Author: Valter Hugo Muniz Page 30 of 240

Valter Hugo Muniz - Formado em Comunicação Social com ênfase em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de SP (PUC-SP) em 2009, concluiu em 2012 a “laurea magistrale” em Ciências Políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália. Com experiência em agências de comunicação, multinacionais, editoras e televisão é, atualmente, consultor de comunicação na ONG Arigatou International, em Genebra, Suíça. Com vivência de mais de cinco anos na Europa (Itália e Suíça), participou de trabalhos voluntários em São Paulo e na Indonésia pós Tsunami (2005), além de uma breve estadia na Costa do Marfim (2014). É fundador do escrevoLogoexisto.

Pequena chama em Mussulo│Ivete Maria

Pequena chama

Em uma das regiões turísticas mais bonitas de Angola, uma pequena chama foi acesa. Com o intuito de olhar para Mussulo além de suas belezas naturais e ir ao encontro do seu povo, refém das injustiças sociais, nasceu um importante projeto, que visa garantir uma vida e um futuro mais digno àqueles que mais precisam.

Arquipélago de Mussulo: patrimônio cultural e natural

Pequena chamaMussulo é um lindo arquipélago, localizado na costa sul de Luanda, capital da Angola. Com um mar calmo e com ondas pequenas, areia branca e fina, imensos coqueiros, ele é, sem dúvida, um dos cartões postais do país africano. Um lugar agradável para descansar e relaxar onde também se organizam várias festas. Um verdadeiro paraíso na terra.

Local de reprodução das tartarugas marinhas, uma de suas ilhas é conhecida como Ilha dos pássaros, por conta da acumulação de aves transitórias. Para além de povos que vieram do centro sul do país, ela é habitada na sua maioria por axiluandas (povo oriundo da ilha de Luanda), gente acolhedora e humilde que têm na pesca a sua actividade principal.

A outra face do Mussulo

Para muitos luandenses o arquipélago é apenas um local de lazer, pois não sabem que, no interior do mesmo, habitam muitas famílias, na sua maioria refugiadas da guerra civil que durou – com intervalos – 27 anos. São cerca de 6000 pessoas que vivem em condições precárias, sem energia pública, água potável e hospital.

Até a pouco tempo existia apenas uma escola do ensino primário e secundário. O índice de mortalidade infantil é muito elevado, devido à má nutrição e a falta de assistência médica.

Diante desta triste realidade, um grupo de pessoas que acredita na fraternidade universal teve a ideia de construir uma escola no arquipélago, com objectivo de ajudar a comunidade, propriamente as crianças dos 3 aos 5 anos de idade.

Escolinha Pequena Chama: Um projecto social

Pequena chamaO projecto “Escolinha Pequena Chama”, nasceu há 13 anos, com a ajuda concreta de algumas famílias portuguesas e italiana,s sensibilizadas com a situação de Mussulo. Após a construção da escola, o projeto recebeu outra importante ajuda, do PAM (Programa Mundial para Alimentação) que ofereceu, por alguns anos, a merenda escolar.

O projecto pedagógico está centrado no propósito de oferecer às crianças uma formação integral, colocando as bases para a formação de hábitos e atitudes coerentes e éticas, juntamente com uma formação da consciência moral e religiosa, com vista a construir e a viver os valores inerentes a uma cultura de Paz, sobre os pilares da fraternidade e solidariedade.

Meu contato pessoal com a Escolinha 

Eu tive a oportunidade de estar várias vezes com as crianças da Escolinha, que são muito lindas. É impressionante ver a “festa” que elas fazem quando alguém chega. Prontificam-se logo em ajudar a carregar as nossas pastas, oferecem-nos coco e contam-nos as experiências vividas.

Foi encantadora a conversa que tive com um dos monitores que trabalhou alguns anos lá. Ele me contou que, quando foi convidado para trabalhar na Escolinha, não sabia o que o esperava, mas o desejo de fazer alguma coisa pelo o mundo falou mais alto e sentia que ali era oportunidade de deixar a sua marca. Muitas dificuldades surgiram posteriormente, como a falta de barcos para a travessia da ilha, as condições de trabalho precárias, que fizeram com que ele se sentisse cansado e pensasse em desistir. Mas o carinho doado gratuitamente pelas crianças o fez perceber que o certo não seria abandonar o projecto, mas sim envolver mais pessoas nas atividades realizadas na Escolinha.

