Month: December 2013 Page 2 of 4

Leis justas não esquecem os seres humanos

Leis

Uma das lições mais bonitas, em relação aos sistemas políticos, que recebi durante a laurea magistrale no Instituto Sophia, na Itália, é que, tanto as estruturas, como as regras que constituem um sistema democrático, têm como finalidade suprema servir o ser humano.

O Legislativo cria leis para proteger o bem comum e a convivência das diferenças. O Executivo “executa” a prática dessas leis e o Judiciário, as protege, julgando os desvios de conduta em relação às mesmas. Contudo, esse sistema regrado é gerenciado por seres humanos. As leis não estão acima dos indivíduos e, por isso, os desvios devem ser interpretados, mensurados e julgados a partir do todo, levando em conta o quanto eles prejudicam o bem comum e a convivência das diferenças.

Infelizmente, o que aconteceu ontem no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), com a decisão da perda de pontos e o consequente rebaixamento da Portuguesa, foi um equívoco “técnico” que se repete nas mais variadas instâncias do Judiciário brasileiro.

Pessoas ou robôs aplicando as leis?

LeisMuitos diziam que uma decisão contrária, que não penitenciasse à Portuguesa, acabaria abrindo precedentes perigosos. É verdade. Não acho que a punição para o time paulista seja questionável, pois o erro existiu, ferindo o regulamento. O que faltou, porém, foi o exercício de uma capacidade que nos faz seres humanos, permitindo-nos interpretar e mensurar um fato aplicado às leis vigentes, considerando o seu contexto. Resumindo: faltou bom senso.

Não sejamos hipócritas: o futebol não é um esporte racional. Se o fosse, em vez de um árbitro e dois bandeirinhas, que constantemente erram, interferindo diretamente no resultados dos jogos, teríamos câmeras e robôs espalhados pelo campo.  A presença humana de um árbitro, capaz de interpretar, permite que as decisões sejam tomadas, possivelmente, de maneira mais justa (não sei se um robô, por exemplo, poderia saber quando um jogador simula).

Claro que, por outro lado, a presença humana nos campos de futebol aumenta a possibilidades de desvios, manipulações por gratificações econômicas, entre outras coisas. Mas, mesmo diante desses riscos, tenho minhas dúvidas se seria melhor robôs, em vez de pessoas, arbitrando.

Punição merecida, mas desmedida

LeisBom, se dentro do campo (ainda) não temos robôs, fora dele, no Judiciário também não.  E, em minha opinião, a lógica aplicada é a mesma. Os seres humanos (e suas ações) transcendem às leis, por isso, um juiz, suportado por uma ampla quantidade de regras úteis e racionais, para tomar uma decisão justa, precisa desenvolver a capacidade de interpretá-las, tendo em vista os princípios e a finalidade que geraram as mesmas, especialmente, o bem comum.

No caso da Portuguesa é evidente que, se se tratasse de um time de maior força política, as decisões seriam tomadas de maneira diferente. O fato é que, olhando o erro cometido, – a escalação de um jogador em situação irregular, nos últimos 15 minutos, na ultima rodada do campeonato e em um jogo sem maiores consequências para os outros times – não se pode dizer que foi uma falta grave. Punir à Portuguesa com o rebaixamento é, como disse o Juka Kfouri, “condenar à prisão perpétua um ladrão de pães”.

Reitero que o erro existiu e a Portuguesa deve sim ser punida. Só penso que deveriam ser “guardadas as devidas proporções” do seu desvio de conduta, e ela fosse punida com a perda de mandos de campo no próximo ano ou o pagamento de uma multa.

No entanto, rebaixar o time paulista é castigar, sem perceber que a punição desmedida (e como ela ressoou no mundo futebolístico) não conduz ao bem comum. A medida do STJD coloca o futebol como um esporte onde são as regras que norteiam o espetáculo, o que acaba, indiretamente, abrindo precedentes para o aumento da sua burocratização, que tira a atenção dos gramados espalhados pelo país, entregando-a aos tribunais.

Ideologia técnica: superá-la por uma verdadeira comunicação

Ideologia técnica

A revolução da internet, exaltada nos anos 90, promoveu a ilusão de que o “universo” virtual iria gerar um novo homem, mais informado e, por isso, consciente da dimensão global da sociedade e da ampla possibilidade de relações sociais. Tudo por meio da técnica.

Essa ideologia técnica, infelizmente, ainda não morreu. Segundo o comunicólogo francês, Dominique Wolton, ela ainda nos faz acreditar “que são os limites da técnica que impedem as mutações sociais e politicas”. Essa espécie de “esoterismo” também ajuda a confundir a comunicação, com a performance das maquinas; a abundância de informação com a intersubjetividade. Segundo Wolton, essa visão é tão “ingênua ou demagógica quanto denegrir a comunicação como processo de intercompreensão, reduzindo-a, ao mesmo tempo, a um simples processo de transmissão unilateral”.

