Author: Valter Hugo Muniz Page 31 of 240

Valter Hugo Muniz - Formado em Comunicação Social com ênfase em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de SP (PUC-SP) em 2009, concluiu em 2012 a “laurea magistrale” em Ciências Políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália. Com experiência em agências de comunicação, multinacionais, editoras e televisão é, atualmente, consultor de comunicação na ONG Arigatou International, em Genebra, Suíça. Com vivência de mais de cinco anos na Europa (Itália e Suíça), participou de trabalhos voluntários em São Paulo e na Indonésia pós Tsunami (2005), além de uma breve estadia na Costa do Marfim (2014). É fundador do escrevoLogoexisto.

Beijo

 Beijo

Esperei-te tanto para dar-Te este beijo.

Dia após dia pensando em Ti,

procurando entender em mim

os ecos interiores do Teu grito.

Passam-se os anos e ainda estou a amar-Te loucamente.

A beijar-Te entre lágrimas.

Um amor, porém, renovado, partilhado no amar o Outro.

E hoje, beijando-Te renovo esse “absolut’amor” por Ti.

Mortificado pelas minhas crucificações ,

a inesperada dor.

Com meu beijo quero dizer que Te amo.

Consciente que as lágrimas de hoje,

Serão, inevitavelmente, sorrisos pascais.

 

Sobre o beijo na cruz

BeijoPara os cristãos, a Sexta-feira Santa é o dia do beijo na cruz. Não é um beijo de adoração masoquista pela dor de um homem. Para mim, o beijo na cruz é, antes de tudo, o compadecimento pelo sacrifício do Filho de Deus, que deu a sua vida para que encontrássemos um significado eterno para a Felicidade.

Contrariamente ao que a maioria pensa, a morte de Jesus não estava predestinada. Ela é, na verdade, um “improviso artístico do Criador” que, na sua mais importante lição, nos fez entender que o mal, a dor, até mesmo a Morte, nunca poderão superar a potência transformadora do Amor.

O beijo é dado entre lágrimas, pela tristeza da nossa humanidade pecadora, mas coberto de uma esperança, fruto do Amor divino, que não olha nossas falhas, mas perdoa e nos dá SEMPRE a possibilidade de recomeçar.

Santo e homem. João Paulo II nos relatos de um homem comum

Na nossa vida, inúmeras pessoas passam, mas só algumas, mesmo sem um contato constante, permanecem presentes. Entre essas, pode acontecer também de alguma nem estar mais “neste mundo”, mas continuar viva dentro de nós, promovendo um sentimento interior difícil de explicar por meio da razão instrumental. Pois bem, na minha vida, e na vida da minha família, o falecido (e futuro santo) Karol Wojtyła é uma dessas presenças formidáveis que sempre nos acompanhou em momentos chaves.

Foi graças à visita do então Papa João Paulo II que eu pude conhecer aquela que se tornaria minha futura esposa. Foi também no seu funeral, em 2005, em Roma, que nos reencontramos depois de muito tempo distanciados e decidimos, juntos, reatar a amizade, que após muitos anos nos levou ao casamento.

Santos ou ídolos?

Santo e HomemPara quem não é católico será sempre complicado entender o significado da palavra “santo”. Na “mística popular” ela é constantemente relacionada a uma perfeição idealista ou, de maneira simplificada, alguém que está sempre seguindo com extrema retidão suas obrigações morais/religiosas.

Porém, a santidade cristã pouco tem a ver com uma perfeição romântica. Os santos são pecadores comuns que, durante a vida, praticaram inúmeros erros e acertos, como qualquer outra pessoa, mas que, aceitando a própria humanidade falha, foram além, transformando-se em um testemunho marcante, considerado exemplo para os outros cristãos.

Santo e homem

Justamente devido a minha admiração pessoal e pela presença de Wojtyła na história da minha família decidi, como primeiro livro de 2014, debruçar-me em “Santo e Homem”, livro que conta o relacionamento do Papa João Paulo II, com Lino Zani, um homem comum, instrutor de esqui nas montanhas do norte da Itália.

