Já se foram quase duas semanas que mais uma Copa vivida fora do Brasil terminou. Porém, só agora tive tempo de sentar para escrever o texto conclusivo dessa seção, que mostrou meu olhar, como brasileiro residente no exterior, durante a Copa do Mundo. Infelizmente, de novo, não sobraram muitos motivos para me alegrar. A primeira justifica talvez seja a mais óbvia: a seleção brasileira jogou mal, mas tão mal, que foi massacrada, humilhada, em seu próprio país.
No fundo, eu não achava que a seleção seria campeã com um time tão limitado e emocionalmente frágil. Mas, perder de 7×1 foi um duro golpe que, até hoje, tem consequências diretas quando encontro com as pessoas que vivem aqui em Genebra.
Perder, ganhar, o que realmente importa?
Eu não gosto de perder! Nunca gostei! Como jogador amador, todas as vezes que entrei em campo foi para participar, claro, mas com o objetivo de vencer.
Com o tempo – e a idade – me dei conta que, além do fato de vencer, existem outros fatores importantes escondidos em uma competição esportiva, como, por exemplo, a capacidade de vivê-la de maneira coletiva e fazer dela uma experiência que transcenda as vitórias nos gramados.
A Alemanha, ao menos diante das câmeras, parece realmente ter conseguido fazer da sua estadia durante à Copa, um mergulho cultural no Brasil. A bonita amizade construída com a comunidade que vive nas proximidades daquele que foi o seu centro de treinamento na Bahia, foi mostrada ao mundo inteiro, gerando uma grande simpatia dos brasileiros com os jogadores alemães.
Dentro de campo a “Mannschaftt” alemã foi implacável e mereceu, mais que qualquer outra nação, o tão sonhado título (por azar dos argentinos que, como nós, tiveram o seu próprio Maracanazo).
Rivais mas não inimigos!
Rivalidade, quando se trata do esporte, é sempre algo saldável. O rival é aquele adversário que, por ser tão bom quanto nós, nos impulsiona a trabalhar mais para poder vencê-lo.
Eu, como palmeirense, tenho muitos amigos e parentes corintianos. Adoro tirar o sarro deles, de diferentes formas, mas procuro não deixar que a rivalidade destrua as relações positivas que tenho cada um deles.
Com os argentinos o sentimento é o mesmo. A Argentina sempre teve uma grande seleção e vencê-la sempre teve um gosto especial, porém isso não tem nada a ver com a minha amizade e admiração com o povo do país vizinho.
O povo argentino, especialmente de Mendoza, Córdoba, Rosário e Bahia Blanca, é sensacional. A Argentina é uma nação maravilhosa. Tenho grandes amigos lá e um amor especial pelas suas terras e pela rica cultura. Alguns amigos brasileiros dispararam críticas àqueles que, como eu, torceu para os Hermanos na final contra a Alemanha. Mas, sinceramente, estando longe do meu continente, torcerei sempre pelas nações latino-americanas.
Entristeci-me com o modo como a mídia brasileira e argentina promoveram as atitudes violentas dos torcedores fanáticos que, como os membros das torcidas organizadas, são, na verdade, bandidos.
A esperança de um futuro melhor
Como torcedor tenho que admitir que o desfecho humilhante da seleção brasileira me tornou “alvo” de zueira para todo estrangeiro que descobre de onde eu venho. Com um sorriso amarelo tento explicar que, mesmo tendo sido humilhada, a seleção brasileira continua sendo historicamente a maior de todas. Que perder faz parte e que essa derrota, em especial, pode nos ajudar a crescer e perceber que não se pode viver de improviso e do talento de um ou outro.
Posso assegurar que perder uma Copa no Brasil é triste, mas fora é muito pior. Ninguém poder – e nem quer – te consolar. Nenhuma pessoa entende o que significa a seleção brasileira de futebol para o povo tupiniquim. É preciso ser brasileiro e, acima de tudo, estar no Brasil.
A Copa acabou, mas as lembranças vão ficar. A zueiras, as provocações. A alegria, o sofrimento, o alivio, o desespero, a decepção. Mas, sobretudo, a esperança de que, daqui a quatro anos, o desfecho da competição futebolística será outro.
Minhas esperanças transcendem também os gramados. Sonho que, as nossas decisões no segundo semestre, nos façam um país melhor, também fora dos gramados.
eLe
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