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No primeiro post de 2015 de “Amor binacional”, gostaria de acenar para um aspecto fundamental da vida à dois que as vezes é pouco valorizado: a partilha total da vida, com apelo particular à realidade econômica.

O título do texto denuncia uma dimensão um pouco assustadora do casamento, mas bem real: casar é dividir tudo ou nada! Para quem opta pelo “tudo” a vida fica mais complicada, mas igualmente desafiadora.

O meu, o dela, tudo agora é nosso

Eu e minha esposa estamos entre os casais que decidiram partilhar tudo. Passados os dois primeiros anos, percebemos como essa escolha acabou se tornando o fio condutor da nossa vida.

Vou exemplificar. Um dos maiores desafios que experimentamos recentemente como família binacional diz respeito à vida profissional. A decisão inevitável de viver em um dos dois países acabou me levando a abrir mão (voluntariamente) da rede de contatos profissionais que tinha no Brasil, para começar uma nova, aqui na Suíça. Agora, em outra nação, tenho vivido um árduo (mas riquíssimo) processo de adaptação ao mercado de trabalho, principalmente com o aprendizado de novas línguas.

Inicialmente, só minha esposa conseguiu um trabalho estável. Nesse contexto, como seria possível viver vidas economicamente distintas, se as entradas só chegam regularmente a um de nós? Partilhar tudo também permite que nos ajudemos, reciprocamente, a ter a paciência e a Fé necessárias para ir além das dificuldades normais de quem opta por uma dinâmica familiar com maior mobilidade. O esforço é importante, mas é interessante também se dar conta de que, muitas vezes, a própria conjuntura acaba nos ajudando a dar os passos necessários.

tudoInúmeros casais cometem o erro grave (ao meu ver) de não viver uma partilha total, principalmente economicamente. Muitos simplesmente continuam a vida de solteiro, com as próprias despesas e entradas individuais. Na maioria das vezes as despesas são divididas, mas sem um projeto comum, sem um planejamento familiar. Não acho errado que cada um tenha a própria conta bancária, mas acredito ser fundamental a consciência de que, quando se vive em família, não existe mais o “meu” ou o “seu”, mas tudo passa a ser “NOSSO”.

A partilha de tudo, especialmente da realidade econômica estimula o desejo de viver juntos os outros aspectos, sejam eles espirituais, humanos, produzindo efeitos colaterais surpreendentes até mesmo na vida íntima.

Neste mundo que insiste em promover o individualismo como única alternativa para à “auto-felicidade”, entregar-se, partilhar e confiar no outro pode até parecer loucura, mas é um desafio cotidiano que traz ótimos benefícios para qualidade da vida à dois.