A diversidade deve ser sempre conciliada com a ajuda do Espírito Santo; só Ele pode suscitar a diversidade, a pluralidade, multiplicidade e, ao mesmo tempo, realizar a unidade.
Eu encontrei a frase religiosa acima na exortação apostólica Evangelii Gaudium, Alegria do Evangelho, em português. Geralmente não gosto muito de fazer discursos religiosos, pois acredito que cada um, à sua maneira, deve viver a própria Fé, sem alguma necessidade de convencimento doutrinal.
Porém, fiquei impressionado com essas palavras do Papa Francisco, pois elas resumem bem o significado de uma forte experiência que eu e minha esposa vivemos recentemente em família.
Dificuldades com a família de origem.
Ninguém casa pensando na dor ou nas dificuldades inerentes da vida à dois. Comigo foi igual. Casei certo de que a minha esposa era (e é) a mulher da minha vida, depois de ter feito outras experiências e entendido que essa escolha não é, como pode parecer, relativa.
Pois bem, desde o dia em que decidimos começar “formalmente” nossa vida juntos, passaram-se alguns (poucos) anos e, graças ao bom Deus, vivenciamos muito mais momentos positivos que experiências negativas. Porém, nos últimos meses, fomos surpreendidos com um conflito, normal, mas até então inédito em nossa vida familiar.
Por motivos que não irei transcorrer aqui, para não me alongar, tive um triste desentendimento com o meu sogro, com quem sempre mantive uma relação de muito respeito e confiança. Como vivemos distantes dele, as possibilidades de comunicação que tínhamos no momento acabavam sempre sendo má interpretadas e por isso, por quase quatro meses, eu e minha esposa sofremos por não podermos esclarecer pessoalmente o mal entendido.
Acreditar na importância da oração instrumental[i]
A impossibilidade de fazermos algo concreto, com as nossas forças, para resolvermos rapidamente a situação, nos levou a uma solução, para mim, inesperada: rezar. Confio e sempre confiei muito na oração, mas nunca tive uma relação instrumental com ela, acreditando que o simples fato de rezar poderia resolver aquilo que estávamos vivendo.
Mesmo assim, juntos, decidimos rezar um Pai Nosso após as missas que participamos, pedindo a Luz e a felicidade do meu sogro e acreditando que Deus poderia clarear em nossos corações o significado dessa experiência.
Porém, o dia do confronto chegou. Depois de muita tensão e lágrimas, conseguimos alcançar a desejada reconciliação. Um momento marcante, vivido entre todos e que me mostrou, mais uma vez, como o Amor é capaz de triunfar sobre o mal.
Foi Deus ou fomos nós?
A resposta que me dou a essa pergunta, sem pestanejar, é: foram ambos. Como diz a frase do Papa Francisco: “A diversidade deve ser sempre conciliada com a ajuda do Espírito Santo; só Ele pode suscitar a diversidade, a pluralidade, multiplicidade e, ao mesmo tempo, realizar a unidade”.
Digo isso porque, quase sempre, os conflitos – como o que tive com meu sogro – se manifestam por conta da diversidade, que em si é positiva. Porém, a tolerância (e a misericórdia) em relação ao outro, a tal “unidade” que a frase parece evidenciar, exige algo que vai além das nossas forças humanas. Essa experiência que vivemos juntos, com a minha esposa e toda a nossa família europeia, me mostrou de maneira única o poder da oração instrumental e, com ela, a disposição de fazermos a nossa parte, para buscar a almejada unidade, na diversidade.
[i] Quando digo instrumental, considero a oração algo que serve como um meio – não necessariamente o único – para determinado fim positivo. Nós não acreditamos que a oração tem um valor que se limita a sua imediata instrumentalização, como uma fórmula mágica. O que cremos é que, rezando para um determinado fim, colocamos todo o nosso ser, limitado e insuficiente, nas mãos da Força Divina, capaz de auxiliar na verdadeira resolução da causa apresentada.