Month: December 2014

Frio do Natal

O frio do Natal – reflexões em uma data reflexiva

frio do Natal

Natal. Tornou-se um privilégio festejá-lo em terras brasileiras, com meus pais, irmãs e amigos. Voltar para o meu país nesse período é uma oportunidade de reviver a beleza dos laços de amizade, em uma sociedade onde os relacionamentos ainda têm um papel central na vida das pessoas.

Esse período festivo também me faz pensar na opinião de muitos europeus, de que o clima de Natal é mais “forte” quando faz frio. “Natal no calor? Que estranho!”, ouvi muitos questionarem com curiosidade.

Vivendo no Velho Continente, depois da breve passagem pelo continente africano, eu pude perceber que em sociedades, como a europeia, em que os relacionamentos interpessoais parecem ter menos importância, o frio é praticamente um instrumento “divino” de unidade. É no inverno que as famílias passam mais tempos recolhidas, juntas no calor do lar, muitas vezes ignorado pelas inúmeras atividades durante o ano.

É verdade, no frio o esforço de estar juntos parece menor, aumentando o valor dado ao calor (exterior e interior) dos lares com seus aquecedores.

A chegada do Salvador?

Natal também me leva a pensar no tal Salvador. Sim, Jesus Cristo. Não quero me deter na veracidade histórica do personagem, mas na justificativa religiosa da sua vinda à esse mundo.

frio do Natal Cresci ouvindo que o Natal é a festa do Salvador. Mas Salvador de quem? O que é que eu fiz de tão grave para precisar de salvação? Bom, vida e estudo me fizeram entender que, na verdade, Jesus não veio ao mundo com objetivo de salvar ninguém, mas para deixar uma mensagem que, pela sua potência, pode ser considerada libertadora, salvadora. Logo, acabamos simplificando dizendo que o aniversariante do dia 25 é mesmo o Salvador. Coisa nossa!

Natal para mim é…

Pessoalmente, gosto muito do Natal, mas entendi que a Páscoa é uma festa mais relevante. É nela que a mensagem “salvadora” do aniversariante de hoje se manifesta de maneira definitiva. Depois de uma vida exemplar, Jesus não precisava morrer. A sua morte não estava programada, mas ao dar, literalmente, a própria vida, Ele redimensionou o significado do que é amar (e assim, nos salvou de uma existência vazia).

frio do Natal Frio e sacrifício, ao meu ver, têm essa força potente de coesão. Já dizia Manuel Antônio de Almeida em Memórias de um sargento de milícias “Não há nada que mais sirva para fazer nascer e firmar a amizade, e mesmo a intimidade, do que seja o riso e as lágrimas: aqueles que se riram, e principalmente aqueles que uma vez choraram juntos, têm muita facilidade de fazerem-se amigos”.

Dessa forma, o Natal (com ou sem frio) acaba sendo um interessante instrumento para nos aproximarmos uns dos outros e expandir nossa existência a uma dimensão comunitária.

Redescobrir o valor de partilhar e de viver a vida juntos. Para mim, essa é a grande mensagem do Natal.

Que esse momento simbólico seja a oportunidade de entender um pouco mais do valor da família. A maior lição de amor começa com o nascimento de um bebê que, com a sua vida, feita de alegria e sacrifícios, testemunha o que é viver plenamente.

Feliz Natal a todos!

Ferguson

Ferguson: um sinal de alerta à promoção negativa das diferenças

Ferguson

Nos últimos dias, fui com a minha esposa na parte alemã da Suíça festejar o aniversário de uma das minhas cunhadas. Mesmo se sou residente há 8 meses na Confederação, sempre que vou àquela região, me dou conta do quanto multicultural é esse pais que me acolhe.

Este período como imigrante também tem me ajudado muito a entender a importância de:

  • jamais fazer comparações qualitativas do país em que vivo com meu país natal e, muito menos,
  • transformar as diferenças existentes em algum tipo de preconceito.

Comparações nos levam a julgamentos, muitas vezes, perigosos. Não que eu ache importante ignorar as diferenças, relevá-las, mas é fundamental não deixar que elas se tornem “muros” que me separam da cultura em que estou inserido.

Bom, melhor exemplificar. Os suíços são pessoas discretas. Eles não perguntam naturalmente sobre a vida de ninguém e nem mesmo falam de si mesmos. Por aqui, o tempo é fundamental para a confiança e a abertura, mas, quando elas existem, “são para toda vida”. Desde que cheguei, percebi que muita gente me trata de modo “estranho” (a mim desconhecido) não porque sou isso ou aquilo (imigrante, brasileiro, etc…), mas porque acabei de chegar e ninguém ainda me conhece plenamente. Ponto.

Entender esse fato me deu paz e me ajudou a não desenvolver comportamentos preconceituosos em relação à cultura local.

 O caso Ferguson

FergusonNos últimos dias tenho acompanhado com apreensão o caso do jovem negro estadunidense, assassinado por um policial branco. Fiquei espantado com a abordagem dos meios de comunicação, que parecem promover uma atmosfera racista aparentemente superada nos Estados Unidos.

Não estou querendo ignorar um problema importante e que preocupa: no mundo inteiro tem acontecido uma escalada da violência policial. O Brasil é um exemplo vergonhoso dela.

Entre as mais violentas do mundo, a polícia brasileira é também uma das menos preparadas. A violência urbana no país, de forma geral, é consequência disso. Quando somos inteligentes e temos os meios (formação e tecnologia) para lidar com possíveis delitos, não precisamos (sistematicamente) fazer uso da violência. A razão nos ajuda a entender problemas e solucioná-los de maneira eficiente e respeitosa.

Contudo, não é o que acontece aqui e nem o que aconteceu nos Estados Unidos. As consequências? Vidas perdidas.

 A fragilidade do equilíbrio social

FergusonTenho aprendido aqui na Suíça, de quando se trata de uma sociedade multicultural, é importante tomar cuidado com a fragilidade dos “equilíbrios” sociais. Certamente os Estados Unidos tem uma história crescente e significativa de luta contra o racismo. Obama é um símbolo. Mas isso não quer dizer que as décadas de exploração contra os negros foram completamente superadas.

Mesmo tendo pouco conhecimento de causa no contexto estadunidense, devo dizer, como afrodescendente, que acho difícil falar de uma sociedade racista. Claro que o racismo pontual ainda existe e talvez sempre existirá, pois é uma forma de o ser humano “extravasar” seu medo em relação a um “outro”, desconhecido ou, até mesmo, mais “forte”.

O que vi nas manchetes dos jornais, contudo, é a volta ao discurso de um racismo social de maneira, ao meu ver, preocupante.

Devemos entender com sabedoria quais são os problemas existentes, tomando cuidado com julgamentos. Um fato é a policia ser violenta e despreparada, outro fato é ela ser “ideologicamente” racista.

O respeito às diferenças sociais como um valor e um direito é uma conquista que custou o sangue de muitos seres humanos. Não deixemos que os discursos destruam tudo aquilo que, a duras penas, construímos (e procuramos melhorar).

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