Author: Valter Hugo Muniz Page 15 of 240

Valter Hugo Muniz - Formado em Comunicação Social com ênfase em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de SP (PUC-SP) em 2009, concluiu em 2012 a “laurea magistrale” em Ciências Políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália. Com experiência em agências de comunicação, multinacionais, editoras e televisão é, atualmente, consultor de comunicação na ONG Arigatou International, em Genebra, Suíça. Com vivência de mais de cinco anos na Europa (Itália e Suíça), participou de trabalhos voluntários em São Paulo e na Indonésia pós Tsunami (2005), além de uma breve estadia na Costa do Marfim (2014). É fundador do escrevoLogoexisto.

A chegada da Tainá – Parte um: Preparação

Quando minha esposa gritou: “Hugo! Vem aqui! Rápido” e juntos percebemos que o tampão tinha caído, senti uma serenidade gostosa fruto da minha preparação e a alegria de que logo (mesmo não sabendo quão logo) conheceríamos a nossa filha.

Se tem algo que considero um valor e que procuro colocar em prática na minha vida, desde menino, é estar preparado. Estudo, carreira profissional, relacionamentos… em todos os aspectos e momentos da minha história sempre tentei fazer bem o que me cabe, acreditando que Alguém irá cuidar daquilo que não tenho controle.

Não vou esconder que, de certa forma, preparar-me sempre me proporcionou o controle das minhas emoções, diminuiu meu medo e criou o espaço necessário para viver plenamente cada momento.

Na tarde que antecedeu aquele grito, estávamos caminhando em Zurique, passeando para aproveitar o dia bonito e a presença da minha mãe, que veio para viver junto com a gente essa nova experiência. Foi um dia gostoso e tranquilo. À noite, fomos visitar a família da madrinha da Flavia que logo ao ver o barrigão disse que ela ainda deveria esperar alguns dias pois a barriga ainda estava “alta”. Passamos uma noite super agradável até que aquele “Hugo! Vem Aqui!”, acelerou o coração dos presentes.

É realmente reconfortante sentir-se preparado. Aqui na Suíça frequentamos um curso para “grávidos” que nos fez percorrer, junto com outros três casais, a jornada do nascimento e dos primeiros cuidados. Foram horas repletas de informações úteis e descobertas extraordinárias, ao menos para mim que sou o pai.

Li quatro livros sobre paternidade, parto, gravidez para entender bem os sentimentos da minha esposa, os meus e da nossa filha. Assistimos também o documentário “O Renascimento do Parto”, que me ajudou a desmistificar os perigos do parto natural, que é o mais comum na Europa (mesmo se descobri que a Suíça é o país campeão de cesarianas do continente).

Lá da casa da madrinha da minha esposa ligamos para a casa de parto e eles recomendaram que voltássemos para casa da minha sogra o quanto antes para relaxar e ver como as coisas se desenvolveriam.

Eram umas 21:00. As próximas horas seriam bem mais intensas do que eu poderia imaginar. E assim outro valor passou a ser fundamental: a cumplicidade.

Elena

Um grande amor pela pequena Elena

Há poucos meses descobri que serei pai e, de repente, tive de me deparar com um aspecto da minha humanidade até então desconhecido. Perceber o apressado desenrolar das semanas e vivenciar o milagre do desenvolvimento de uma nova vida humana têm sido uma experiência emocionante, mas que também traz novos medos. Será que serei capaz de prover o essencial para minha família? Conseguirei transmitir os valores que recebi dos meus pais, da minha cultura, para minha filha?

Independente do que ouça ou sinta, sei que essa nova perspectiva tem se revelado porque eu e minha esposa tivemos a coragem de escolher viver a maternidade/paternidade, mesmo em tempos tão difíceis. Essa escola de vida também me ajuda a entender a verdadeira extensão do que significa amar alguém.

Recentemente, me deparei com um exemplo bonito, dolorido e verdadeiro que ilustra concretamente esse amor tão particular de pais para filhos. Pouco antes de sua filha completar um ano, meus amigos Carla e Léo perceberam que a pequena Elena não reagia aos estímulos sonoros. Baterias e baterias de exames e com a suspeita de deficiência auditiva confirmada, a vida dos dois deu uma reviravolta. De longe tenho acompanhado a difícil batalha deles para encontrar cuidados apropriados e alternativas médicas que permitam solucionar o caso da Elena. Quanta dor! Mas que luta incrível!

Após muita procura, Carla e Leo descobriram que a única possibilidade de a Elena ouvir é uma cirurgia de implante de tronco cerebral (ABI), que poucos médicos fazem no Brasil e nenhum deles tem resultados satisfatórios no procedimento. A busca incansável levou-os a conhecer um médico na Turquia com mais experiência neste tipo de cirurgia, o que aumentaria muito as chances de uma resposta positiva após o implante. Assim começou uma nova etapa na vida dos dois, com dezenas de atividade para angariar fundos para custear a cirurgia.