O ser humano por trás da comunicação

Ideologia técnicaComo acenei, nos parágrafos anteriores, a comunicação não se resume a uma técnica. Não se pode negar a importância humana que existe no interior do processo comunicacional, com o risco de descartar sua ontologia relacional e de partilha.

“Expressão e interação, por mais necessárias e uteis que sejam, não são sinônimos de comunicação. Na realidade, quanto mais facilidade técnica houver, mas é preciso lançar uma reflexão especifica sobre o estatuto da recepção”, explica Wolton ressaltando a essência do outro, dentro do processo comunicacional, que vai de encontro com à ideologia técnica que se concentra na transmissão, em vez da relação.

É importante perceber que, quanto mais performático, mais eficaz for o progresso técnico, mais é preciso lembrar que transmitir informações, com rapidez e enorme quantidade, não é comunicar. “Na ponta das redes, há homens, sociedades, culturas, línguas, civilizações. Não computadores…” afirma Wolton.

Além da ideologia técnica

Traçar um caminho que vai na contramão da ideologia técnica é perceber, como premissa, que a sociedade da informação, em que estamos inseridos, não é sinônimo de sociedade da comunicação.

“O progresso técnico permite produzir e distribuir uma grande quantidade de informações. No entanto, isso é comunicação?”, questiona Wolton.

Ao contrário do que se possa crer, o aumento da informação, chegando às dimensões “de massa” não reduz a enorme diferença entre as opiniões. Quanto mais informações, mais opiniões, imaginários e rumores em relações a elas. Em outras palavras, a informação não é instrumento de encontro, mas de ampliação das diferenças, que, em um certo momento, precisam ser negociadas pela comunicação verdadeira.

A evolução da relação entre informação e comunicação

Ideologia técnicaSegundo Wolton, podemos distinguir três etapas nas relações entre informação e comunicação:

  • A primeira é aquela em que surge a “informação nova”, ligada ao acontecimento e à democracia, devendo ser pública, pois diz respeito a todo mundo. Era a informação normativa, porque instrumento de partilha “democrática”, mesmo que, no mundo aristotélico, limita aos membros da elite;
  • Na segunda etapa, há a revolução das novas tecnologias, em que o fluxo da informação invade tudo, misturando o sentido normativo e o funcional;
  • A terceira etapa, aquela que nos encontramos, é a do surgimento das condições necessárias para resgatar e preservar a dimensão normativa da comunicação. Deixam-se a técnica e a economia para reencontrar os valores, a sociedade e, também, os conflitos. Deixa-se a fascinação suscitada pelo volume, pela velocidade e pela transmissão das informações, para encontrar a questão do sentido.

Enfrentar a ideologia da técnica é uma missão das sociedades contemporâneas, imersas em suas crises de identidade e que devem encontrar, fundamentalmente, nos valores comuns, a possibilidade de estabelecer uma comunicação verdadeira, que seja partilha das diferenças essenciais, a partir de um respeito recíproco, e instrumento capaz de negociar interesses e visões de mundo particulares.

Minimalista: uma vida que vale mais, com menos coisas | Mariana Assis

Minimalista

Quantas pessoas você conhece que não estão felizes em seus empregos? Que compram coisas que nem chegam a usar, tentando preencher um vazio que sentem em suas vidas?

Imagine se essas pessoas pudessem ter apenas uma mochila com as coisas essenciais para sua sobrevivência, e vivessem viajando, estando, em cada trimestre, em um lugar diferente? Ou então, se pudessem deixar seus empregos para fazerem o que realmente gostam?

A descoberta de uma vida minimalista

Fazer escolhas de vida, como as descritas acima, pode parecer loucura, mas não é. Existem pessoas que têm buscado viver, tentando descobrir o que as realiza realmente. Os resultados são muito interessantes.

No processo de reflexão sobre como seria uma vida ideal, essas pessoas acabam concluindo que os bens materiais não são tão essenciais como pensavam; que o ser é mais importante que o ter e, assim, começam a se desfazer daquilo que é supérfluo. Além disso, elas também entendem que a cultura de promoção da carreira profissional e do salário de dois dígitos não é a única possibilidade de ter uma vida confortável ou ser uma pessoa bem sucedida.

Estas pessoas se denominam minimalistas e buscam se libertar do consumismo exacerbado, da sobrecarga de trabalho, da culpa de não ter tempo suficiente para família, etc.

