Month: January 2014 Page 2 of 3

Vencer: um sentimento que nos une | Valter Hugo Muniz

Vencer

Uma das lições mais duras que o futebol me ensinou foi aprender a perder. Continuei, porém, até hoje, não gostando muito de derrotas, mas já as aceito, principalmente, como possibilidade de crescimento e para saber que não sou superior a ninguém.

Mas, não foram somente lições dolorosas que o esporte mais popular do mundo me deu. Graças ao futebol fiz muitos amigos. Pessoas com quem aprendi a partilhar as conquistas e chorar as derrotas. Companheiros que me ensinaram trabalhar em equipe e me ajudaram a crescer em generosidade, paciência, coragem.

Valores para a vida

VencerInúmeros valores importantes o futebol me ensinou. Saber perder, querer vencer.

E vencer, maravilhoso sentimento, nunca foi para mim motivo de me mostrar aos outros! Cada vitória na quadra ou no campo me ajudou a perceber minhas capacidades e talentos. Que o esforço e a perseverança são ingredientes fundamentais para o triunfo.

O futebol me fez perder o medo de meus limites e me mostrou a importância de me focar nas qualidades, na alegria de participar, competir, de viver.

Cristiano Ronaldo: feliz por vencer, como todos nós

Independentemente se acho que ele tenha um comportamento um tanto quanto arrogante, ontem, eu também me emocionei com Cristiano Ronaldo e, de certa forma, me identifiquei um pouco com ele.

Quando as conquistas são difíceis, quando o esforço precisa ser maior, porque a vitória não vem “de mão beijada” mas depende somente de nós, vencer significa muito e o reconhecimento é motivo de emoção.

Foi assim quando concluí a faculdade, o mestrado, quando me casei. Só Deus (e talvez minha família) sabe o que foi preciso viver para subir cada degrau, conquistar cada vitória pessoal.

Descobertas, lutas, fracassos e lágrimas, muitas lágrimas. Tristeza por não encontrar a Felicidade que sempre buscava. Mas jamais me dei por vencido. Continuei lutando, acreditando que a fidelidade naquilo que acredito, me colocaria no caminho certo.

Bom… claro que a Bola de Ouro é uma conquista profissional importante, mas acho que a família é algo maior, uma conquista muito mais significativa.  Isso não quer dizer que não admiro o Cristiano Ronaldo, pois ele é hoje o melhor jogador de futebol do mundo de forma mais que merecida.

A emoção da vitória nos faz saborear uma humanidade que nos liga como seres iguais, que nos une no desejo de sermos reconhecido pelo que somos, o que fazemos e deixamos.

Viajar: percorrer, peregrinar, sonhar, desvairar |Ana Elisa Bersani

Viajar

Hoje decidi ficar em casa pela manhã. Tomar o meu tempo, desacelerado e em perfeita oposição ao resto do mundo, para arrumar a cama, tomar o café – em casa e de pijamas -, meditar um pouco, rezar. A neve está caindo lá fora, e essa foi a perfeita desculpa para uma manhã no melhor estilo “urso hibernado”. Tomei tempo também para me atualizar um pouquinho da vida dos amigos que andam por aí de férias em terras mais quentes, muito mais quentes. É fácil se perder pelas tantas fotos de verão que circulam pela rede. Férias, tempo de viajar, de cruzar fronteiras, navegar outros mares!

Eu, continuo aqui, me protegendo frio, em meio as cobertas do meu quarto, mas  também me permiti a viagem. Ainda que curta, nos poucos minutos que me restam antes que dê a hora de sair do casulo direto pra vida real, a viagem sempre vale a pena.

Pra fora, ou pra dentro, viajar é sempre bom!

ViajarSe vamos viajar pra fora, somos impulsionados em direção ao novo, ao desconhecido, ao outro. Somos surpreendidos, pois nos deparamos com novas possibilidades, o horizonte se amplia e deixamos de habitar o centro, justamente para podermos nos aproximar desse estranho. Podemos ainda, se formos mais ousados, tomar humildemente o lugar do outro e experimentar a infinita diversidade dos mundos exteriores. Um aprendizado humano, imprescindível na busca do entendimento recíproco e do respeito ao próximo.

Se vamos viajar para dentro, podemos explorar como estrangeiros o que de alguma forma se tornou familiar, mas, depois de um olhar mais cuidadoso, se revela tão misterioso como as espécies mais exóticas, ou os povos do oriente distante. Visitar as margens de nós mesmos não é assim tarefa evidente. É uma viagem que demanda empenho. É ir ao encontro de si para se distanciar de si, para questionar-se. Ao descobrir o mundo interior assumimos a necessidade de buscar o que está fora, pois nos percebemos insuficientes. Apesar de únicos, somos pequenos e a nossa singularidade tão limitada, se isolada.

