Um dos maiores presentes que a vida me deu foi o prazer de conhecer e conviver com pessoas diferentes. Valorizar esse dom sempre me ajudou a perceber o quanto o outro, que é realmente “outro” na medida que é diferente de mim, pode me ajudar a me desenvolver como ser humano, nas mais variadas e complexas dimensões.
Faculdade: laboratório de convivência
Na faculdade essa “tensão” entre os diferentes era uma riqueza sensacional. Por exemplo: tínhamos de um lado a filha de um fotógrafo de fama e respeito internacional e do outro, uma jovem da periferia, filha de nordestinos migrantes, que deixaram a Bahia em busca de uma vida melhor. Eu, sinceramente, me encontrava no meio desses dois mundos. Não por não ser nem pobre, nem rico, mas porque procurava descobrir, constantemente, em que aspectos, profundamente, eles se diferenciavam. Se só no âmbito econômico ou também nas escolhas morais.
Os quatro anos juntos não só com essas colegas, mas com uma quantidade enorme de pessoas diferentes dentro do mesmo espaço de convívio, me ajudaram em duas coisas: a me apaixonar pelo ser humano, nas suas paixões, ideologias, fraquezas e contradições. E a perceber que, quando existe o encontro, a tensão, o embate (respeitoso), todos crescemos, tanto na tolerância ao diferente, quanto no movimento de coesão na busca de um “caminho” comum.
Claro que esse nem sempre foi um processo estável. Existiram conflitos, desentendimentos, excessos, mas, no final dos quatro anos, eu acredito que vivíamos uma atmosfera muito positiva, mesmo se as diferenças permaneceram.
O dogma da diferença e as eleições
A minha experiência universitária serviu para reafirmar aquele que eu considero um “dogma” na minha vida: a diferença é uma riqueza, não um empecilho. É a partir desse “princípio” que sempre olhei para o mundo e pautei decisões pessoais. O “dogma da diferença” me mostrou que eu deveria me preocupar somente diante da ausência de tensão entre “diferentes”.
As discussões acaloradas desse período eleitoral (e a minha distância geográfica) me impossibilitam de ler, com clareza, o ambiente e as necessidades do Brasil no contexto atual. Contudo, um aspecto tem guiado a minha decisão (angustiada) de sustentar a mudança no Governo: a inexistência de uma verdadeira oposição.
Não sou um crítico ferrenho do governo do PT. Nunca serei. Pois pude usufruir pessoalmente dos bens sociais que eles promoveram, sobretudo na Cidade de São Paulo. Porém, também não acho correto compactuar com os desvios morais, provados, de alguns de seus membros.
O que sustento, com a eleição do Aécio Neves, não é um apoio ao PSDB, à sua ideologia e, principalmente, à moral de seus membros, dignas de suspeita e do mesmo temor que tenho do PT. Acredito, acima de tudo, no bem político da Oposição.
O PSDB e seus aliados se mostraram incompetentes enquanto oposição ao governo petista. O tal partido de direita deve, por isso, também ser responsabilizado pelo crescente autoritarismo do Partido dos Trabalhadores.
Pessoalmente, eu não tinha capacidades analíticas quando o PSDB governou o país. Tenho más impressões do que o partido tem feito com o Estado de São Paulo nos últimos 15 anos. Contudo, gostaria de dar uma chance ao partido, mesmo cheio de temores, mas acreditando que o PT é mais competente como oposição do que como situação governamental. Para mim é fundamental encontrar novamente um cenário de existência e convivência de tensões e interesses. Só assim o Brasil vai para frente com uma força coesiva.
Um adendo à abertura
A situação que idealizo para o cenário político brasileiro talvez seja um tanto quanto ingênua. É difícil acreditar que um governante, independente do partido, estará essencialmente aberto para incorporar as “verdades” impulsionadas pela Oposição.
Na minha vida, na prática, também foi assim. Por mais que admirei e considerei interessantes todos os meus colegas universitários, acabei ficando amigo mais de um, que de outros. Acho que, tendencialmente, as pessoas mais ricas (e não necessariamente mais letradas) têm um interesse maior em dimensões materiais, enquanto as mais pobres (economicamente falando) valorizam mais as interações humanas.
Enfim, não importa o contexto: político, econômico ou social. Sem o confronto construtivo entre os “diferentes”, aumentamos as possibilidades de equívoco. Quanto mais homogêneo é o espaço de convívio, mais perigoso e autoritário ele pode se tornar.