Month: February 2014

África em meio a tantas Áfricas | Valter Hugo Muniz

África

Já se passaram duas semanas de estadia em Man. Esta pequena cidade do oeste da Costa do Marfim tem nos permitido “saborear” inúmeras experiências, fazendo que, aos poucos, tenhamos novas visões e perspectivas gerais do que é a África e quem são os africanos (particularmente os marfinenses que vivem no interior do país).

A Costa do Marfim dos marfinenses

É fundamental, sempre, ressaltar a intensidade da vida aqui. Os encontros com o “outro”, a percepção social, climática (aqui faz um calor úmido intenso) e as conclusões que vamos construindo têm sim muitos dos nossos esquemas psicológicos. Porém, estando aqui, fisicamente, adquirimos um elemento essencial para uma análise mais completa de uma cultura em que os sentidos, muitas vezes, valem mais que a razão.
Nessas terras, percebi o quanto uma cultura é edificada por um povo, claro, mas que exprime a sua subjetividade no interior de um contexto, de um espaço físico que influência suas (complexas) dinâmicas sociais.

O futuro das Áfricas

Somente estando aqui, fisicamente, é possível descobrir (algumas) nuanças da cultura africana, como o significado real da influência marcante das tradições e, acima de tudo, como as novas gerações vivem o dilema de preservar a própria cultura e incorporar as novas possibilidades e perspectivas do mundo globalizado.
Aqui em Man, cidade desconhecida pela maioria dos cidadãos do mundo, os jovens também sonham uma vida melhor, estão (pouco a pouco) conectados com outras realidades por meio da internet e irão, em tempos diferentes, transformar a sociedade que estão inseridos.
Porém, os desafios que envolvem o desenvolvimento da África, não só material, mas cultural, são muitos e somente os africanos têm a capacidade de entendê-los profundamente para, então, superá-los.

A África irá salvar o mundo

Um dos elementos que justificam a afirmação acima (feita pela minha esposa, que é Suíça) é a expressiva ressonância comunitária na vida dos africanos.
No “Ocidente”, ouso dizer, não existem mais verdadeiras comunidades, mas um coletivo de indivíduos, separados de suas raízes familiares e, principalmente, das origens culturais. Salvam-se, ainda, as culturas distantes dos grandes centros que, heroicamente, procuram preservar suas identidades.

Como minha esposa, também acredito que a África, berço da humanidade, tem um potencial de “salvar” o mundo, propondo um modelo comunitário às sociedades extremamente individualistas.

Esta África que estou conhecendo preserva dinâmicas e valores comunitários que, se promovidos de maneira comum, em todo o continente, têm um potencial de desenvolvimento fenomenal.
Entretanto, para que um brilhante futuro da África seja possível é necessário que os países europeus, particularmente da França, deixem que o povo africano encontre as suas próprias respostas e se desenvolva de maneira independente.

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Envelhecer: perdas e lamentações, novos encontros e alegrias

EnvelhecerÉ comum encontrarmos muitos idosos em nosso cotidiano. Um dos principais fatores é o aumento da expectativa de vida do brasileiro e a crescente preocupação com hábitos mais saudáveis e cuidados preventivos desde a juventude. Nunca o envelhecer esteve tão presente na nossa sociedade. Alguns vivem a velhice com mais qualidade de vida, outros menos. Alguns com uma vontade inesgotável de continuar a viver e outros assistindo a vida da sacada. Muitos modos de encarar a tal dita terceira idade.

O saudosismo e os sofrimentos do envelhecer

EnvelhecerNão raro nos deparamos com falas saudosas referentes a um passado glorioso cheio de vitalidade e possibilidades. Por instantes é possível perceber certo brilho no olhar de alguns idosos ao resgatarem lembranças amadas. No entanto, o olhar de tristeza que se segue pelo retorno ao presente, ao que é a realidade atual, é torturante.

Tristeza e dor pelas pessoas queridas que se foram, pelos filhos que seguiram seus rumos, pelo sentir-se inútil, incapaz e dependente. A solidão que emerge de falas como essas me inquietam. Mais do que solidão externa, é a aridez interior que impressiona, um vazio existencial ainda não preenchido.

Tais sentimentos são compreensíveis em uma fase da vida em que realmente o corpo não responde mais como outrora e a mente, em algumas situações, parece estar além da corporeidade. Deseja-se fazer tantas coisas, mas não há força e nem a disposição necessárias. Tudo parece mais difícil. Às vezes a vontade também se esvai e sobra espaço apenas para as lamentações. Pergunto-me como serei quando for velhinha, que sentimentos carregarei ?