A Pequena Chama hoje

Através das crianças ajudadas, as pessoas envolvidas no projecto puderam conhecer também seus pais e outros jovens da comunidade. Assim, com eles, foi possível organizar várias actividades, ouvir as suas necessidades, partilhar momentos e manter uma boa amizade.

Actualmente existem quatro escolas e três postos de saúde em Mussulo. A Escolinha Pequena Chama é uma referência na região. Nos últimos anos, as salas foram ampliadas permitindo atender um número maior de crianças da comunidade e cinco os monitores/professores vivem na ilha. Além deles, trabalham na escolinha uma pedagoga e uma nutricionista.

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02012012832 (2)Ivete Gwizana Leite Maria Domingos (Ivete Maria) – Formada em Ciências Matemáticas, pela Universidade Agostinho Neto (UAN). Já foi professora, operadora de telemarketing e trabalhou durante 3 anos numa agência de comunicação passando pela área administrativa e de publicidade e eventos. Ivete também teve a possibilidade de realizar um ano de intercâmbio multicultural e inter-religioso na Itália.

Palavras

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Minha paixão pelas palavras tem um só alvo:

tocar os desprotegidos corações.

Como emocionam poemas, romances, canções.

Sorrio ao ver o escapar das lágrimas.

Constantes e as  raras,

Quando protegidas pelos muros que criamos.

A palavra que declamo é sorriso em prosa e verso.

Paradoxo neste mundo adverso.

Ás vezes é silêncio, outras desabafo.

Sonhos as palavras e, com elas, faço um trato.

Prometo protegê-las do silêncio respeitoso.

Juro recitá-las para o meu amado povo.

E escrevo, falo ou declamo.

Porque, cada uma elas, simplesmente, amo.

 

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Sobre as palavras

Sergio Fonseca

Andei perdendo palavras por aí. Talvez por falar em excesso elas me faltem agora. As que saíram aos gritos duvido que voltem. Escaparam e deixaram vítimas durante a fuga. Uma pena. Mas em esforço de guerra dizem que perdas são justificáveis. Nunca acreditei muito nisso.

Andei perdendo palavras por aí. Talvez por ficar em silêncio elas me sobrem agora. E por serem excesso ocuparam o espaço antes reservado ao agrupamento ordenado delas. O crescimento desordenado de palavras é mais perigoso. Jamais pensei na possibilidade de um motim de palavras.

Andei perdendo palavras por aí. Das soltas e guardadas. Algumas entraram por um ouvido e saíram pelo outro. Outras entupiram narinas e muitas desceram pelos olhos.

Ainda ontem me olhei no espelho e vi que engordei. Ando comendo palavras saturadas. Um perigo. Preciso perder peso, perder palavras para reencontrá-las.

http://www.papeldepao.com.br

Mudanças: montanha russa cultural, saudades e novos desafios

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Tarde ensolarada na bela – mas ainda fria – Genebra. Decido praticar um pouco de esporte, pego a minha bicicleta e pedalo rumo ao Lac Léman.  Quem já esteve em Genebra sabe bem o que é vislumbrar a maravilha que é essa cidade, como o Rio de Janeiro, bonita “por natureza”.

Durante a minha atividade esportiva, recebo a mensagem de uma amiga brasileira me saudando. Paro e envio pelo celular uma foto do panorama que estou apreciando. Em resposta, ela me pergunta se é difícil, em um mês estar no Brasil, em outro, na Costa do Marfim e, no seguinte, em Genebra.

Montanha russa cultural

rollercoasterA resposta que dei à minha amiga eu tenho repetido, quase sempre, a todos aqueles que me perguntam como está sendo a adaptação aqui no Velho Continente: “bem difícil”. Claro que estou reclamando “de barriga cheia”! Eu não sou um imigrado sozinho ou um refugiado. Estar casado com uma cidadã suíça ajuda muito a viver com tranquilidade as situações normais de instabilidade, diante da nova vida que começamos aqui em Genebra.

Porém, mesmo assim, não é fácil vivenciar, em tão pouco tempo, uma “montanha russa” de concepções culturais. Descobrimos – eu e minha esposa –  três culturas completamente diferentes, repletas de pessoas maravilhosas, mas ainda temos dificuldades de chegar às sínteses.

