Author: Valter Hugo Muniz Page 24 of 240

Valter Hugo Muniz - Formado em Comunicação Social com ênfase em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de SP (PUC-SP) em 2009, concluiu em 2012 a “laurea magistrale” em Ciências Políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália. Com experiência em agências de comunicação, multinacionais, editoras e televisão é, atualmente, consultor de comunicação na ONG Arigatou International, em Genebra, Suíça. Com vivência de mais de cinco anos na Europa (Itália e Suíça), participou de trabalhos voluntários em São Paulo e na Indonésia pós Tsunami (2005), além de uma breve estadia na Costa do Marfim (2014). É fundador do escrevoLogoexisto.

Eduardo Campos e o ardor futebolístico das eleições

Eduardo Campos

Não conhecia Eduardo Campos. Nem o ser humano, muito menos o político. Sei que as opiniões são divergentes a respeito do legado que ele deixou como homem público, claro, porque como ser humano certamente os frutos são mais evidentes.

Acompanhando tudo à distância, devo dizer que não me entusiasma a emotividade criada após a triste tragédia que tirou da disputa, o terceiro candidato nas pesquisas de intenção de voto. Os motivos, acredito, são simples.

A primeira decepção foi em relação a banalização da vida perdida. Redes sociais serviram de palco para manifestações tolas, algumas vezes desumanas, em que a política, novamente, passou a ser discutida com ardor futebolístico, enquanto uma família perdia seu pai, seu marido. Antes de tudo, o ser humano. Por favor!

Outro aspecto que me entristeceu foram as acusações grosseiras, conspiratórias, sobre as explicações ligadas ao acidente aéreo envolvendo Eduardo Campos. Não que ele não possa ter sido planejado, mas cabe à polícia apurar e não aos blogueiros especularem, criando situações que nada acrescentam ao cenário eleitoral que se aproxima.

Eduardo CamposPor fim, a ilusão dos eleitores. Por melhor que tenha sido como político, por mais competente, Eduardo Campos não era o salvador da pátria. Como foram Lula, Dilma e tantos outros, ele era, sobretudo, uma promessa. Campos representava uma força política que diminuía a ingrata polarização PT-PSDB. Uma terceira possibilidade. Ponto.

Contudo, creio que as mudanças significativas que almejamos não está na escolha de fulano ou ciclano, mas na sua capacidade de dialogar, de enfrentar questões difíceis, governando para todos e não só para um determinado grupo de interesse. Dito isso, sim, talvez, entre os candidatos, podemos observar um mais capaz, outro menos, mas, depois, o foco deve estar nos projetos apresentados e nas estratégias traçada para colocá-los em prática.

O que refletir no pós Eduardo Campos

Infelizmente, pela segunda vez seguida, não vou poder participar diretamente da escolha dos próximos governantes do meu país e estado. Porém, tenho procurado participar indiretamente, lendo, propondo debates e refletindo sobre o que eu quero para o Brasil. Como podemos caminhar, juntos, em direção ao bem comum.

Eduardo CamposExistem muitos caminhos. Modelos ideológicos de Direita, de Esquerda e, claro, de Centro. Existem pessoas moralmente engajadas, outras preocupadas na manutenção do próprio poder. Para votar bem é fundamental informar-se (de preferência variar as fontes de informação, mas preocupando-se com a credibilidade das mesmas).

Eu, particularmente, tenho vivido um período de descontentamento, não só em relação aos projetos políticos (ou a ausência deles), mas com a sociedade brasileira como um todo. Sinto que continuamos vivendo os períodos eleitorais com o tal ardor futebolístico, em que a emoção vale mais que a razão, as ideias, e o outro, a oposição, não tem nada a acrescentar ao “meu” ponto de vista. Assim, caminhamos, dialeticamente, mais preocupados em sermos a antítese do “legado do outro”, que em chegarmos a uma síntese comum.

Sem ouvir as opiniões contrárias, sem procurar colher o “bom” de cada argumento, sem saber negociar (que é, muitas vezes, ceder), não será possível construir um país que, também politicamente, espelhe a nossa fantástica diversidade cultural. É nessa dinâmica, difícil e desafiadora, onde precisamos depositar nossas energias e não simplesmente usando argumentos destrutivos.

Quando aceitarmos esse desafio, aí sim poderemos sentar juntos, situação e oposição, jovens, adultos e idosos, homens e mulheres, para iniciar as reformas necessárias, que irão determinar o futuro do nosso Brasil.

eLe

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pregiudizi

Superare i pregiudizi: una sfida per chi accoglie e per chi è accolto

pregiudizi

Nel mio ultimo post ho scritto cosa significa per me oltrepassare la dogana europea ed entrare per vivere nel Vecchio Continente. Le sfide relative all’accoglienza, da una parte, e all’inculturazione, dell’altra, sono tante, ma restare aperti sembra l’atteggiamento più adeguato quando si vive questo tipo d’esperienza.