O irradiar de uma  luz resplandecente

EnvelhecerPor outro lado, ao celebrar os 80 anos da avó do meu esposo, que passou a ser também minha, percebi que existe uma força interior capaz de irradiar luz, independente da idade e das dificuldades que a vida apresenta. É luz que acolhe e aquece, que aconselha e encoraja, que sorri e faz rir, que aconchega e nos faz ser gratos por tamanho amor, que ama simplesmente porque ama.

Para a ocasião, os filhos preparam uma grande festa. Celebrar a vida é sempre uma dádiva. A vida de nossas mães então é de uma preciosidade inenarrável.  Trabalhamos muito para deixar tudo lindo e digno da festejada. Mas quem realmente fez a festa acontecer e abrilhantar foi ela mesma, D. Suzana, com alegria e vivacidade, força e luz, emocionou a todos.

O salão estava repleto por familiares, netos e bisneto, amigos e, sobretudo, por suas irmãs do coração, as senhoras do grupo da terceira idade. Grupo que despertou nela e em tantas outras pessoas um novo sentido para a vida. Novos encontros e vínculos foram construídos, amizades estabelecidas, alegria restaurada e os olhos que derramaram tantas lágrimas de dor e amarguras pelas dificuldades da vida, hoje se transformaram em lágrimas de emoção, gratidão, alegria e felicidade. Nunca vi uma senhora com tantas amigas! O caminho se faz ao caminhar e como é bom caminhar ao lado de AMIGOS que nos fazem resgatar o sentimento de pertença!

Maturidade. Talvez seja isso. Encontrar a felicidade profunda que faz acolher cada momento da própria história passada, mas que acredita que as melhores lembranças são as de poucos minutos atrás, que já vão dando espaço para as do próximo instante, que é o agora. O presente se renova a cada instante, e é preciso ter olhos para ver, coração para sentir e mente sadia para captar a beleza do “eis que faço novas todas as coisas”.

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 Acessibilidade e inclusão social: preocupação real ou moda? | Karina GonçalvesKarina Gonçalves da Silva Sobral – Formada em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) em 2007, motivada por questões existenciais e busca de respostas em como lidar com o sofrimento do outro, dos tantos outros que já tinha encontrado nas recentes mas, intensas, práticas como terapeuta ocupacional, concluiu em 2011 a “laurea magistrale” em ciências políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália.  Possui experiências, principalmente, no Serviço Público, na área de saúde mental,  e, atualmente, é terapeuta ocupacional com atuação na educação especial.

“Relacionalismo social”: a vida no interior de uma das tantas Áfricas

Relacionalismo social

Já faz uma semana que chegamos em Man. A intensidade da vida e dos relacionamentos faz parecer que estamos aqui há meses.
Nessa cidadezinha há 600 km da capital marfinense Abidjan e (ouso dizer) na África em geral, não servem pensamentos funcionais, conceitos e pragmatismos. Aqui a vida é mediada por um “relacionalismo social” que nada mais é que um estilo de vida estruturado no encontro com o outro.

Relacionalismo social

Uma saudação, um sorriso não são só sinais concretos de educação ou respeito. Aqui, o relacionar-se é condição primordial para ser aceito e assim deixar o grupo dos “eles” e tornar-se do “nós”.
Encontrando, pela primeira vez, as pessoas pela rua é importante cumprimentá-las. “Bem-vindo! Sinta-se em casa!” dizem os nativos com um sorriso.

Perder-se para encontrar

A operação interior mais desafiadora que encontro aqui é, sem dúvidas, “perder” os parâmetros ocidentais de felicidade, de vida, de direitos e deveres, e até mesmo a concepção de ser humano, para mergulhar em um ambiente onde as bases sociais são edificadas a partir de outros postulados.
Fora da África, de maneira geral, vale o indivíduo. Aqui, o Eu é profundamente condicionado ao Nós, com todas as coisas boas e ruins que isso envolve.

Primeiros contatos com uma sociedade relacional

A síntese dessa primeira semana em solo africano é simples: não fale, não julgue, ou tente rotular a cultura africana sem antes ter posto os pés nesse solo sagrado.

Aqui continuamos a ser quem somos, com os nossos esquemas psicológicos, porém, como na África não existe o desejo de positivar a vida com documentos e leis, é fundamental uma imersão sensorial. Só assim é possível entender as tradições e aceitar/respeitar maneiras diferentes de se viver em sociedade.