Arriscaria dizer que, se não estivesse no advento de me tornar pai, dificilmente entenderia o porque de tanto sacrifício. E se nunca conseguirem os 320 mil reais da cirurgia na Europa? E se o dinheiro chegar, qual a garantia de que a operação vai dar der certo?

Claro que não existe resposta segura para nenhuma dessas perguntas. Mas é isso o que realmente importa? Independente do que o futuro reserva para a pequena Elena, a experiência que está sendo feita ao redor dela já é uma das maiores lições de amor mais genuínas que ela poderia receber. Amor que contagia e que extrapola os limites do lar da Carla e do Leo, cria um sentido profundo de comunidade e move aqueles que estão ao redor da jovem família.

Acredito muito nesse Amor e deixo-me ser movido por ele. Assim, mesmo à distância, encontro-me diariamente com os meus amigos de São Roque.

______________

Quer ajudar concretamente a pequena Elena? Visite a comunidade do Facebook «Ajude Elena» e veja as inúmeras possibilidades de contribuir.

Lei o artigo do G1 sobre a Elena AQUI 

14 de setembro de 2016

Amanhã de manhã pego o avião rumo a Toronto, no Canadá, para mais uma viagem de trabalho. Tenho consciência do privilégio que é poder fazer uma viagem dessas, tanto pelo valor cultural quanto pela oportunidade profissional. Contudo, não vou mentir que ter de me despedir da minha família continua sendo doloroso. Ainda mais depois daquele 14 de setembro de 2016, o dia mais feliz da minha vida.

Na metade de 2016, logo após as maravilhosas férias na Califórnia, senti o coração turbado. A conclusão do mestrado da Flavia representava o fim de uma etapa importante da vida da nossa família. Esse foi o principal motivo que nos trouxe de volta ao Velho Continente. Mas e depois? Qual seria o próximo passo?

Acredito que um dos maiores presentes da insegurança é a necessidade que ela provoca de buscarmos mais intensamente a “Luz” que ilumina as perspectivas. E foi o desejo de me sentir novamente seguro que me levou para uma capelinha, algumas quadras distante do escritório onde trabalho, para falar com Deus. No escuro e no silêncio recuperava a paz para entregar meu coração e assim amenizar ansiedade por não saber qual caminho seguir.

Isso foi terça-feira. Na quarta, dia 14, fui surpreendido com uma ligação da Flavia se “auto convidando” para almoçar comigo. Fiquei feliz com a surpresa e pensei em levá-la para comer no refeitório de uma outra organização que tem mais opções de comida. Mas fomos barrados na porta. Voltando em direção ao meu trabalho decidi partilhar o que tinha dentro. Falei sobre a minha alegria pela conclusão do mestrado, a reflexão sobre o começo de um novo ciclo… até que…

“É verdade. Realmente um novo ciclo vai começar agora”,  disse Flavia me entregando um pequeno envelope e um sorriso.

Abri e tirei o cartão. O coração explodiu e depois eram só lágrimas, abraços, sorrisos.

Uma alegria transbordante que nunca mais vou esquecer. E como iria? Dia 14 de setembro de 2016 não foi só o começo de um novo ciclo. Aquela quarta-feira foi, sobretudo, o dia mais feliz da minha vida.

Protected: O menino Kofi

This content is password protected. To view it please enter your password below:

O que fica de mim, é você

Admito que nunca tive dificuldade de exprimir meus sentimentos em palavras. Claro que é preciso considerar os anos de treinamento diário e o fato de que, quando mais jovem, eram mais amenas as distrações e os instrumentos tecnológicos que encapsulam o manifestar dos sentimentos genuínos.

Escrever sempre foi transformar. Informar. Dar forma. Trazer parte de algo ou alguém, de dentro, e revelá-los para quem (me) lê. Mas somente a parte que o momento ilumina e ajuda a enxergar, não “o todo”, pois não é possível.

Comunicando, revivo as relações que construí.

O relacionamento construído comigo mesmo. O quanto (e o quando) me aceito limitado, preguiçoso ou incapaz de crescer. O reconhecer as conquistas sofridas e o me dar conta da minha unicidade.

Mas sobretudo o que construí com os meus iguais. O suportar dos limites alheios, da ignorância e da indiferença. O prazer de partilhar a vida com alguém, de gozar o “amar e ser amado”.

Nenhuma conclusão nova. Para que cultivar esse tipo de pretensão?

Este é só um lembrete em pixels de que o que fica em mim, é você.

Page 15 of 240

Powered by WordPress & Theme by Anders Norén