Oggi, continuando a porre attenzione all’attualità e cercando di portare avanti gli approfondimenti sulla vita come immigrato vorrei parlare dei pregiudizi agli extracomunitari dalla prospettiva di chi li subisce.

I brasiliani sono “malandros”

La parola “furbo” in portoghese viene tradotta con il termine “malandro”. Nella mia lingua madre “malandro” è colui che raggiunge i suoi scoppi personali utilizzando una strategia che esige il minimo sforzo e la massima efficacia senza, però, una preoccupazione morale rispetto al processo.

pregiudiziDevo dire che, non poche volte, ho sentito dire da alcuni cittadini europei che “i brasiliani sono malandros” proprio perché spesso riescono a cavarsela ignorando però le regole.

Bene. Bisogna dire che, spesso, i pregiudizi rimangono vivi perché confermati dalla pratica. Tra i tanti brasiliani che ho trovato per caso in Europa potrei dire che tanti sono arrivati nel Vecchio Continente in modo sospettoso.

Poi, atterrati in Europa, alcuni dei miei compatrioti cercano di riprodurre il sistema che esiste in Brasile, dove le regole esistono sì, però sembra stupido chi le segue e i governanti non si sforzano affinché siano rispettate. Abituati a questa logica, alcuni brasiliani cercano di riprodurla dovunque, ma, quando non sono penalizzati dal governo straniero, diventano antipatici per i cittadini del posto che si comportano in modo civile, senza necessariamente aver bisogno di uno Stato che gli stia addosso.

La corruzione non à genetica

Molte volte ho anche sentito dire che il Brasile è un paese corrotto. Per via della loro ignoranza, alcuni europei sembrano quasi credere che la corruzione è nel DNA dei brasiliani. Bisognerebbe però, anzitutto, conoscere un po’ della storia del mio paese per trovare alcune possibili spiegazioni.

Bene. Dopo quattro mesi in Europa, mi rendo veramente conto che non è proprio così, che la corruzione non è una caratteristica esclusiva dei cittadini del detto Terzo Mondo. Disonestà, profitto altrui, mancanza d’educazione di base esistono anche qui nel Vecchio Continente. La grande differenza è che, in Svizzera, per esempio, lo Stato è più presente e, soprattutto, punisce con efficacia le violazioni delle regole, garantendo un ambiente di ordine e rispetto reciproco. Non poche volte qui, ho sentito parlare del rispetto come valore nazionale alla base di ogni relazione. Poi, specialmente nel rapporto con lo Stato, si può proprio “respirare” quest’atmosfera di mutuo rispetto. Essendo io straniero posso dire però che, nel contatto sociale con le persone, si sperimenta un rispetto che si manifesta di maniera diversa ed è molto misurato dagli interessi specifici.

Il bene viene promosso dagli incontri, non dai pregiudizi

pregiudiziLe mie riflessioni sui pregiudizi sono abbastanza ovvie. Però credo che debbano essere sempre riscritte, ripetute, per non rischiare di sottovalutarsi. Tutte le politiche nazionali devono avere un sguardo maturo verso gli stranieri, senza mai fomentare la divisione, ma coltivando il rispetto, l’educazione e l’inculturazione da entrambi le parti.

I mass media poi giocano anche un ruolo decisivo, perché hanno la capacità di fabbricare stereotipi pericolosi, che fanno aumentare i conflitti, le divisioni, le tensioni che nulla servono al bene comune.

Bisogna pensare, ascoltare, informarsi ed educarsi affinché non ci si lasci portare dai pregiudizi. La vera conoscenza dell’altro nasce della convivenza pacifica, fraterna, quotidiana.

eLe

Revisione Maria Teresa Cervi
minorias mudas

Minorias mudas: um produto do jornalismo unidimensional

minorias mudas

É fato: quando a mídia trata, principalmente, de acontecimentos no continente africano ou no Oriente Médio, temos uma leitura unidimensional que produz aquelas que considero minorias mudas. Calma. Vou tentar explicar abaixo.

Graças ao aprendizado da língua, agora tenho o privilégio de poder acompanhar as leituras midiáticas também em francês. Em uma delas a vice presidente da União Francesa dos Judeus pela Paz, Michèle Sibony, evidencia a produção de um discurso unilateral pela imprensa Europeia que acaba legitimando os ataques israelenses direcionados à Gaza.