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Lágrimas que dobram esquinas – Rodrigo Delfim

Lágrimas

“Como dez pessoas podem viver em um espaço tão pequeno?” Essa pergunta foi feita a mim por uma irlandesa de 18 anos durante uma visita à favela da Vila Prudente, na zona leste de São Paulo. Era uma bela e ensolarada manhã de sábado, 20 de julho de 2013. Ao todo, eram 50 jovens irlandeses, todos católicos entre 17 e 22 anos, que vieram à capital paulista para a Semana Missionária, evento da Arquidiocese de São Paulo que serviu como uma prévia da Jornada Mundial da Juventude – que aconteceria no Rio de Janeiro na semana seguinte.

A favela da Vila Prudente, localizada na zona leste de São Paulo e pertinho da região do ABC, é considerada a mais antiga de São Paulo. Poucos sabem ou mesmo devem se lembrar desse fato ao passar pela avenida Professor Luiz Ignácio de Anhaia Mello e pelo complexo de viadutos que liga a região aos bairros do Ipiranga e Sacomã. Próxima a ela estão áreas de alto padrão e grande valor comercial, como o Shopping Mooca e o Parque da Mooca – exemplo clássico dos contrastes que marcam a maior metrópole brasileira e nosso país.

Lágrimas de indignação

LágrimasEu pouco sabia da comunidade às vésperas de visitar o local pela primeira vez. Como faltavam potenciais tradutores para os irlandeses, fui chamado às pressas por uma amiga que estava na acolhida dos jovens. E foi a partir desse “empurrãozinho” vindo do exterior que tive uma das experiências mais ricas nos últimos anos.

A pergunta feita pela minha colega irlandesa e as lágrimas que vieram dela a seguir me fizeram pensar: de fato, como podem famílias inteiras viver em cubículos que certamente devem ser menores que os quartos dos leitores deste texto? Sim, aquela era uma triste realidade confirmada pelo guia. Ou seja: estamos deixando as diferenças sociais se tornarem algo corriqueiro e perdendo a sensibilidade? Ela deveria chocar e mobilizar não apenas aqueles 50 jovens irlandeses, mas todos os cerca de 11 milhões de habitantes de São Paulo.

O choque era ainda maior em uma área da favela que conservava as marcas de um incêndio ocorrido seis meses antes, que tinha destruído cerca de 70 barracos. Felizmente ninguém morreu naquele episódio, mas os traumas materiais e sobretudo humanos eram evidentes diante dos barracos queimados. O pouco que consegui traduzir para o inglês daquele fato – e da realidade daquela comunidade – foram suficientes para tocar aqueles estrangeiros que até então só sabiam das “favelas” (termo usado por eles próprios para designar as moradias precárias nas quais vivem milhões de brasileiros).

Lágrimas de alegria

Contudo, nem tudo foram lágrimas naquele sábado. Apesar das dificuldades vividas pelos habitantes da comunidade, era possível encontrar alegria e demonstrações de solidariedade e superação que não apenas emocionaram os jovens irlandeses e os amigos brasileiros que os acompanharam, mas serviram como lição de vida para cada um dali em diante.

Foi possível ainda conhecer o trabalho feito por missionários da própria Irlanda que chegaram à região ainda na década de 1970. Eles formaram, com a ajuda da comunidade, um centro cultural e de capacitação profissional que ensina informática, alfabetiza e ajuda na inserção social da população local, dando ferramentas para que seus jovens, crianças e adultos possam ter um futuro melhor. Sim, as dificuldades existem e são enormes, mas quem disse que elas não podem ser superadas?

Aqui as lágrimas ainda apareciam no rosto dos jovens irlandeses – e também de seus parceiros brasileiros. Mas desta vez eram diferentes, pois expressavam gratidão, uma lição aprendida, uma nova visão de vida muito mais ampla que se abria no horizonte de cada um, sem o filtro das mídias e dos preconceitos que costumam ser atrelados às favelas e à vida de quem vive nelas. Uma radical virada na esquina para cada um que esteve ali presente.

Vire a esquina

Sei que ao ler este texto pode ficar um gostinho de “quero mais”, mas a experiência e o intercâmbio cultural foram tão intensos que palavras nem sempre são suficientes para expressar a gama de sentimentos e aprendizados que uma experiência como essa podem trazer a uma pessoa.

As lágrimas não apenas expressam nossa indignação com uma realidade perversa e desumana, mas também mostram nossa felicidade e gratidão com palavras amigas, sentimentos nobres. Em suma, as lágrimas podem nos ajudar a virar a esquina do preconceito, dos estereótipos e do determinismo de que “vai ser assim sempre e nunca mudará”. E ao virar essa esquina, é possível ver o quanto podemos fazer para ajudar a mudar essa realidade e tornar mais humanos a si e a sociedade ao redor.

