto ele assistia à cena com olhar de surpresa. Quando os três reis magos concluíram à oferenda solene, o velho disse a eles:

_ Meus filhos, eu não preciso de nada disso! Com o dinheiro da publicidade pela venda dos produtos atrelados à minha imagem, eu posso comprar o mundo inteiro.

Espantados com o que acabaram de ouvir, os reis magos não sabiam o que fazer. As oferendas simbolizavam a ação de graças por Àquele que deveria nascer, mas a presença daquele velho em Seu lugar era um claro sinal de mudança nos desígnios traçados para a humanidade.

Porém, quando os três irmãos conseguiram se acalmar, perceberam um respirar abafado coberto pelas sombras que o velho barbudo produzia. Aproximaram-se e viram que, na penumbra, estava uma jovem e seu marido, segurando uma criança no colo. Seus olhos se encheram de lágrimas, pois eles haviam finalmente encontrado Àquele que estavam procurando.

O Salvador, mesmo escondido, marginalizado, estava lá, nos braços de sua mãe. A alegria da descoberta contagiou os reis magos e o fez entenderem que para encontrar o menino-Deus é preciso, muitas vezes ir além da sombra do Papai Noel e seus presentes.

Bodas de papel: a importância de uma família voltada para os outros

Bodas de papel

Estamos na semana em que eu e minha esposa iremos comemorar um ano de casados. Mas, eu me pergunto, o que as nossas bodas de papel têm a ver com um texto de blog? Qual a importância de um evento familiar para pessoas que irão ler esse post e, possivelmente,  nem nos conhecem?

Vivemos em uma sociedade em que a vida pública e privada se confundem, principalmente pelo fato de que os contextos de socialização ganharam, com o universo virtual, uma amplitude particular. Claro que isso não tira das famílias –  e, principalmente, dos pais – a responsabilidade de saber dosar o virtual e o real, como diria a cara Mariana Assis.

Um dos maiores protagonistas da exposição da vida familiar contemporânea é o famoso Facebook. Dentro desta rede social nos “mostramos” de uma maneira nova. Compartilhamos nossas experiências em um ambiente que acreditamos, muitas vezes, privado, sem saber, contudo, que as informações têm uma difusão difícil de controlar.

Privacidade, partilha e promoção de valores

Bodas de papelOlhando a questão da privacidade, no interior das redes sociais, deve-se, de certa forma, temer, ou melhor, agir com prudência quando postamos alguma coisa. Existem sim pessoas mal intencionadas que podem fazer mau uso das informações que colocamos na internet. Por isso, é importante ter consciência e conhecimento para não se prejudicar ou prejudicar a própria família. Não vou explorar esse argumento, para expor um outro “lado” das redes sociais.

Um importante aspecto que as pessoas acabam esquecendo, às vezes por temor ou até por egoísmo, é que a família também é constituída por uma dimensão comunitária. Isto é, necessita partilhar as experiências com pessoas próximas ou mesmo àquelas que se afastaram de alguma forma, para prosperar, crescer, superar os momentos de dificuldade que atingem qualquer relacionamento. As redes sociais podem sim ser um meio de partilha profunda, que ajuda a manter o contato com pessoas que, por diversos motivos, estão fisicamente longe.

Outro aspecto bonito da “vida pública” familiar nas redes sociais é a possibilidade de, por meio de um testemunho positivo, promover valores em escala exponencial. A internet é e será sempre uma ferramenta que pode ser usada, tanto para rebaixar o ser humano e a família, como para promovê-los, ressaltando a rica complexidade e a capacidade de difundir o bem comum. Depende muito do modo como nós a usamos.

Um ano de aventura comunitária

Dessa forma, vale sempre (com prudência e tomando cuidado em não expor a família de maneira negativa) usar todos os meios, inclusive os virtuais, para mostrar a beleza das dinâmicas familiares.

Junto com a minha esposa, estamos descobrindo, aos poucos, como testemunhar “ao mundo” o amor que acreditamos. Um amor que é bonito porque vivido com tantos amigos queridos, famílias maravilhosas e pessoas que, mesmo longe, nos ajudam a não perder o foco e a nossa essência; ajudam-nos a lembrar de que existe uma “missão” para cada família dentro da sociedade em que vivemos.

