“Você está de parabéns! Foi um parceiro muito participativo. Fiquei impressionada”, foram as palavras de Ruth, o nosso anjo da guarda durante o parto, para mim, acrescentando que normalmente os companheiros que têm filhos na casa de parto são bem participativos, mas raramente ajudam as esposas sem precisar de orientação da parteira.
Juro que o comentário da dona Ruth, parteira com mais de 20 anos de experiência em partos domiciliares na Inglaterra, não encheram o meu ego. O parto nada tem a ver com egos. É um milagre tão grande que essas miudezas humanas passam longe.
Se eu pudesse resumir em uma palavra as (só?) cinco horas entre o início das contrações regulares até o nascimento da Tainá eu diria: cumplicidade. Do encher a banheira para minha esposa relaxar, a fazer massagem nas costas (que eu prefiro muito mais receber). Do proferir palavras de incentivo, aos sorrisos e a lembrança de que logo conheceríamos a nossa amada filha.
Cumplicidade é a base de qualquer família. Não tenho dúvidas disso. Porém, seria um erro pensar que ela começa no parto, ou mesmo na gravidez. O cuidado mútuo, os sacrifícios pelo outro, a empatia e a paciência se desenvolvem na vida à dois muito antes. E esse exercício passa a fazer muito mais sentido em momentos fortes como o do nascimento de um filho. Nele, a capacidade de amar, incondicionalmente, é colocada no limite.
Bom… quando voltamos da casa da madrinha da Flavia tudo realmente ficou bem mais intenso. Preparamos a banheira, a Flavia tomou banho e tentou relaxar na água, mas não encontrar uma posição confortável parecia deixá-la mais agitada. Então decidimos ir para o nosso quarto. Com um aplicativo de celular eu ia monitorando a regularidade das contrações, tentando ficar atento às reações da minha esposa para entender o aumento da intensidade delas. Mas já depois de uma hora, a dor, somada a preocupação de se o bebê estava bem, nos fez ir para a casa de parto.
A Flavia ligou e as 23h lá estávamos para um controle. Tudo bem com a mãe e filha, mas o trabalho de parto só havia iniciado. Dois dedos de dilatação. Fomos orientados a voltar para casa para a Flavia descansar, porque a “maratona” até o nascimento poderia ainda durar mais de 12 horas. Então entramos no carro um pouco decepcionados em ter que ainda esperar pelo grande encontro.
E eu? O Pai. O que senti? Nada… na verdade não lembro muito bem. Foi tudo tão intenso e estava tão preocupado em estar lá, presente, para minhas queridas, que não tive tempo para refletir.
Às 24h chegamos na casa da minha sogra novamente. Fomos para o quarto e lá começou a etapa mais difícil de toda a experiência do parto. Dor, gritos, tensão, mas dentro felicidade. Gratidão. O tema do último texto.