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rodrigo Viajo porque necessito, volto porque quero viajar de novo | Rodrigo DelfimRodrigo Borges Delfim, formado em jornalismo pela PUC-SP em 2009, trabalha atualmente na área de Novas Mídias do portal UOL. Interessado em Mobilidade Humana, Políticas Públicas e Religião, desde outubro de 2012 mantém o blog MigraMundo para debater e abordar migrações em geral. É também participante da Legião de Maria, movimento leigo da Igreja Católica, desde 1999.

Juntos rumo à África: um sonho pessoal, familiar e comunitário

Juntos rumo à África

A vida em família nos leva à aventuras que é difícil descrever. São inúmeras as surpresas, descobertas, no encontro com UM outro que passa a estar ao nosso lado sempre, descobrindo o que nos faz felizes, o que nos irrita, o que nos acalma, o que nos consola. Casei-me sabendo que, além das muitas aventuras que o casamento naturalmente possibilita, viveria outras, mais “radicais”. Agora vamos Juntos rumo à África.

Realizando um sonho em família

Meus colegas de jornalismo, parentes e amigos sabem que entrei na faculdade de jornalismo porque sempre tive o sonho de levar à África, os meus talentos no mundo da comunicação.

Infelizmente, as notícias e histórias que sabemos sobre o imenso continente africano são produzidas por meia dúzia de agências de comunicação europeias e americanas. Ambas têm interesses econômicos que sufocam a Verdade. Por isso, gostaria de, um dia, fundar uma escola de comunicação em algum país africano, para que os jovens do continente tenham cada vez mais a possibilidade de dizerem ao mundo quem eles são e como realmente vivem.

Ok! Esse ERA um sonho pessoal. Mas agora é um sonho de família.

A minha esposa, Flavia, também sempre sonhou em trabalhar em solo africano e isso sempre nos uniu, já quando éramos “só amigos”. Contudo, não imaginávamos que um dia estaríamos voando juntos rumo à África, para realizar sonhos pessoais em um contexto novo, familiar.

Juntos rumo à África: o projeto

Juntos rumo à ÁfricaAmanhã, antes de viajar para a África, vamos de mudança para Europa, continente onde iremos recomeçar a nossa vida. Tudo o que temos está em oito malas de viagem (quatro já estão lá), mas o mais importante não são coisas.

Conversando no final de semana com uma amiga, dizia que não era difícil partir, pois tínhamos pouco. Porém, ela me fez perceber que na verdade temos muito! Amigos, familiares, trabalhos… não é muito em quantidade, mas é tudo o que temos. Por isso estamos deixando MUITO.

Na sexta-feira, viajamos para viver uma grande aventura na Costa do Marfim. Estamos muito felizes, claro, pois não iremos sozinhos. Muitas pessoas que tiveram conhecimento da nossa viagem à África disseram estar admiradas com a nossa coragem. Até gostariam de fazer o mesmo, mas falta o impulso interior necessário para poder deixar tudo: seguranças, projetos, trabalhos e famílias, para viver por um período na África.

Pensando em encontrar uma maneira de tantas pessoas queridas e mesmo aquelas curiosas em relação ao contexto africano, participarem conosco desta grande aventura na África, surgiu a ideia de escrevermos juntos um LIVRO.

O Financiamento Coletivo nos pareceu o formato IDEAL de apoio, porque as contribuições nos ajudariam a cobrir uma parte dos custos da viagem, de maneira profissional, e também permitiria oferecer, como “recompensa”, o fruto concreto dessa experiência.

Partilhar: uma grande “sacada” da vida

Na verdade o projeto é uma desculpa para viver o nosso sonho de maneira comunitária.

Claro que é um sonho pessoal, familiar, mas nada teria sentido sem a nossa comunidade de amigos, familiares… sem as pessoas que, desde o início, nos acompanharam e nos acompanham nessa caminhada rumo à felicidade.

O livro é o fruto concreto. É também um compromisso que estabelecemos entre nós (eu e minha esposa) de viver tudo de modo pleno, para que seja, depois, partilhado de modo puro e verdadeiro.

Nossos colaboradores não irão receber somente uma presente, mas uma “recompensa” por acreditarem que, as experiências mais fantásticas da nossa vida só têm valor quando vividas em comunhão com quem está ao nosso redor.

Vamos juntos rumo à África, porque partilhar é mesmo a grande sacada da vida.

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