Ferguson

Nos últimos dias, fui com a minha esposa na parte alemã da Suíça festejar o aniversário de uma das minhas cunhadas. Mesmo se sou residente há 8 meses na Confederação, sempre que vou àquela região, me dou conta do quanto multicultural é esse pais que me acolhe.

Este período como imigrante também tem me ajudado muito a entender a importância de:

  • jamais fazer comparações qualitativas do país em que vivo com meu país natal e, muito menos,
  • transformar as diferenças existentes em algum tipo de preconceito.

Comparações nos levam a julgamentos, muitas vezes, perigosos. Não que eu ache importante ignorar as diferenças, relevá-las, mas é fundamental não deixar que elas se tornem “muros” que me separam da cultura em que estou inserido.

Bom, melhor exemplificar. Os suíços são pessoas discretas. Eles não perguntam naturalmente sobre a vida de ninguém e nem mesmo falam de si mesmos. Por aqui, o tempo é fundamental para a confiança e a abertura, mas, quando elas existem, “são para toda vida”. Desde que cheguei, percebi que muita gente me trata de modo “estranho” (a mim desconhecido) não porque sou isso ou aquilo (imigrante, brasileiro, etc…), mas porque acabei de chegar e ninguém ainda me conhece plenamente. Ponto.

Entender esse fato me deu paz e me ajudou a não desenvolver comportamentos preconceituosos em relação à cultura local.

 O caso Ferguson

FergusonNos últimos dias tenho acompanhado com apreensão o caso do jovem negro estadunidense, assassinado por um policial branco. Fiquei espantado com a abordagem dos meios de comunicação, que parecem promover uma atmosfera racista aparentemente superada nos Estados Unidos.

Não estou querendo ignorar um problema importante e que preocupa: no mundo inteiro tem acontecido uma escalada da violência policial. O Brasil é um exemplo vergonhoso dela.

Entre as mais violentas do mundo, a polícia brasileira é também uma das menos preparadas. A violência urbana no país, de forma geral, é consequência disso. Quando somos inteligentes e temos os meios (formação e tecnologia) para lidar com possíveis delitos, não precisamos (sistematicamente) fazer uso da violência. A razão nos ajuda a entender problemas e solucioná-los de maneira eficiente e respeitosa.

Contudo, não é o que acontece aqui e nem o que aconteceu nos Estados Unidos. As consequências? Vidas perdidas.

 A fragilidade do equilíbrio social

FergusonTenho aprendido aqui na Suíça, de quando se trata de uma sociedade multicultural, é importante tomar cuidado com a fragilidade dos “equilíbrios” sociais. Certamente os Estados Unidos tem uma história crescente e significativa de luta contra o racismo. Obama é um símbolo. Mas isso não quer dizer que as décadas de exploração contra os negros foram completamente superadas.

Mesmo tendo pouco conhecimento de causa no contexto estadunidense, devo dizer, como afrodescendente, que acho difícil falar de uma sociedade racista. Claro que o racismo pontual ainda existe e talvez sempre existirá, pois é uma forma de o ser humano “extravasar” seu medo em relação a um “outro”, desconhecido ou, até mesmo, mais “forte”.

O que vi nas manchetes dos jornais, contudo, é a volta ao discurso de um racismo social de maneira, ao meu ver, preocupante.

Devemos entender com sabedoria quais são os problemas existentes, tomando cuidado com julgamentos. Um fato é a policia ser violenta e despreparada, outro fato é ela ser “ideologicamente” racista.

O respeito às diferenças sociais como um valor e um direito é uma conquista que custou o sangue de muitos seres humanos. Não deixemos que os discursos destruam tudo aquilo que, a duras penas, construímos (e procuramos melhorar).