As nossas bodas de papel

Bodas de papelTenho que dizer, de coração, que o primeiro ano de casado superou as minhas expectativas. Claro que, quando pensei que estaria ao lado da pessoa que mais amo, 24 horas por dia, já imaginava o quanto 2013 seria bom, mas a felicidade não pode ser mensurada.

A vida juntos é uma aventura incrível. No nosso caso, enriquecida pelas diferenças continentais, é ainda mais uma descoberta contínua, um exercício de compaixão, de comunicação, respeito e principalmente um esforço cotidiano para vivermos voltados, cada um, para a felicidade do outro.

Ao completar um ano de casado, segundo a crença popular, comemoram-se as bodas de papel. No advento de completar essas bodas, posso afirmar, que no nosso caso, não é um simples papel, mas um lindo origami.

Leis justas não esquecem os seres humanos

Leis

Uma das lições mais bonitas, em relação aos sistemas políticos, que recebi durante a laurea magistrale no Instituto Sophia, na Itália, é que, tanto as estruturas, como as regras que constituem um sistema democrático, têm como finalidade suprema servir o ser humano.

O Legislativo cria leis para proteger o bem comum e a convivência das diferenças. O Executivo “executa” a prática dessas leis e o Judiciário, as protege, julgando os desvios de conduta em relação às mesmas. Contudo, esse sistema regrado é gerenciado por seres humanos. As leis não estão acima dos indivíduos e, por isso, os desvios devem ser interpretados, mensurados e julgados a partir do todo, levando em conta o quanto eles prejudicam o bem comum e a convivência das diferenças.

Infelizmente, o que aconteceu ontem no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), com a decisão da perda de pontos e o consequente rebaixamento da Portuguesa, foi um equívoco “técnico” que se repete nas mais variadas instâncias do Judiciário brasileiro.

Pessoas ou robôs aplicando as leis?

LeisMuitos diziam que uma decisão contrária, que não penitenciasse à Portuguesa, acabaria abrindo precedentes perigosos. É verdade. Não acho que a punição para o time paulista seja questionável, pois o erro existiu, ferindo o regulamento. O que faltou, porém, foi o exercício de uma capacidade que nos faz seres humanos, permitindo-nos interpretar e mensurar um fato aplicado às leis vigentes, considerando o seu contexto. Resumindo: faltou bom senso.

Não sejamos hipócritas: o futebol não é um esporte racional. Se o fosse, em vez de um árbitro e dois bandeirinhas, que constantemente erram, interferindo diretamente no resultados dos jogos, teríamos câmeras e robôs espalhados pelo campo.  A presença humana de um árbitro, capaz de interpretar, permite que as decisões sejam tomadas, possivelmente, de maneira mais justa (não sei se um robô, por exemplo, poderia saber quando um jogador simula).

Claro que, por outro lado, a presença humana nos campos de futebol aumenta a possibilidades de desvios, manipulações por gratificações econômicas, entre outras coisas. Mas, mesmo diante desses riscos, tenho minhas dúvidas se seria melhor robôs, em vez de pessoas, arbitrando.

Punição merecida, mas desmedida

LeisBom, se dentro do campo (ainda) não temos robôs, fora dele, no Judiciário também não.  E, em minha opinião, a lógica aplicada é a mesma. Os seres humanos (e suas ações) transcendem às leis, por isso, um juiz, suportado por uma ampla quantidade de regras úteis e racionais, para tomar uma decisão justa, precisa desenvolver a capacidade de interpretá-las, tendo em vista os princípios e a finalidade que geraram as mesmas, especialmente, o bem comum.

No caso da Portuguesa é evidente que, se se tratasse de um time de maior força política, as decisões seriam tomadas de maneira diferente. O fato é que, olhando o erro cometido, – a escalação de um jogador em situação irregular, nos últimos 15 minutos, na ultima rodada do campeonato e em um jogo sem maiores consequências para os outros times – não se pode dizer que foi uma falta grave. Punir à Portuguesa com o rebaixamento é, como disse o Juka Kfouri, “condenar à prisão perpétua um ladrão de pães”.

Reitero que o erro existiu e a Portuguesa deve sim ser punida. Só penso que deveriam ser “guardadas as devidas proporções” do seu desvio de conduta, e ela fosse punida com a perda de mandos de campo no próximo ano ou o pagamento de uma multa.