Santo e HomemA beleza do livro, para mim, não está nos relatos “místicos” das suas últimas páginas, que tentam justificar/relacionar os segredos de Fátima, com a vida do papa polaco. Na verdade, o que mais me tocou foram os relatos da simplicidade e da humanidade de Wojtyła. Apaixonado pelas montanhas, segundo os relatos de Zani, ele parecia encontrar especialmente nelas o Transcendente que exprime a grandeza do seu Deus.

Um ser humano excepcional que vale a pena ser conhecido, independentemente da sua profissão de Fé. E “Santo e Homem” é uma boa leitura para descobrir um pouco do homem por trás do famoso Papa.

(Caso alguém tenha o desejo de adquirir o livro, vi que ele está disponível no site da editora Algol)

Na Suíça, sou suíço? Os primeiros passos de uma jornada de inculturação

Suíça

Desde o dia 1º de abril quando deixei, com minha esposa, as terras africanas, voltei a ser “cidadão europeu”, morando na Suíça. Mesmo já tendo vivido alguns anos no Velho Continente, não é a mesma coisa aterrissar por aqui com a família.

Vida na Suíça

SuíçaNunca sonhei em viver na Europa, não só porque sempre estive bem no Brasil, principalmente na minha São Paulo, mas porque desenvolvi sérias críticas em relação aos valores que moldam o estilo de vida dos habitantes desse continente.

Mas… quis Deus (e eu, claro) que eu me casasse com uma cidadã europeia, mesmo considerando-a muito diferente da maioria dos seus conterrâneos. Depois de um pouco mais de um ano vivendo juntos no Brasil, por motivos familiares e profissionais, decidimos passar um tempo aqui, na Suíça.

Chegar aqui, principalmente no pós África, é se deparar com um mundo completamente diferente do que 99% das pessoas estão acostumadas. A Suíça é, sem sombra de dúvidas, o país mais rico (não em PIB, mas em bem estar social) e melhor organizado que conheci. Mas, e aí? Isso basta para ser feliz aqui? Não! Não basta!

Vida no Brasil

SuíçaDesde que decidimos juntos deixar o Brasil, país repleto de limites organizacionais, impermeado de uma corrupção que assola a maioria da população, senti um certo medo (que ainda não se dissipou). Principalmente porque experimentei as diferenças, já sabia o que me aguardava dessas partes do Atlântico.

O Brasil é um país dos relacionamentos. Podem duvidar, criticar, questionar essa afirmação, mas ela é feita em comparação com outros países que conheci. Não são as estruturas, a burocracia, a corrupção que fazem dele “abençoado por Deus”, mas a alegria, a coragem de lutar e as esperança que cada brasileiro carrega dentro de si.

Valores comunitários porque compartilhados

Uma das “encarnações de conceito” mais importante que trouxe comigo da África é que um povo nada mais é que um coletivo de indivíduos, unidos em torno a valores compartilhados.

Na Suíça existe, acima de tudo, o respeito. Respeito pelo bem público, pelo bem privado, que preserva as coisas e pessoas. Mas, da mesma forma que o respeito é um grande valor, muitas vezes ele pode servir de obstáculo para a construção de relacionamentos.

Para “não atrapalhar”, parece que “culturalmente” as pessoas “daqui” permanecem distantes, não oferecem ajuda, raramente são espontâneas. Isso parece inibir grande partes dos relacionamentos, que se limitam a uma cordialidade e simpatia constantes, mas sem tocar profundamente, sem amor e sem ferida. O Outro permanece lá, no seu espaço privado, com seus direitos e deveres, mas o próximo, o necessitado (não só materialmente) passa despercebido.

O desafio da inculturação

Essa visão, talvez preconceituosa, a respeito da cultura europeia, como um todo, é que eu desejo amadurecer por aqui, nos próximos anos. Percebi que a África tem muito a ensinar ao mundo, sobretudo no que diz respeito a uma vida comunitária. Algumas lições que aprendemos lá, desejamos promover aqui, a partir do nosso testemunho como família.

