Hoje decidi ficar em casa pela manhã. Tomar o meu tempo, desacelerado e em perfeita oposição ao resto do mundo, para arrumar a cama, tomar o café – em casa e de pijamas -, meditar um pouco, rezar. A neve está caindo lá fora, e essa foi a perfeita desculpa para uma manhã no melhor estilo “urso hibernado”. Tomei tempo também para me atualizar um pouquinho da vida dos amigos que andam por aí de férias em terras mais quentes, muito mais quentes. É fácil se perder pelas tantas fotos de verão que circulam pela rede. Férias, tempo de viajar, de cruzar fronteiras, navegar outros mares!
Eu, continuo aqui, me protegendo frio, em meio as cobertas do meu quarto, mas também me permiti a viagem. Ainda que curta, nos poucos minutos que me restam antes que dê a hora de sair do casulo direto pra vida real, a viagem sempre vale a pena.
Pra fora, ou pra dentro, viajar é sempre bom!
Se vamos viajar pra fora, somos impulsionados em direção ao novo, ao desconhecido, ao outro. Somos surpreendidos, pois nos deparamos com novas possibilidades, o horizonte se amplia e deixamos de habitar o centro, justamente para podermos nos aproximar desse estranho. Podemos ainda, se formos mais ousados, tomar humildemente o lugar do outro e experimentar a infinita diversidade dos mundos exteriores. Um aprendizado humano, imprescindível na busca do entendimento recíproco e do respeito ao próximo.
Se vamos viajar para dentro, podemos explorar como estrangeiros o que de alguma forma se tornou familiar, mas, depois de um olhar mais cuidadoso, se revela tão misterioso como as espécies mais exóticas, ou os povos do oriente distante. Visitar as margens de nós mesmos não é assim tarefa evidente. É uma viagem que demanda empenho. É ir ao encontro de si para se distanciar de si, para questionar-se. Ao descobrir o mundo interior assumimos a necessidade de buscar o que está fora, pois nos percebemos insuficientes. Apesar de únicos, somos pequenos e a nossa singularidade tão limitada, se isolada.
Talvez seja esse fascinante movimento de fora-pra-dentro e de dentro-pra-fora que chamamos de viagem. Que alegria terminar um ano ou começar um outro assim: viajando! Para acertar os ponteiros da vida que viemos levando erradamente, para energizar, equilibrar o corpo, abrir a mente, mudar o foco, nos recolocar. Ao longo da vida e desse ano novo ainda quase intacto, espero que continuemos viajando em busca das novas possibilidades e mudanças de rumo.
Ana Elisa Bersani – Formada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), em 2010, é mestranda em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Com especial interesse nas áreas de Antropologia do Desenvolvimento e da Ajuda Humanitária, desenvolve pesquisa com ênfase em contextos de crise e pós-desastre. Tendo realizado pesquisa de campo no Haiti, integra, atualmente, o conjunto de Visiting Students do MIT Anthropology (Massachusetts Institute of Technology) em Boston, Estados Unidos.