Conciliando a vida minimalista com a vida online

Muitas daqueles que relatam suas experiências sobre as tentativas de adotarem o estilo de vida minimalista dizem que, uma das primeiras mudanças, é a escolha de não ter mais televisão e internet em suas casas.

MinimalistaJoshua Millburn, um minimalista famoso nos Estados Unidos, conta que ele já não tinha TV há um tempo e decidiu desligar também a conexão de internet em sua casa. A partir de então, ele conta, passou a fazer coisas mais significativas como escrever, fazer trabalho voluntário, estabelecer conexões com pessoas novas e reforçar os relacionamentos já existentes, ao invés de perder muito tempo na internet.

Em alguns dos meus posts aqui no Além do Bit eu propus reflexões sobre como viver um equilíbrio entre a vida online e off-line. Acredito que a internet não é maléfica para deixar de ser utilizada. O minimalista Joshua, por exemplo, conquistou mais de 100.000 leitores que recebem frequentemente as atualizações do seu blog sobre seus experimentos. Também uma das suas fontes de renda são os cursos on-line de como escrever melhor, que ele ministra durante o ano.

A internet não é um mal, assim como os doces também não são. Mas, quando você tem uma dieta baseada somente em doces, você fica doente e engorda em pouquíssimo tempo.

É possível se desconectar assim?

Não acho que todos nós precisamos nos desfazer da internet ou da televisão. Mais do que isso, é importante repensar como estamos utilizando nosso tempo online.

Fiz a experiência de, por uma semana, controlar quanto tempo gastava lendo e-mails, acessando o facebook e assistindo vídeos no youtube. Fiquei um pouco assustada quando percebi que estava gastando quase um terço do dia com essas coisas.

MinimalistaEntão, decidi fazer algumas mudanças no meu estilo de vida, como por exemplo, ter um horário para ler e-mails e acessar as redes sociais apenas uma vez por dia. Admito que às vezes acabo acessando o facebook mais de uma vez, ou então, fico preocupada com a possibilidade de ter algum e-mail importante e urgente para eu responder. Mesmo assim, percebi que tenho conseguido ter mais espaço na agenda para coisas que eu sempre quis fazer, mas nunca conseguia porque não tinha “tempo”. Escrever para o Além do Bit é uma delas.

Buscando estar mais em contato com os outros, fui trabalhar em um café que oferecia internet, ao invés de ficar trabalhando isolada em casa. Lá conheci o Cid, um empreendedor que trabalha na área de tecnologia há 30 anos. Tivemos uma conversa muito prazerosa e inspiradora, tão boa que até perdi a hora para um compromisso.

A felicidade dos encontros

Como o Valter Hugo Muniz já comentou em um dos seus textos, somos seres comunitários e nos tornamos assim para aumentar nossas chances de sobrevivência.

Na pré-história, as ameaças eram os animais selvagens, a escassez de comida, outras tribos violentas querendo conquistar territórios.  Hoje, as ameaças são talvez menos perigosas, mas a vida em comunhão ainda nos atrai e nos realiza como nenhuma outra experiência.

Somos comunitários porque é na relação com o outro que nos realizamos e vivemos os melhores momentos das nossas vidas. A tecnologia deveria ser sempre coadjuvante e não protagonista nas nossas vidas, sendo utilizada para fazer crescer os relacionamentos e as conexões interpessoais e não para extingui-los.

Não se esqueçam de aproveitar seus momentos off-line!
Até a próxima sexta .

eLe

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mariana Sistema de computador: porque não usá lo | Mariana Assis  Mariana Redondo de Assis – Formada em Sistemas de Informação pela Universidade São Judas Tadeu em 2005, concluiu em 2010 a pós graduação em Engenheira de Software pela Universidade de São Paulo (USP). Atua no mercado de TI há 11 anos, passando pelas áreas de suporte, desenvolvimento, projetos e pré-vendas. Atualmente é consultora de sistemas de gerenciamento de conteúdo na Thomson Reuters, responsável pelas plataformas de conteúdo para toda América Latina.

Inspiração: um exercício inconsciente em busca do outro | Rafael Volpe

Inspiração

Dentre as mais belas melodias já criadas pelos grandes compositores de todos os tempos e lugares, para mim, a mais impressionante é sempre aquela em que consigo fechar os olhos e sentir a inspiração do autor, como numa transição de suaves pensamentos e emoções. Claro que isso depende da forma com que cada um compreende as sensações, mas mesmo a mais simples e popular das canções nasceu de uma inspiração.

E o que é a inspiração?

Através da busca incansável para descobrir o significado do que chamamos “inspiração”, pude entender que construímos os nossos sonhos através de inspirações. Um arquiteto não constrói uma casa baseado em cimento e concreto, mas sim em inspirações, em ideias. Dessa mesma forma, um músico também não cria canções através de notas ou instrumentos, mas “ouvindo” sua inspiração. Algo que nasce de uma referência, mas que se transforma e se torna parte do novo.