É um grande desafio a tal da inculturação porque somos frutos de “algo” que edifica nossos esquemas psicológicos. É sempre uma visão “de fora” e por mais que queira, nunca serei essencialmente suíço. Mas, isso não quer dizer que não amarei essa minha segunda pátria, com o mesmo ardor e amor que tenho pelo Brasil. Para tudo é fundamental ter paciência, porque leva tempo e eu, como aprendi em Man, farei uso do “tempo africano”.

Brasileiro, europeu e, agora, africano | Valter Hugo Muniz

africano
Começou a fase final da nossa experiência na África. Daqui há duas semanas pegaremos o avião rumo à Europa, deixando para trás um pouco de nós, do nosso “ser” africano, edificado nesse continente tão especial.
Ainda não é a hora de sínteses, mas certamente deixar Man, a Costa do Marfim, a África será a parte mais difícil da nossa viagem.
Aqui conhecemos um estilo de vida bem diferente do nosso, mas extremamente rico de relações e valores.

No Brasil, sou brasileiro

Conviver com diferenças é algo que já experimentei, diversas vezes, vivendo em uma cidade multicultural como São Paulo. Pessoas de classes sociais, culturas, raízes diferentes fazem da minha cidade um paraíso, para quem sabe apreciar o valor das diferenças.
Aqui em Man sinto-me privilegiado de novamente estar em contato com um “outro” tão diferente de mim. Nas semanas vividas aqui, procurei mostrar um pouco daquilo que descobri deste povo, ressaltando, sim, o positivo, mas tentando preservar um olhar crítico sobre os dilemas sociais que assolam essa cidadezinha a oeste da Costa do Marfim.
Como brasileiro, sinto-me um pouco mais africano. Estamos muito mais próximos culturalmente da África do que pode parecer, sobretudo quando se têm raízes familiares no nordeste brasileiro. Porém, precisamos estar mais abertos para abraçar essas semelhanças, culturais, religiosas…
O preconceito de cor ainda é uma triste realidade no Brasil. Mas porque todos ficam tão encantados ao ver o sorriso e o brilho no olhar de uma criança africana?

Na Europa, sou europeu

1658411_431167633680915_1223431505_oVivi bastante tempo na Europa e percebo, de maneira geral, um sentimento de superioridade cultural que sobrevive até os dias de hoje.
Essa mentalidade colonizadora reproduz preconceitos e impressões falaciosas do comportamento africano. Um exemplo: quando alguém está falando algo importante para um africano, é comum que eles abaixem a cabeça, como sinal de que estão escutando respeitosamente aquilo que está sendo dito. Porém, para muito europeus, isso significa (ou significou) uma submissão natural.
Acredito que o mal que a Europa fez no continente africano não poderá jamais ser reparado. A exploração colonizadora remodelou a sociedade africana de um modo em que não é possível voltar atrás.
Por outro lado, não serve mais culpar os brancos . É preciso trabalhar para construir uma “nova” África, a partir daquilo que se tem hoje.
Nelson Mandela e a sua mensagem de perdão são, sem dúvidas, os maiores instrumentos que os africanos têm hoje para levar esse maravilhoso continente ao protagonismo fundamental que ele precisa exercer no mundo.
Atualmente, muitas organizações européias, religiosas ou não, têm contribuído positivamente para a recuperação da dignidade humana na África. Deve-se, certamente, encontrar o equilíbrio necessário para que, acima de tudo, o desenvolvimento dos africanos seja edificado por eles.