A “Guerra Santa” que o “Ocidente pós 11 de setembro” tem traçado contra o islamismo coloca as diferenças religiosas como principal promotor de um conflito extremamente complexo, como é aquele entre Israel e Palestina. A necessidade maniqueísta de identificar aqueles que são, segundo o Ocidente, os “bons” – o “povo judeu” –  e os “maus” – os terroristas do Hamas –  em vez de promover um aprofundamento das verdadeiras questões, reduz as possibilidades de um real entendimento e uma plausível negociação.

Segundo Michèle Sibony, no que diz respeito ao conflito Israel-Palestina, a mídia ignora as vozes da minoria e, dessa forma, “rouba” a sua capacidade de apresentar e defender suas causas em uma situação de paridade. Eu diria que elas, assim, permanecem minorias mudas.

Dar forma aos fatos

minorias mudas

Na minha tese de “laurea magistrale” fiz um mergulho (não tão profundo, porém decidido) na comunicação como dimensão ontológica da pessoa humana. Por ser parte do nosso “ser no mundo” a comunicação também subsiste nos instrumentos que forjamos para exprimir nossa existência. Queremos comunicar com nós mesmos, com os outros e com o Transcendente, esta última, uma dimensão ignorada, quase subjugada, mas que precisa urgentemente ser redescoberta.

A partir deste estudo inicial, que me fez entender qual seria a “alma” da comunicação, passei a aplicar essa visão tridimensional do “comunicar” às diferentes análises e percepções que fiz a respeito da mídia de massa, visando entender melhor como ela se comporta ao traduzir sua leitura dos acontecimentos (ou fatos) em informação.

Informar é, acima de tudo, dar forma. Nada de novo, claro. Sobretudo no que diz respeito ao significado semântico do termo. Contudo, as “formas” que são dadas aos fatos do cotidiano, nem sempre espelham a sua universalidade.

Como, geralmente, são sempre as mesmas pessoas, as mesmas empresas de comunicação, dos mesmos países que “informam” o mundo, acabam  sendo sempre promovidas as mesmas visões, que evidenciam interesses específicos.

Dar voz as minorias mudas

“O simétrico da comunicação, na ordem dos valores, é o respeito ao outro e a confiança. Comunicar com o outro é reconhecê-lo como sujeito, portanto, estar mais ou menos obrigado a ter-lhe alguma estima”, explica Dominique Wolton e acrescenta “a comunicação obriga ao mesmo tempo à argumentação e a tolerância. (…) O essencial é esta demanda de compreensão de si e da melhora das relações com o outro.”

Simetria. Respeito ao outro. Confiança. Reconhecimento. Estima. Tolerância. Todos termos que exprimem a intrínseca relação existente entre comunicar e “o outro”.  Em uma sociedade como a nossa, em que o poder da palavra e da imagem é decisivo, quando o jornalismo perde essa capacidade relacional, multidimensional, ecoa aquele que eu chamo de “Fundamentalismo da palavra”, em que a opressão ideológica se baseia no dar voz exclusiva a um ponto de vista e silenciar “o outro”.

Para Wolton “confiança e respeito são as palavras chaves da sociedade de comunicação”. Não se pode jamais silenciar as minorias, os mais fracos. É esse o grande motor dos holocaustos.

Neste caso o jornalismo precisa ser responsabilizado. Especialmente quando, em vez de buscar a Verdade, fundada na relação entre as diferentes vozes, ele se torna uma espécie de assessoria de imprensa das ideologias de governos e governantes aproveitadores.

O desafio é grande!

Eleições

Voto obrigatório: serve um instrumento se não se sabe usá-lo?

Voto obrigatório

Nunca achei que a obrigatoriedade do voto pudesse, de alguma maneira, dar legitimidade a uma democracia. Ter em mãos um importante instrumento da vida democrática, mas não saber usá-lo para o próprio bem (e para o bem comum), é como tomar remédio “tarja preta” sem prescrição médica. Nos dois casos os danos podem ser irreversíveis.

No advento de mais uma eleição e na evidente necessidade de uma reforma política, tenho pensado no valor que o voto obrigatório tem para a democracia brasileira. Na nação em que eu, agora, vivo, o Estado não obriga seus cidadãos a votarem. O problema da abstenção existe, mas isso não afeta o bem estar geral e nem diminui a qualidade da democracia do país.

Quando passou a ser obrigado votar?

Voto obrigatórioSegundo o excelente estudo feito pela Professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina, Luzia Helena Herrmann de Oliveira, “O voto obrigatório foi implantado no Brasil com o Código Eleitoral de 1932 e transformado em norma constitucional a partir de 1934. Regulamentado em um período de transformações institucionais que objetivavam dar credibilidade ao processo eleitoral, ele foi justificado como uma necessidade para garantir a presença dos eleitores nas eleições.

