Recentemente um vídeo fez grande sucesso na internet ao prometer que você, após assisti-lo, “teria vontade de jogar seu celular no lixo”. Até parece exagero a princípio, mas de fato o vídeo mostra situações corriqueiras e repetidas em todo o mundo, nas quais o telefone celular ou outro dispositivo eletrônico roubam tanto a atenção das pessoas que elas ficam praticamente como seres isolados, cada qual em um mundo virtual, desprezando ou ignorando situações de convívio social.
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Não há dúvidas de que o avanço das tecnologias abriu possibilidades que sequer podiam ser imaginadas para a vida real em um passado não muito distante. Se nossos pais mandavam cartas que podiam às vezes demorar semanas para chegar ao destino, hoje os e-mails e redes sociais permitem comunicação instantânea não apenas com uma pessoa, mas com grupos inteiros, em qualquer parte do mundo.
Sem dúvida é um tanto quanto sedutora a impressão de que o mundo todo está ao alcance de seus olhos e dedos por meio de computadores, tablets e telefones celulares com acesso à internet – os chamados smartphones.
Negar os benefícios que esses avanços tecnológicos e de comunicação permitiram é uma grande besteira. Mas ainda pior é se tornar um dependente completo dessa interação virtual, desprezando ou ignorando as interações humana mais antigas: o toque, as expressões faciais, a fala, o olhar, os aromas. Em suma, tais pessoas praticamente abdicam de viver a própria vida. E infelizmente essa situação tem se tornado comum, como bem mostram o vídeo e os exemplos contemporâneos.
Levantar o olhar e para enxergare o outro
Quem nunca viu a curiosa cena onde amigos estão juntos, em uma mesa ou sentados lado a lado, mas cada um com seu telefone celular interagindo ou jogando sabe-se lá com que jogo ou rede social? Até mesmo locais conhecidos por permitir interação direta com pessoas de todo o mundo, como a sala de convivência de um hostel, perderam em grande parte essa característica com a chegada das redes sociais aos dispositivos móveis.
De certa forma todos são atingidos, direta ou indiretamente por essa realidade – seja quando alguém deixa de interagir com você ou quando abrimos mão da possibilidade de falar com o outro por preferir dar atenção ao celular. No entanto, uma tela de computador, celular ou tablet não pode substituir o olhar de cada um.
Sim, é possível fazer diferente
Pouco depois que assisti a esse vídeo, procurei controlar o tempo que passava ao celular, seja na rua ou em casa. E dias depois tive uma prova bem clara de como podemos perder oportunidades e experiências se restringirmos nosso círculo de atenção ao celular.
Estava em pé dentro do metrô de São Paulo, a caminho do trabalho, quando desliguei o celular por conta da superlotação. Vi uma moça que estava com dificuldade de se mexer dentro do vagão por conta da grande mochila que carregava. Ao notar isso, ofereci o canto do vagão onde estava para ela acomodar a mochila. Ela prontamente aceitou e começou a conversar comigo: era uma turista belga, que estava no Brasil para visitar seu namorado; apesar do pouco tempo em terras brasileiras, mostrou bom domínio do português e uma disposição para conversar que eu não esperava.
Sem dúvida essa companhia inesperada tornou a viagem bem mais agradável e foi um exemplo claro de como é possível “virar a esquina” quanto à “ditadura do celular” à qual tantos de nós se submetem.
Ou seja, para começar a virar a esquina e viver sua vida, basta começar por uma atitude bem simples: apenas levante o seu olhar e observe o seu redor.
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Rodrigo Borges Delfim, formado em jornalismo pela PUC-SP em 2009, trabalha atualmente na área de Novas Mídias do portal UOL. Interessado em Mobilidade Humana, Políticas Públicas e Religião, desde outubro de 2012 mantém o blog MigraMundo para debater e abordar migrações em geral. É também participante da Legião de Maria, movimento leigo da Igreja Católica, desde 1999.