Talvez seja esse fascinante movimento de fora-pra-dentro e de dentro-pra-fora que chamamos de viagem. Que alegria terminar um ano ou começar um outro assim: viajando! Para acertar os ponteiros da vida que viemos levando erradamente, para energizar, equilibrar o corpo, abrir a mente, mudar o foco, nos recolocar. Ao longo da vida e desse ano novo ainda quase intacto, espero que continuemos viajando em busca das novas possibilidades e mudanças de rumo.

ana elisa As horas: reflexões sobre a relevância do tempo no cotidiano das nossas vidas | Ana Elisa BersaniAna Elisa Bersani – Formada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), em 2010, é mestranda em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Com especial interesse nas áreas de Antropologia do Desenvolvimento e da Ajuda Humanitária, desenvolve pesquisa com ênfase em contextos de crise e pós-desastre. Tendo realizado pesquisa de campo no Haiti, integra, atualmente, o conjunto de Visiting Students do MIT Anthropology (Massachusetts Institute of Technology) em Boston, Estados Unidos.

Desumanização dos direitos: o escandaloso caso de Pedrinhas

Desumanização dos direitos

Há dois dias tenho lido a respeito dos crimes horrendos que foram praticados no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, no Maranhão. Muitos sentimentos misturados: revolta, tristeza, espanto, medo, indignação, vergonha. Acredito que chegamos a um estado de animalização do ser humano que, certamente, nos coloca entre os principais países promotores da desumanização dos direitos.

Desumanização dos direitos: a culpa é de quem?

Sempre que observo esse tipo de situação que envolve a tal “bandidagem”, procuro entender o que de fato leva pessoas a cometerem atos tão brutais, como cortar as cabeças de seus semelhantes. A resposta, eu penso, é que não nos vemos mais como um “grupo de iguais”. Eu, cidadão da classe média, urbano, instruído e empregado, não sou igual a um detento do extremo norte ou das periferias, rude, ignorante, marginal.

Bom. Não é assim que pessoalmente me vejo em relação aos outros brasileiros, mas temo que seja o modo como a sociedade, no geral, vê os socialmente marginalizados, principalmente os que estão geograficamente distantes.

A falta de coesão social ,que gera a busca coletiva a um bem comum, talvez cause o escândalo temporário diante da criminalidade, mas, de forma alguma, cria mecanismos para impedir as inúmeras violações dos direitos humanos.

No caso de Pedrinhas, eu culpo tanto a sociedade, como o Estado. A sociedade, porque ela pouco se importa com quem é privado dos direitos básicos, estando mais preocupadas com a manutenção do próprio bem estar individual. O Estado porque, ocupado em usufruir dos privilégios possibilitados pelo poder, seus representantes fecham sistematicamente os olhos para a animalização crescente da sociedade.

Estado absoluto do Maranhão

Desumanização dos direitosÉ um absurdo pensar que, em meio ao caos em presídios, o Estado do Maranhão previa gastar R$ 1 milhão para alimentar a família Sarney e seus convidados até o fim do ano, nas duas residências oficiais.

Não é possível aceitar esse tipo de coronelismo absolutista, que dá privilégios monárquicos aos detentores do poder e ignora a situação social de um Estado que tem:

“O Maranhão, sob o domínio dos Sarney por décadas, não só permaneceu nas piores posições nos indicadores sociais, mas também viu suas terras serem desmatadas e poluídas, latifúndios crescerem, trabalhadores serem escravizados e assassinados, comunidades tradicionais serem ameaçadas e expulsas, a educação ser sucateada, os meios de comunicação ficarem concentrados nas mãos de poucos políticos”, diz o artigo do blog do Sakamoto.

A imprensa que promove o pânico

O contexto político do Maranhão é perfeito para o absurdo que vimos nos últimos dois dias. Isso mesmo, VIMOS! Graças a publicação na homepage da Folha, quem quiser ler a matéria sobre as decapitações no presídio do Maranhão, pode assistir um vídeo com corpos e cabeças rolando, em meio as risadas e xingamentos dos presos.

O registro feito no Complexo Penitenciário de Pedrinhas publicado e assinado pela TV Folha não é jornalismo. Essas imagens deveriam ser entregues para polícia e não mostradas de maneira escrachada, no site de um dos maiores jornais do país. Um desserviço digno de uma dura punição.

Como jornalista, é difícil aceitar que essas imagens tenham sido mostradas desta maneira. Este crime pode (e deve) ser noticiado, mas não com imagens que, não só promovem o ódio (entre as facções criminosas) e o pânico (na sociedade), como não concorrem para uma maior consciência ativa que leve a resolução pontual do problema.