No período em que o voto foi determinado obrigatório, explica Luzia de Oliveira, o eleitorado “restringia-se a cerca de 10% da população adulta, o que significava um número muito reduzido (Soares, 1973). Contudo, com as transformações da sociedade brasileira e a concessão dos direitos políticos aos maiores de 16 anos e aos analfabetos, esse percentual cresceu expressivamente”. Nas eleições de 1998, por exemplo, tivemos a participação de 67% da população brasileira (TSE, 1998a; IBGE, 1998a).

Não basta poder votar

Hoje, como pudemos observar, o percentual de eleitores cresceu bastante. Dessa forma, acredito que se deva privilegiar não mais a quantidade de eleitores, mas a qualidade da participação. Não sou um especialista em política eleitoral e não quero fazer um tratado sobre o assunto, mas tendo a pensar que o voto, sem uma educação política, é um instrumento ineficaz, com valor exclusivamente simbólico.304561_333063526785406_586973567_n

Votar é a ponta do iceberg da participação política e não deve se limitar a escolha de representantes, mas englobar outros aspectos políticos, como a aprovação/rejeição direta de leis, por exemplo. Creio que o cidadão eleitor, ao enxergar a ressonância direta de suas escolhas nas decisões políticas, irá viver a democracia com mais constância. Cabe também ao governo estimular a participação política, criando mecanismos de informação e formação para que seus cidadãos, desde muito cedo, descubram as possibilidades de protagonismo, no interior do espaço político onde vivem.

A defesa do voto obrigatório

Muitos daqueles que defendem o voto obrigatório afirmam que não existe qualquer comprovação do argumento de que o voto obrigatório prejudica a qualidade da democracia. É verdade. Não é o voto em si que prejudica a nossa democracia, mas a ilusão de que a possibilidade de votar qualifica positivamente um ambiente democrático.

No Brasil, na prática, o eleitor pode justificar seu voto em qualquer seção eleitoral do país e se não fizer, recebe uma multa irrisória de R$ 3,50. Além disso, o eleitor pode escolher anular seu voto nas modernas urnas de nosso sistema.

“Nas últimas três eleições presidenciais, tivemos o comparecimento de quase 75% dos eleitores, uma marca invejável para qualquer democracia do planeta. A obrigatoriedade do voto também faz da eleição um momento especial de informação do eleitorado. De dois em dois anos, somos levados a nos atualizar acerca dos assuntos que dizem respeito a nossa vida coletiva e decidir por pessoas, ideias e projetos, em detrimento de outras pessoas, ideias e projetos. Em países onde o voto não é obrigatório, como nos Estados Unidos, esse processo é mais diluído, e boa parte dos cidadãos passa incólume pelo processo eleitoral. Não no Brasil. Nossas eleições são um evento cívico vivido por quase todos nós” explicam os João Feres Júnior, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Fábio Kerche, pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa.

Contudo, da mesma forma que o comparecimento quantitativo não enriquece o contexto participativo em uma democracia, viver o período das eleições com a mesma emotividade que existe no contexto futebolístico, por exemplo, é extremamente pouco produtivo. Quanto mais nos aproximamos das eleições, mais vejo, sobretudo nas redes sociais, a reprodução indiscriminada de acusações e críticas pouco construtivas direcionadas a um ou outro candidato.

Com a obrigatoriedade do voto, o sistema eleitoral brasileiro promove uma justificativa falaciosa do que deveria ser a participação política. É fundamental informar-se e educar-se para entender que a democracia é um sistema vivo, dinâmico, de negociação de interesses, na diversidade e, principalmente, no respeito ao outro. Poder influenciar diretamente, não somente votando os representantes políticos, mas interferindo nas decisões ligadas ao município aonde se vive, é um instrumento que, acredito, valeria à pena ser experimentado.

Luzia Oliveira afirma que, “na Venezuela, análises realizadas anteriormente à reforma de 1993, indicavam a possibilidade de uma significativa queda na participação política, o que foi confirmado pelos fatos. Na Holanda, Irwin (1974) também observou mudanças nas atitudes dos eleitores após a implantação do voto facultativo em 1971”.

Mais participação é certamente garantia de uma democracia legítima e rica, mas não acredito que a mesma, delimitada há alguns cliques na urna eletrônica, pode ser considerada real e construtivas.

eLe

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[i] OLIVEIRA, Luzia Helena Herrmann de. Voto obrigatório e eqüidade um estudo de caso. São Paulo Perspec. [online]. 1999, vol.13, n.4 [cited  2014-08-11], pp. 144-152 . Available from: . ISSN 0102-8839.  http://dx.doi.org/10.1590/S0102-88391999000400016.

