Hospital: um local de vida, cura e morte | Rodrigo Delfim

Hospital

Madrugada de 30 para 31 de dezembro de 2013. Já estava de pijama quando recebi o chamado de uma amiga para levá-la a algum hospital devido às fortes dores que ela sentia no abdômen. Troquei de roupa, peguei o carro e a levei para um hospital público na região central de São Paulo.

Chegamos por volta da meia noite do dia 31 e saímos perto das 5 da manhã. Felizmente minha amiga está bem, apesar dos efeitos colaterais do remédio contra as dores no abdômen, que tiveram de ser administrados com outros medicamentos.

Hospital: terminal de vida e morte

Nunca gostei de entrar e ficar em hospitais. Quando fico doente, reluto bastante em ir a um e, uma vez dentro dele, não vejo a hora de sair e voltar para minha casa. Mas, virando a esquina e vendo um pouco além dessa impressão inicial, durante o tempo de espera, foi possível refletir sobre outros aspectos – positivos ou não – dos hospitais, do sistema de saúde em si e em como enxergamos o problema da saúde pública e da nossa própria.

Hospitais são como grandes terminais de vida e morte. Por eles passam, diariamente, pacientes internados, de passagem para consultas e para tratar problemas de saúde, parentes e amigos em busca de informações sobre entes queridos, entre outros. Nos hospitais, o alívio de um paciente que recebe alta, a alegria de um bebê que nasce e o choro da família que perdeu seu ente querido andam lado a lado.

Durante o tempo que passei na área de espera desse hospital vi pacientes serem internados e receberem alta. Vi pessoas indignadas com o atendimento recebido e expressando sua raiva com xingamentos de todo tipo. Vi uma mulher migrante (pelas feições devia ser boliviana) chegar às pressas à área de Obstetrícia porque estava em trabalho de parto. Pouco depois, me chamou a atenção o choro copioso de uma família inteira que acabava de saber da morte de um ente querido.

Saúde pública é um problema de todos

hospital-publico-rjNos tempos de faculdade de jornalismo, um professor disse durante uma de suas aulas que passar uma noite de plantão num hospital sempre rende uma bela reportagem – bastaria estar atento ao que se passava ao redor. Mas não apenas por isso: essa madrugada como acompanhante de paciente em um hospital público me permitiu ver como a vida é frágil e como as estruturas destinadas a tratar dos problemas de saúde da população nem sempre estão adequadas para essa tarefa.

Também é preciso ver o lado dos profissionais de saúde. Em vários hospitais, públicos ou privados, há falta de médicos e enfermeiros e sobrecarga daqueles que estão trabalhando. Há profissionais que chegam a fazer plantões de 24 horas, em uma atividade na qual um erro pode ser a diferença entre a plena recuperação de um paciente e a sua morte. Lidar com vidas deve ser extremamente gratificante, mas também envolve uma carga absurda de responsabilidade e estresse. Sem os meios adequados para exercer uma atividade tão importante, a situação do médico ou enfermeiro fica tão frágil quanto a do paciente.

Por esses e outros motivos, deve-se reivindicar um melhor sistema de saúde no país, seja ele público ou privado. Como cidadãos e potenciais usuários desse serviço, devemos estar atentos e prontos para lutar pelos nossos direitos. Hoje você está no sofá de sua casa assistindo televisão e pouco se importando com as mazelas vividas pela população; amanhã a situação pode se inverter e você estar na fila de um hospital, esperando por um atendimento que parece não chegar e receber um tratamento tampouco adequado para seu problema.

Em suma, é preciso virar a esquina do comodismo e da indiferença para ajudarmos a constituir uma sociedade cada vez mais justa e humana.

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rodrigo Viajo porque necessito, volto porque quero viajar de novo | Rodrigo DelfimRodrigo Borges Delfim, formado em jornalismo pela PUC-SP em 2009, trabalha atualmente na área de Novas Mídias do portal UOL. Interessado em Mobilidade Humana, Políticas Públicas e Religião, desde outubro de 2012 mantém o blog MigraMundo para debater e abordar migrações em geral. É também participante da Legião de Maria, movimento leigo da Igreja Católica, desde 1999.

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1 Comment

  1. Que absurdo!!!!! pra que gastar dinheiro com a Copa de Mundo, a saúde esta em primeiro lugar, precisamos investir na saúde, contratar + médicos, +hospitais , tenho muita dó quem depende do hospital público.

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