Acordar cedo – por iniciativa própria – mesmo sem ter de sair para trabalhar. Depois, durante o dia, ocupar-se com projetos profissionais pessoais, intercalando-os com os cuidados da casa (lavar roupas, cozinhar, limpar) e o estudo da língua. Essa tem sido, em resumo, a minha vida nestes quase dois meses de Europa.
Quem lê a descrição acima, pode talvez julgar de forma errônea esse momento da minha vida, talvez imaginando-me frustrado, desmotivado, por aquilo que vivo. Acontece que, a dinâmica de um casal binacional exige alguns sacrifícios específicos. Porém, essas “renúncias” não me fazem, de jeito algum, uma pessoa menos realizada, mesmo se, em alguns momentos, outros aspectos importantes da minha vida acabam ficando de lado.
O sonho da carreira profissional e sonho da família
Sempre soube o que queria “ser quando crescer”: jornalista. Quem acompanha o escrevoLogoexisto, ao longo desses quase oito anos de existência, sabe bem o porquê: transformar sentimentos, reflexões e percepções em palavras é o maior dom/presente que posso oferecer às pessoas que leem o que eu escrevo.
Todo o meu caminho profissional até agora serviu para desenvolver minhas capacidades e, entre descobertas e experiências, me dei conta do quanto me satisfaz ver que os meus talentos, quando partilhados, tocam os corações das pessoas e fazem com que elas reflitam sobre outras possibilidades de viverem a vida, fazerem escolhas, serem felizes e gerarem felicidade.
Por outro lado, não vou negar que jamais fui um homem de carreira profissional. Isso não quer dizer que não tenho ambições neste importante aspecto da minha vida. Claro que sou ambicioso! Mas, para mim, a satisfação pessoal sempre esteve intrinsecamente ligada ao sonho de viver a minha vida EM FAMÍLIA.
Pessoalmente, tenho feito experiências profissionais e intelectuais muito satisfatórias. Todas elas me fizeram crescer e descobrir como é fundamental encontrar uma atividade onde possamos fazer frutificar nossos dons para o bem da humanidade e, claro, para a nossa felicidade. Contudo, chegou um momento em que eu ansiava viver tudo isso “acompanhado”. Era uma força “interior” que me dizia “é impossível ser feliz sozinho”.
Assim, depois de (re)encontrar a Flavia – minha esposa – decidi me casar e dali em diante a minha vida começou a ser desenhada junto à dela, o que me levou a ter de fazer alguns sacrifícios, mas que, por outro lado, me fazem muito mais pleno.
A ilusão de uma carreira profissional perfeita x Viver por um Projeto Maior
Mesmo estando em situações profissionais aparentemente fantásticas – como trabalhar na equipe do programa Roda Viva, da Tv Cultura – percebi logo que não existe uma carreira perfeita.
Independentemente do trabalho que se faça, para que ele dê um resultado visível importante, é necessária muita dedicação, inúmeros sacrifícios e os frutos nem sempre são os esperados. Além disso, existe também a rotina de trabalho repetitiva que, mesmo se com variantes, encontra rapidamente uma mesmice, que se renova mais por conta das motivações interiores do que por aspectos exteriores.
Por isso, juntamente com a minha esposa e neste momento em que talvez não temos os trabalhos “perfeitos” no que diz respeito as nossas carreiras, entendemos que, acima de tudo, é fundamental fazer sempre algo que esteja de encontro com o nosso Projeto Maior: levar a felicidade que construímos em família, às pessoas que encontramos. Um aspecto importante é também ter trabalhos que, mesmo não considerados “ideais”, incorporem a essência desse Projeto, como possibilidades de auxilio concreto às pessoas.
A experiência que fizemos, recentemente, com o “Juntos rumo à África” é um legado fantástico para a nossa família. Lá em Man, na Costa do Marfim, desenvolvendo trabalhos simples, nem sempre ligados a nossa área de atuação profissional, podíamos sempre doar algo às pessoas que encontrávamos, deixando um pouco de nós, dos nossos talentos, para o Bem (=felicidade) daquela comunidade.
Isso nos faz viver essa nova fase, aqui na Europa, repleta de desafios e sacrifícios, com alegria. Talvez com um pouco menos euforia, mas procurando, em cada momento, sermos felizes e gerarmos felicidade.
ele
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