É melhor ter filhos ou animais de estimação?

animais

Há tempos venho pensando sobre o aumento do número de pessoas que manifestam o desejo de, em vez de terem filhos, adotar um animal de estimação. Este fenômeno de “humanização” de animais é polêmico, mas acredito que vale a pena ser questionado, para nos ajudar a entender as diferenças entre seres humanos e os animais de outras ordens.

Animais de estimação

filhosQuando criança eu tive a alegria de ter um gato como animal de estimação. O contato com a natureza me ajudou a crescer com a ideia de que todos os animais são seres especiais. Aqueles que podem participar do nosso convívio cotidiano, porque foram domesticados ao longo do tempo, parecem ter adquirido um status ainda mais privilegiado.

Contudo, é importante lembrar que cachorros e gatos, passarinhos, tartarugas e peixes, não escolheram ser domesticados. O ser humano, percebendo que a companhia de cachorros e gatos, por exemplo, poderiam trazer vantagens na sua luta pela sobrevivência, como ajudar a caçar outros animais, adotou-os e domesticou-os. Por outro lado, os animais fisiologicamente mais evoluídos se adaptaram à domesticação, pois ela também trazia vantagens interessantes para eles (os cães, por exemplo, não precisavam mais caçar, pois podiam comer as sobras do humanos).

Bom, admito ser mais um curioso que um biólogo, mas acredito poder afirmar que os animais de estimação são, sobretudo, companhias. Afetuosas, claro, mas sem livre arbítrio.

Porque ter um animal de estimação?

Tenho muitos amigos que têm animais de estimação e acho muito bonita a relação deles com seus animais. Geralmente são pessoas que encontraram na gratuidade e no companheirismo do animal uma alegria diferente e mais rara de sentir com seres humanos.

O que realmente me preocupa não é o fato de ter ou não um animal de estimação, mas ver muitas pessoas tratando seus animais como seres humanos. Não estou dizendo que eles não devem ser bem tratados, mas a humanização desses animaizinhos, muitas vezes, chega a escandalizar. Roupas, carrinhos de bebê, alicate para unhas, capa de chuva, boné, edredons, piscina e até sapatos são alguns exemplos de acessórios que dão aos animais de estimação um status de “igualdade” que, na minha opinião, é perigoso.

Porque ter filhos?

Um vídeo (abaixo) que assisti nos últimos dias brinca, de forma bem irônica, com a alegria decorrente da paternidade. As verdades objetivas relatadas acabam, contudo, banalizando o que acredito ser um dos mais bonitos milagres da nossa existência.

[youtube=https://www.youtube.com/watch?v=RJBy4ob_ePI&list=UUEWHPFNilsT0IfQfutVzsag]

Recentemente, uma amiga próxima da nossa família deu à luz a uma linda criança. As condições familiares não eram as melhores, a gravidez foi inesperada, mas mesmo assim, a experiência do parto foi algo marcante na vida desse casal e das pessoas que, como nós, estão próximas dos (agora) três.

O que o vídeo mostra com exacerbado pessimismo, na verdade transcende o aspecto puramente material da nossa existência. Viver não é somente fazer o que queremos, não é querer ter próximo só aquilo ou aqueles que nos dão prazer. O milagre da vida está, justamente, no fato de poder gerar e acolher nesse “mundo” um novo ser, dotado de vontade própria e poder partilhar com ele as nossas alegrias e tristezas, COMVIVER.

animais

Felizmente esse nível de relação não pode ser conquistado com animais de estimação. É necessária uma igualdade ontológica que só existe com outros seres humanos, que não podem ser domesticados. Os filhos choram, comem, dormem, ficam doentes como os outros animais, mas, quando crescem, eles falam, manifestam sua personalidade, com suas opiniões e discordâncias com aquilo que pensamos ser o certo.

Sei que a decisão de ter filhos é um passo sério. Também sei que muitas pessoas são mais felizes por terem um animal de estimação. O que me incomoda, como disse acima, é a humanização de um ser que não quer ser humanizado, que não pediu, que não escolheu.

Enfim, o grande problema é achar que a presença de outro ser humano na nossa vida é um impedimento. Algo que não nos deixa “aproveitar” a vida. Não sou pai, sou filho, mas observando a vida de amigos que já são pais, percebi que a felicidade é dinâmica e muitas coisas que talvez um dia pareciam ser as melhores, com a presença de uma nova vida humana, são completamente redimensionadas.

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