Devo dizer que nunca gostei de ser estereotipado. Mas, enfim, alguém gosta? Já tiraram o sarro da minha cara por ser negro e torcer para o Palmeiras, supostamente time de branco. Achavam estranho quando, na minha adolescência, em vez de gostar de pagode ou rap – música de negro e pobre, como talvez pensavam, eu gostava de heavy metal. Coisas da vida. É partindo desse conceito que, da mesma forma, condeno quem acha que, por motivos sociais, eu seja obrigado a votar no governo do PT.
Tenho pensado muito em política nos últimos tempos. Tanto por motivos profissionais – artigos – quanto pela desilusão de não poder, pela segunda vez, participar fisicamente do momento eleitoral no Brasil. A experiência vivida fora do meu país, completamente imerso em uma outra sociedade, profundamente diferente daquela brasileira, tem me ajudado a abrir minha cabeça às outras possibilidades, maneiras de se governar um país e de participar politicamente.
Democracia adolescente?
Não sou um intelectual renomado e nem me sinto de forma alguma superior aos meus estimados compatriotas, mas o teor das discussões políticas no Brasil tem me mostrado o quanto somos um povo que precisa amadurecer – e muito – o debate democrático.
Antes de tudo, na capacidade primordial de aceitar e respeitar quem pensa diferente. Vivemos o período eleitoral de maneira destrutiva e antagônica. Ainda acreditamos que a política é feita de incompatibilidades. Ricos OU pobres, nordeste OU sul, brancos OU negros e etc. Ou você é Aécio, ou Dilma. E no final ambos têm pontos positivos e negativos. Não sejamos ingênuos.
O que precisamos entender, a priori, é que participar politicamente não é postar comentários destrutivos e preconceituosos nas redes sociais (como já fazem normalmente os candidatos). Precisamos buscar uma ponderação e uma abertura para entender o que é melhor para o Brasil, independente do candidato, nos próximos quatro anos.
Minhas reflexões pessoais
Já disse, mais de uma vez, que não enxergo grandes diferenças, principalmente morais, entre os dois candidatos à presidência. Os projetos políticos são tão antagônicos, que parecem se encontrar nos “extremos”. Sonho um projeto equilibrado e que não seja excludente. Oxalá que um dia esse devaneio se realize!
Concretamente, sobraram somente duas opções. Tem o tal governo dos ricos, dos tais “letrados do sul” e o dos “pobres”, do nordeste, que precisam ser assistidos socialmente. E bem, o núcleo das discussões é esse. Ponto.
Não quero que vença as eleições o candidato dos pobres. Também não quero um presidente que governa para os ricos. Quero alguém que pense no Brasil e valorize o contributo dos “ricos”, sem se esquecer dos “pobres”. Alguém que, acima de tudo, é capaz de escutar, de coexistir com a ideologia da oposição.
Valorizo as virtudes do trabalho do PT no governo Dilma. Tendo a defender que um governo deve, antes de tudo, trabalhar pelos mais necessitados, pois os tais “ricos” têm os recursos necessários para proverem aquilo que o Estado não dá. Porém, para mim ficou evidente que a presidente Dilma, durante o seu mandato, não soube negociar, foi autoritária e ideologicamente perigosa.
Sobre o Aécio, não tenho muito a dizer. É verdade que ele não foi eleito no estado em que foi governador. Contudo, é preciso ressaltar que, em todo o “território” de Minas economicamente privilegiado (sul do estado), Aécio ganhou, reafirmando a tendência de votos dos mais ricos ao PSDB.
Não tenho simpatia pelo candidato do PSDB, nem o considero moralmente confiável. Também tenho muitas críticas a respeito da ideologia do seu partido. Contudo, não compartilho a ideia de que a “direita” acabou com o Brasil (mesmo achando que fez um grande mal para o Estado de São Paulo). Por isso, se as eleições fossem hoje, eu talvez optaria pela alternância de poder. Não acho saudável, nem para o Brasil, nem para o próprio partido, que o PT continue no Governo Federal. Acho que nesse momento ele deve exercer sua influência no Congresso, como oposição ao Governo.
Assim, ao PSDB (se conseguir eleger o presidente) ficaria o desafio de recolocar o Brasil economicamente nos trilhos e também recuperar a confiança dos investidores. No mundo de hoje nós precisamos estar conectados com as outras economias. “Criminalizam” essa interdependência talvez só os governos da Coreia do Norte, da Venezuela e de Cuba. Mesmo diante dessa escolha, tenho que admitir um certo temor sobre quem responderá pelo ônus desse processo de reestruturação que considero necessário.
Um último comentário
É triste pensar que o futuro do país se resume a dois domingos e um pouco mais de um mês de discussões. Tem gente que acredita que isso é participar, isso é construir o país. Na minha singela opinião, sem uma reforma radical que aproxime o eleitorado das escolhas políticas cotidianas, continuaremos brincando de decidir o futuro do Brasil, torcendo para que a esperança seja maior que o medo.