O desafio em comum da pandemia de COVID-19, em vez de unir população e ajudar a reverter o processo de polarização no Brasil, intensificou dramaticamente as divisões que já existiam no meu país. Incapazes de lidar civilizadamente com as nossas diferenças, tomamos caminhos opostos, agravando a crise (institucional e sanitária) que já levou mais de 300,000 vidas.
Com os rostos ainda banhados pelas lágrimas do luto e da indignação, precisamos buscar corajosamente uma forma de (re)estabelecer vínculos mínimos que nos permitam negociar a nossa existência comunitária.
Respeitar a identidade muitas vezes antagônica do outro é um processo interior trabalhoso e, não raramente, angustiante. O risco é ainda maior quando nesse processo de negociação das verdades existenciais, nos colocamos em um lugar de superioridade moral. Seja ela por motivos religiosos, intelectuais ou em decorrência de experiências passadas.
A tentativa de convencimento, a todo custo, do que acreditamos ser correto, nos leva a ignorar a longa e difícil via do diálogo no processo de síntese coletiva. Dessa posição intransigente, não é difícil descambar para agressões verbais e até para a violência física.
Não acredito na relativização da verdade e do que é correto, ainda mais quando o custo são vidas. Contudo, sou igualmente contra a imposição fundamentalista de métodos em prol do bem universal.
Nesses tempos difíceis, eu sei, estamos todos cansados! Porém, pensando no futuro dos nossos filhos, temos a grande responsabilidade de fazer da nossa indignação uma força propositiva capaz criar as condições necessárias para um diálogo construtivo.
Infelizmente, esse é um caminho vagaroso. Mas sem a paciência estratégica e uma conduta conciliadora, não conseguiremos (re)estabelecer vínculos sociais que contribuam para uma convivência pacífica, solidária e, quem sabe, fraterna.