No entanto, rebaixar o time paulista é castigar, sem perceber que a punição desmedida (e como ela ressoou no mundo futebolístico) não conduz ao bem comum. A medida do STJD coloca o futebol como um esporte onde são as regras que norteiam o espetáculo, o que acaba, indiretamente, abrindo precedentes para o aumento da sua burocratização, que tira a atenção dos gramados espalhados pelo país, entregando-a aos tribunais.

Ideologia técnica: superá-la por uma verdadeira comunicação

Ideologia técnica

A revolução da internet, exaltada nos anos 90, promoveu a ilusão de que o “universo” virtual iria gerar um novo homem, mais informado e, por isso, consciente da dimensão global da sociedade e da ampla possibilidade de relações sociais. Tudo por meio da técnica.

Essa ideologia técnica, infelizmente, ainda não morreu. Segundo o comunicólogo francês, Dominique Wolton, ela ainda nos faz acreditar “que são os limites da técnica que impedem as mutações sociais e politicas”. Essa espécie de “esoterismo” também ajuda a confundir a comunicação, com a performance das maquinas; a abundância de informação com a intersubjetividade. Segundo Wolton, essa visão é tão “ingênua ou demagógica quanto denegrir a comunicação como processo de intercompreensão, reduzindo-a, ao mesmo tempo, a um simples processo de transmissão unilateral”.

O ser humano por trás da comunicação

Ideologia técnicaComo acenei, nos parágrafos anteriores, a comunicação não se resume a uma técnica. Não se pode negar a importância humana que existe no interior do processo comunicacional, com o risco de descartar sua ontologia relacional e de partilha.

“Expressão e interação, por mais necessárias e uteis que sejam, não são sinônimos de comunicação. Na realidade, quanto mais facilidade técnica houver, mas é preciso lançar uma reflexão especifica sobre o estatuto da recepção”, explica Wolton ressaltando a essência do outro, dentro do processo comunicacional, que vai de encontro com à ideologia técnica que se concentra na transmissão, em vez da relação.

É importante perceber que, quanto mais performático, mais eficaz for o progresso técnico, mais é preciso lembrar que transmitir informações, com rapidez e enorme quantidade, não é comunicar. “Na ponta das redes, há homens, sociedades, culturas, línguas, civilizações. Não computadores…” afirma Wolton.

Além da ideologia técnica

Traçar um caminho que vai na contramão da ideologia técnica é perceber, como premissa, que a sociedade da informação, em que estamos inseridos, não é sinônimo de sociedade da comunicação.

“O progresso técnico permite produzir e distribuir uma grande quantidade de informações. No entanto, isso é comunicação?”, questiona Wolton.

Ao contrário do que se possa crer, o aumento da informação, chegando às dimensões “de massa” não reduz a enorme diferença entre as opiniões. Quanto mais informações, mais opiniões, imaginários e rumores em relações a elas. Em outras palavras, a informação não é instrumento de encontro, mas de ampliação das diferenças, que, em um certo momento, precisam ser negociadas pela comunicação verdadeira.

A evolução da relação entre informação e comunicação

Ideologia técnicaSegundo Wolton, podemos distinguir três etapas nas relações entre informação e comunicação:

  • A primeira é aquela em que surge a “informação nova”, ligada ao acontecimento e à democracia, devendo ser pública, pois diz respeito a todo mundo. Era a informação normativa, porque instrumento de partilha “democrática”, mesmo que, no mundo aristotélico, limita aos membros da elite;
  • Na segunda etapa, há a revolução das novas tecnologias, em que o fluxo da informação invade tudo, misturando o sentido normativo e o funcional;
  • A terceira etapa, aquela que nos encontramos, é a do surgimento das condições necessárias para resgatar e preservar a dimensão normativa da comunicação. Deixam-se a técnica e a economia para reencontrar os valores, a sociedade e, também, os conflitos. Deixa-se a fascinação suscitada pelo volume, pela velocidade e pela transmissão das informações, para encontrar a questão do sentido.

Enfrentar a ideologia da técnica é uma missão das sociedades contemporâneas, imersas em suas crises de identidade e que devem encontrar, fundamentalmente, nos valores comuns, a possibilidade de estabelecer uma comunicação verdadeira, que seja partilha das diferenças essenciais, a partir de um respeito recíproco, e instrumento capaz de negociar interesses e visões de mundo particulares.

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