Mudanças: a saudade e os novos desafios

DSC_0015Ultimamente temos tido muitas saudades da África. A vida simples, com menos preocupações materiais e mais relacionamentos nos encantou e deixou uma marca forte em nossa família. Agora, desse lado do Mediterrâneo, precisamos enfrentar os novos desafios e continuar vivendo de forma equilibrada as diferentes dinâmicas culturais que a vida nos propõe.

O primeiro desafio é em relação ao impulso consumista que emerge como “pseudo-alternativa” ao vazio comum em sociedades individualistas. O desejo de “comprar para se satisfazer” parece maior quando não se experimenta constantemente a felicidade que o encontro com “o outro” oferece. Nos últimos dias, me vi agradecendo a Deus pela minha esposa, que tem sido uma ajuda fundamental para que eu não perca meus valores essenciais.

O segundo desafio é superar o imediatismo e o ativismo. Estar em uma situação de transição (em relação aos documentos de imigrante, aprendizado da língua, entre outros) cria uma certa frustração e a ansiedade de querer “fazer algo”, “ganhar dinheiro”, com urgência. Porém, muitas vezes, diante das mudanças, cabe a nós simplesmente esperar e transformar os momentos de “ócio” em oportunidade de repensar escolhas, projetos, com tranquilidade, antes de iniciar uma nova etapa da vida.

Mudar vale a pena?

As mudanças exigem grande paz de espírito e coragem para acreditar (novamente) que muitas coisas demandam tempo que, consequentemente, exige espera que, por fim, requer paciência.

Acredito que vale a pena mudar, simplesmente pelo fato de que as mudanças exigem de nós flexibilidade. Ao longo do tempo, muitas vezes, perdemos essa capacidade, principalmente quando mantemos uma vida acomodada e sem “grandes emoções”.

 

 

Os caminhos de Mandela: testemunho de liderança, de perdão e de amor

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Olhar os tempos atuais e perceber um vazio de lideranças políticas não exige MBAs ou outros estudos de pós graduação. Em um “ocidente” feito, sobretudo, de interesses individuais, não me espanta a ausência de “alguém” capaz de fazer sínteses politicas coletivas eficazes.

Testemunho de liderança

Enquanto a maioria dos políticos se aproxima de seu “povo” ancorados em instrumentos tecnológicos e com a publicidade, um homem fez da sua vida um “testemunho de liderança”: Nelson Mandela.

No final de 2013 escrevi um post falando das virtudes e do significado de Mandela para a história da África do Sul, do continente africano e do mundo inteiro. Mandela não foi um homem comum, um simples revolucionário que se sacrificou pelo seu povo e se tornou uma espécie de herói para seus conterrâneos. Não! Mandela foi um transformador, um pacificador, um negociador, um verdadeiro político.

Os caminhos de Mandela

Photo 29-04-14 00 00 54Depois da morte de Nelson Mandela e da minha (breve) passagem pelo continente africano, decidi que era a hora de me aprofundar um pouco mais sobre este personagem tão intrigante. Foi assim que me encontrei com o livro de Richard Stengel “Os caminhos de Mandela – Lições de vida, amor e coragem”.

Stengel é um jornalista e escritor estadunidense da revista Time que teve o privilégio de passar dois anos auxiliando Mandela a escrever sua autobiografia “Longo caminho para a liberdade”. Enquanto isso, decidiu escrever sobre o relacionamento pessoal construído com o líder sul-africano, desvendando o homem – político. Em setembro de 2013, muitos anos após a conclusão do seu livro, Stengel foi nomeado pelo Presidente Obama, Sub-Secretário do Departamento de Estado do governo, para a Diplomacia e Assuntos Públicos.

O desejo de conhecer mais

Terminei o livro de Stengel querendo mais. Desejando conhecer com maior profundidade Nelson Mandela e entender de onde vinham suas motivações.

É noto que Mandela não é um homem religioso, no sentido confessional. Ele, de maneira puramente humana, desejava a paz, a igualdade de direitos, a dignidade de seu povo, mas sem odiar seus opressores. Com a razão e seus sentimentos mais genuínos ele parece ter descoberto novo modo de fazer política e de superar o mal, que muitos creem inerentes ao ser humano.