Desumanização dos direitos: o que eu tenho a ver com isso?

Caso a sua resposta a essa pergunta seja: nada, fique atento, pois um dia a animalização social pode bater na sua porta e levar brutalmente alguém de sua família.

Ignorar socialmente qualquer tipo de marginalização produz a cultura da “justiça pelas próprias mãos”, em que os excluídos, sem voz e direitos, buscam, por meios perigosos,  a própria sobrevivência.

Atos brutais em relação ao outro são fruto de uma sociedade desigual, em que não existe mais a exigência de coexistir, de buscar o bem comum e lutar coletivamente pelos direitos daqueles que não o mínimo.

“A cada dois dias, morre assassinado um preso no Brasil. A cada dia, morrem assassinados 137 brasileiros fora das cadeias. E o que se ouve é apenas o silêncio cúmplice. O tema nem sequer está na agenda dos políticos”, diz o artigo de Reinaldo Azevedo.

2013: descobrindo um Brasil que agora é nosso | Valter Hugo Muniz

2013

Desde 1998 eu escrevo um resumo anual daquilo que vivi, para ter um registro dos anos, que passam tão rápidos e trazem tantas experiências e aprendizados. Olhar para esses textos, que agora chegam a 15ª edição, é fazer uma retrospectiva de METADE da minha vida. Mas, em 2014, eu começo uma nova fase, a dos trinta. Por isso, a partir deste anuário, não farei um resumo do meu ano, mas daquilo que nós vivemos em família, porque em 2013 o Brasil não foi meu, mas nosso.

2013: fim da áurea juventude e início da vida em família

Não me sinto velho, longe disso, mas sei que ter “vinte e poucos anos” é poder desfrutar de uma juventude descompromissada, livre, aventurosa e, principalmente, sadia. Em 2013, de um modo particular, eu e minha esposa vivemos assim.

Decidimos passar o nosso primeiro ano de casado no Brasil, meu país natal. Foi simplesmente fantástico estar próximo da minha família depois de mais de dois anos distante. Essa experiência me fez perceber o quanto a gente colhe aquilo que plantou. Explico abaixo.

2013A minha família não é perfeita, nunca foi, mas crescemos juntos, unidos. Festejando com simplicidade as vitórias e sofrendo com as dificuldades e derrotas de cada membro. Acho que 2013 foi um ano cheio de alegrias, principalmente por isso, pois nada é mais especial do que partilhar a nossa vida com as pessoas que a gente ama profundamente.

Um aceno especial vai para a nossa comunidade, feita da família alargada (primos e tios) e de amigos maravilhosos que, em todos os momentos, estiveram do nosso lado, fazendo da vida uma sucessão de experiências fantásticas, encontros, comunhões.

Um ano de muitas saudades

Por outro lado, em 2013, vivemos de saudades. Casamentos binacionais vivem constantemente esse sentimento, pois nunca as duas famílias estão próximas. Ou é uma, ou é a outra. Assim, do outro lado do Atlântico, deixamos de viver experiências e acompanhar de maneira assídua a realidade da nossa família europeia.

Sentimos um pouco essa “distância” quando voltamos para as festas de final de ano. Ao mesmo tempo em que foi fantástico reencontrarmo-nos e ver que, em geral, todos estão bem, vimos situações pontuais que talvez tivesse sido melhor acompanhar fisicamente próximos.

Um Brasil que agora é nosso

Eu sou brasileiro, paulistano, então 2013 foi um ano de retorno à minha casa. É difícil explicar o quanto foi bom pedalar pelas ruas dessa imensa metrópole, diariamente, para ir e voltar do trabalho. Poder desfrutar de inúmeras atrações culturais, infinitos serviços. Mesmo tendo morado em diferentes lugares do estrangeiro, ainda acho que São Paulo é uma cidade incomparável nesse aspecto.

Contudo, o mais especial disso tudo foi voltar a ser paulistano com a minha esposa. Crescida em uma cidade de 15 mil habitantes, eu tinha um certo receio em pensar se ela se adaptaria a essa imensa metrópole, duas vezes mais populosa que a sua pequena Suíça.

Surpreendentemente ela deu show. Trabalhou na periferia, aprendeu a pegar “busão”, metrô e trem lotado. Encarou a burocracia e a ineficiência das Instituições brasileiras da melhor forma possível. Por isso, posso dizer que o Brasil, São Paulo, não é mais o meu país, mas é nosso.

