Há tempos não tinha a oportunidade de refletir conscientemente e “em voz alta” sobre a minha visão de Deus e a sua aplicação nas minhas crenças e práticas religiosas.
A escolha de qual Deus adorar é uma herança familiar e, independentemente de como levei ela a diante, ela deu forma aos valores fundamentais que carrego comigo até hoje.
Um momento chave da minha adesão pessoal ao Deus cristão, católico, foi a minha Crisma. Durante aquele período de “formação religiosa” dificultei muito a vida dos meus formadores, questionando dogmas e práticas, ao meu ver, ultrapassadas e deturpadas. Já ali não aceitava a visão de um Deus distante, estático, que pune pecadores, seleciona os bons e os separa dos maus, que exige práticas de louvor e que ignora as mazelas da humanidade.
A partir da minha adolescência comecei a amadurecer uma visão de um Deus «acompanhante», que está ao meu lado e não “fora”, da mesma forma que se manifesta dentro de mim. Ele é a minha inclinação para o bem, o meu bom senso e, sobretudo, o Amor que carrego.
Recentemente tenho procurado reconceituar Deus e a sua relação com a Felicidade. Talvez a paternidade tenha um papel fundamental nessa tentativa de aprofundar meus credos para vivê-los melhor e explicar para minha filha o porquê das minhas escolhas.
Acho que o “meu” Deus está muito mais na busca da Felicidade do que em qualquer outra coisa. Toda a Sua manifestação direcionada ao bem que mencionei acima não é estática, é processo, relação, que depende de “um outro” para existir e por isso é tão difícil de «agarrar» e rotular.
Deus é dimensão relacional da natureza direcionada ao bem. E a Felicidade está na busca interior, na nossa essência, dos atributos e da disposição (as vezes custosa) do encontro com o outro (não necessariamente humano), profundamente diferente de nós. É nesse encontro entre diferentes, dispostos e abertos uns aos outros, que podemos experimentar a potência construtiva de Deus e é ali que habita a tal Felicidade.