 O que percebi em todos os africanos que encontrei e perguntei sobre Mandela é um profundo respeito e admiração. Mandela se foi, mas ficou o modelo de homem, capaz de gerar uma espécie de síntese da razão ocidental, com o coração comunitário que permeia a cultura africana.

Racismo, medo e a reação inesperada de Daniel Alves

Já aceitei que vivo em uma sociedade racista. Como diz o Houaiss, racismo nada mais é que o “conjunto de teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia entre as raças, entre as etnias”. Outro significado é “doutrina ou sistema político fundado sobre o direito de uma raça (considerada pura e superior) de dominar outras”. Ou então “preconceito extremado contra indivíduos pertencentes a uma raça ou etnia diferente, geralmente considerada inferior”.

Teorias e crenças. Doutrina ou sistema político. Preconceito com o diferente. As explicações são variadas, mas acredito que faltou um elemento essencial na definição do racismo: O MEDO.

Racismo e o medo do outro

campanha_somostodosmacacos_racismo_danielalves_rep_690O racismo é fruto do pré-conceito em relação ao outro. Com ele, emerge a necessidade de teorizar crenças, com o objetivo de justificá-las de maneira racional (por isso as teorias, doutrinas e sistemas políticos) e assim adquirir a credibilidade que tenha status de “verdade”.

Contudo, o racismo não é fruto da razão. Permanece sempre crença. Crença de que o outro é diferente e por isso inferior, crença que o outro age diferente, por isso é inferior. Que o outro pensa diferente e por isso é inferior.

Porém, o que na verdade o contato com o outro, essencialmente diferente, causa em nós é o medo de que percebamos as nossas fraquezas, que somos nós, em muitas ocasiões, os “inferiores”. E, para não deixar que isso seja comprovado teoricamente, sabotamos qualquer pensamento que denuncie nossos limites. Atacamos para não sermos atacados! Tudo por medo.

Lição que vem da cultura africana

Na minha recente e breve passagem pelo continente africano, fiquei impressionado com a estrutura física e a capacidade de sobrevivência dos meus irmãos marfinenses, camaroneses, congoleses e etc. Os filhos do “Berço da Humanidade” não têm os instrumentos tecnológicos que nós temos para facilitar a vida e, mesmo assim prosperam, geração após geração, tornando-se indivíduos mais fortes e capazes de sobreviver às adversidades do contexto em que provêm.

Os africanos mostram o quanto somos frágeis. O quanto apoiamos-nos, como sociedade “ocidental”, em conceitos de cultura e desenvolvimento questionáveis, pois eles não nos tornam pessoas mais racionais ou física e psicologicamente estáveis. Vivendo em harmonia com a natureza, a sociedade africana (principalmente rural/tradicional) dá uma lição ao mundo do como viver bem (não necessariamente FELIZ) com pouco.

Racismo cultural e o show de Daniel Alves

O caso do racismo no futebol é um espelho do racismo cultural que borbulha no “Ocidente”, de maneira especial no Velho Continente. Por aqui, defender as diferenças é garantir a própria identidade, sem deixar que as raízes culturais morram no contato com o outro, essencialmente diferente.

No Brasil, parece que o racismo é fruto de uma ignorância estúpida, de uma cultura que se aceita “colônia cultural”, reproduzindo ideias de outros contextos e que não consegue aceitar-se, essencialmente, uma “raça de raças”. No Brasil ninguém é puramente índio, africano ou europeu.

Na Europa é diferente. O racismo é a maneira encontrada para se defender do outro: do vizinho do outro lado da fronteira e, principalmente, dos que vêm de longe. Mas a causa é sempre a mesma: medo. E as justificativas eu já acenei nos parágrafos acima. O que faltava, porém, era uma reação nova, marcante. E foi isso o que Daniel Alves, jogador brasileiro do Barcelona fez.

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Um gesto simples, mas cheio de significado. Ao ser atingido por uma banana, clara alusão (porque feita repetidas vezes aqui na Europa) a um macaco (o que, simbolicamente, o faz ser inferior) Daniel Alves simplesmente descascou e comeu a banana, desqualificando o gesto racista.

O estúpido torcedor que atirou a banana para Daniel recebeu uma lição digna de aplauso. O jogador brasileiro mostrou que é possível transformar uma agressão em algo Maior, mostrando que a fraqueza, a inferioridade, como podemos constatar, está no ator do gesto racista.

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