2014 – Um ano que promete

2013Não só pelo iminente hexacampeonato brasileiro e o vice Suíço, mas este novo ano certamente será muito especial. Muitas experiências maravilhosas nos aguardam, principalmente porque decidimos retornar ao Velho Continente para, agora, sermos família na pátria da minha esposa. Os últimos dois meses de 2013 foram de reflexão e achamos que seria importante fazer essa nova experiência, por motivos profissionais e familiares.

Não é fácil recomeçar a vida, deixando as seguranças e confortos que conquistamos com esforço e muito trabalho. Mas, de certa forma, nos sentimos levados a não nos acomodarmos e, enquanto tivermos força e coragem, ir ao encontro do outro, de diferentes culturas, realidades, perspectivas, para aprender a doar aquilo que aprendemos.

2013 foi maravilhoso, mas parece que 2014 será ainda mais. As escolhas estão aí para serem feitas e a Felicidade verdadeira, continuaremos a buscar, com simplicidade e na companhia de muitas pessoas amadas.

Povo brasileiro e a descoberta do que é melhor para todos

Povo brasileiro

Mais um ano começa.  Ano de eleição e não só de Copa do mundo! Porque esperamos que o #vemprarua de 2013 tenha nos ajudado a entender que precisamos construir um país melhor, não somente com conquistas futebolísticas, mas com escolas, hospitais e, acima de tudo, um projeto político que beneficie o povo.

Nos últimos meses, por motivos familiares, tive a possibilidade de sair do país e entrar em contato com pessoas e lugares onde o bem comum é uma realidade concreta. Não que não existam problemas sociais, mas é perceptível uma presença do Estado a serviço da população.

Conversando com um colega empreendedor, brasileiro, me dei conta de como tem crescido uma inversão de valores no que deveria ser o papel do Estado. Estamos mais preocupados com o bem estar individual, que em medidas que sejam focadas, sim, no indivíduo, mas como membro de uma comunidade.

Trabalhamos e, principalmente, pagamos nossos impostos, por isso é preciso exigir um Estado que proporcione serviços básicos de forma GRATUITA. Mas não, queremos um governo que “nos deixe em paz”. Uma administração publica que não atrapalhe, em vez de um sistema que, pelo contrário, exista para que vivamos melhores em sociedade.

O que o patriotismo da Copa pode ensinar

Povo brasileiroUma das lições que talvez se escondam na Copa do Mundo, ou melhor, nos valores que ela promove (ás vezes ás custas de uma estrutura exagerada, cara e irresponsável), é a sua capacidade de coesão por um objetivo comum.

Durante o ano, torcedores de diferentes times do Brasil estão divididos em preferências locais, mas, durante a Copa, movidos pelo patriotismo, todos se unem, para fazer parte de uma única grande torcida, pela seleção brasileira.  Mesmo que muitos não se importem com futebol, durante o evento internacional, grande parte dos brasileiros se envolve, assistindo os jogos, torcendo para que o país vença novamente. Não somos mais pró-Palmeiras, Flamengo, Sport, somos BRASIL.

Essa força de coesão, contudo, parece existir somente quando se trata do futebol. O patriotismo que o esporte promove poderia (deveria) ser incentivado também no contexto da política nacional, principalmente durante o ano de eleição.

Um governo para TODOS

Povo brasileiroDurante um mandato político as impressões e opiniões sobre uma determinada administração pública diferem bastante. Muitos acham que o governo deve privilegiar os pobres, de maneira assistencialista, outros acham que a melhor forma é facilitar o surgimento de empresas, enriquecendo quem já tem, mas permitindo que eles sejam geradores de empregos, ajudando quem não tem. Enfim. Muitas ideias e questionamentos que enriquecem o debate politico de uma sociedade.

Contudo, é fundamental que, no ano de eleições, seja criada, como na Copa do Mundo, uma profunda coesão nacional, um patriotismo para que todos, juntos, entendamos quem possui as capacidades e o melhor projeto para governar o país.

Abaixo a tentação do dilema

As diferenças ideológicas são inúmeras. Por isso é fundamental um debate maduro, colaborativo, que fuja da tentação do dilema. Um governo não deve governar para ricos, ou para os pobres; para os de direita ou os de esquerda. Um governo deve governar para TODOS.

O debate não serve para afastar as ideias contrárias, mas para trabalhar em busca de uma coesão (que não é uniformidade), um projeto comum que beneficie todos os brasileiros. As diferenças devem nos ajudar a pensar uma ideia de Brasil que responda aos interesses de cada cidadão, com um olhar especial para as prioridades e urgências.

Que em 2014 o patriotismo seja aproveitado para promover melhorias na nossa vida em sociedade e não simplesmente para torcer pela seleção, esquecendo de ficar atento à malandragem que está mais interessada no poder do que no serviço político.

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