Na África, sou africano

Essa é talvez a melhor descoberta que fiz aqui. Para estar na África, inculturar-se é fundamental ser africano. Isso inclui: comer com a mão, dançar, cantar, sorrir, lutar, mas, acima de tudo, é um viver a vida de maneira comunitária, sabendo que o indivíduo aqui é, enquanto parte de uma comunidade.
Ser africano, para mim, é ter um coração imenso e muitos músculos para caminhar longas distâncias, trabalhar. É viver uma vida difícil, mas digna e por isso, verdadeira.
Conversando com alguns médicos que vivem na África há dezenas de anos, soube que aqui a depressão praticamente não existe, como também os casos de suicídio. Estando nessas terras, entendo perfeitamente o motivo: Ninguém perde muito tempo consigo mesmo.
É o individualismo ocidental o grande motor das doenças psicológicas. Viver desprendidos das nossas raízes nos torna fracos. Viver em comunidade nos faz fortes.
A grande lição que levo da África para minha vida é que a felicidade está no viver junto, buscando partilhar cada coisa, “perder tempo com o outro” como estilo de vida.
Para conhecer o projeto “Juntos rumo à Africa”  CLIQUE AQUI

Um mês saboreando um pouco da cultura africana da Costa do Marfim

Costa do Marfim

Já estamos – eu e a minha esposa – há mais de um mês na África, sendo que a “nossa África” é um belo pais tropical do oeste do continente: a Costa do Marfim.
Neste primeiro mês, mergulhamos na cultura marfinense e vivemos cada dia com uma intensidade assustadora. Só agora sinto possuir alguns instrumentos que me ajudam a transformar preconceitos em constatações.
Claro que, mesmo assim, o tempo que passamos aqui é ainda muito reduzido para sínteses com “propriedade”. Mas, acredito que, quando os conceitos são baseados em relações, importa menos o passar de horas do tempo cronológico e mais a forma como se entra em sintonia com “o outro”.

Entre meias verdades

Os marfinenses são submissos aos “brancos”?
A África é o continente da acolhida?
Os conflitos existentes no continente africano são todos consequência da exploração colonial?

Conversando com um senhor africano sobre a situação atual da África em geral, pude perceber que, como no Brasil (e na América Latina como um todo), os cidadãos africanos estão à procura de sua identidade, com crescente consciência e maturidade histórica.
Infelizmente, como acontece em grande parte dos lugares que foram consumidos pela ganância de seus colonizadores, no continente africano ainda existe um profundo deficit social. Assim, sem dúvidas, os tempos serão diferentes. Uma angolana me confidenciou sua impressão: “Saímos há pouco tempo das cabanas”, acrescentando que só agora a África pode descobrir, de maneira parcialmente livre, as possibilidades provenientes do desenvolvimento material.
Claro que, no mundo globalizado, surgem também novas questões. Aumenta-se a circulação de pessoas diferentes, bens de consumo e, desta forma, cada nação africana deve encontrar o seu caminho (e o equilíbrio), para depois buscar um destino comum no continente.

Continente da acolhida?

Aqui na Costa do Marfim, de maneira geral, percebi que as pessoas são pouco afetuosas. Nada de abraços, beijos em público, nem mesmo entre pais e filhos ou entre casais. Paradoxalmente, é incrível como o povo daqui é acolhedor.
Na primeira vez que fui ao nordeste do Brasil fiquei impressionado com a acolhida generosa e a preocupação “cultural” para que eu, o visitante, me sentisse bem. Aqui na Costa do Marfim eu sinto a mesma coisa. Os marfinenses são muito acolhedores e querem que sempre nos sintamos bem.
Porém, as vezes me pergunto se essa acolhida é realmente sincera, natural, ou uma espécie de “resquício de submissão cultural”. Conversando com meu amigo africano pude perceber que não é nem uma coisa nem outra, mas uma mistura das duas.
É verdade que, como estrangeiros “não africanos” somos, sim, tratados de maneira diferente. Porém, isso não quer dizer que exista algum tipo de preferência ou submissão. Entre os estrangeiros da África também existe o cuidado com a acolhida, o que é difícil perceber estando fora das dinâmicas sociais.
Claro que, por outro lado, quando existe má intenção ou conflitos internos essa acolhida se desfaz. “Os africanos não são burros”, disse o meu amigo, mas, em linhas gerais, no contato com alguém que vem “de fora” e que precisa de ajuda, os africanos são sempre muito acolhedores.

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