De onde vem a inspiração?

Só quem já cantou alto no chuveiro e apenas quem já dançou sem se preocupar com nada, sabe o que é sentir a liberdade que traz a inspiração. Ela surge do inconsciente, de sonhos e pesadelos; acontece depois de momentos felizes e tristes; a inspiração nasce dos prazeres e da falta deles; da liberdade ou da abstinência dela. Não há inspiração no mundo que não venha de um acontecimento, de um movimento. Não há inspiração que não venha do outro. O outro é um coeficiente natural de uma equação onde inspiração, liberdade, sentimento e movimento se envolvem para resultar algo novo.

O que me inspira

InspiraçãoEu também busco novos sons e sensações, no meu dia-a-dia como compositor e produtor. Por exemplo, no trabalho que realizo em uma ONG em São Paulo, com crianças e adolescentes que encontram uma realidade diferente ao se abrir para a música e a poesia. Ou então em cada evento onde trabalho como DJ, executando hits que fazem a pista de dança ser a mais alegre possível. Mesmo em cada trilha sonora para filmes, jingles publicitários e obras audiovisuais, as quais procuro, de forma inusitada, criar sons que ninguém nunca ouviu. Cada passo, cada caminho é uma inspiração para criar novas possibilidades de inspirar-se.

Até mesmo um dos mais importantes filósofos dá Grécia Antiga procurou definir uma lei para a relação entre a inspiração e a música. Para Platão, “a música é uma lei moral. Ela dá alma ao universo, asas ao pensamento, um impulso à imaginação, um encanto à tristeza e charme e alegria à vida e todas as coisas”. A inspiração é uma luz que vai sempre ao encontro da harmonia entre sons, cores, imagens, detalhes, histórias, memórias vindas de todas as áreas do pensar, mas além de qualquer ponto, ela vem ao encontro do outro, porque quer, de alguma forma, tocá-lo.

E você, sabe o que te inspira?

volpe

Rafael Volpe – Formado em Piano Popular pela Fundação das Artes de São Caetano do Sul (FASCS) e Comunicação Social com ênfase em Radialismo pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Trabalha como Produtor e DJ em eventos, além de realizar oficinas musicais em projetos sociais. Já trabalhou em produtoras musicais e em emissoras de televisão, quanto também se especializou em Composição Musical pela Escola Internacional OMID de Música e Tecnologia.

Mobilidade urbana: valorizar o bem comum para diminuir a desigualdade

Mobilidade urbana

Uma premissa importante, em qualquer discussão politica, é a consciência de que, por meio do diálogo (aberto e respeitoso) conseguimos nos aproximar sempre mais da Verdade (com V maiúsculo) para, assim, cultivar opiniões ponderadas. A estupidez, tanto a anárquica, quanto a ditatorial, está nos extremos.

A mobilidade urbana, considerando a desproporcionalidade das comparações

Há alguns dias tenho pensando na questão da mobilidade na minha cidade natal: São Paulo. É difícil comparar a maior cidade da América do Sul com a grande maioria de cidades do mundo, pois, pelas dimensões físicas e, principalmente, populacionais ela pertence a um pequeno grupo de metrópoles do planeta. Essa característica marcante da cidade aumenta também a complexidade das soluções relacionadas à mobilidade social.

Pensando as experiências que fiz e lugares que visitei, acho que existem sim algumas ideias políticas que podem ser copiadas e aplicadas com prudência. Quem, como eu, teve o privilégio de sair de São Paulo e conhecer outras cidades do mundo, na Europa e na Ásia, pôde certamente perceber que os países, “cases de sucesso” em relação à mobilidade urbana, privilegiam politicamente o transporte público.

Não acho que o governo deve tomar medidas que impossibilitem a aquisição ou a mobilidade daqueles que fazem uso do transporte particular (principalmente carros). Mas as medidas políticas, a curto, médio e longo prazo, e para o bem da natureza, deve vislumbrar o transporte público.

Minha experiência de mobilidade urbana

Mobilidade urbanaEm 2005, quando estive em Singapura, fiquei surpreendido com a maneira com que o país gerencia a mobilidade de seus cidadãos. Um transporte público de ponta, estradas conservadas, com muitos automóveis, mas pouquíssimo trânsito, principalmente na região central da cidade, onde o fluxo de pessoas é maior. Lá vi pela primeira vez o pedágio urbano, em que os carros pagam uma taxa ao entrar no centro, em determinados horários dos dias úteis. Singapura é muito menor que São Paulo, mas é um exemplo eficaz de administração pública voltada para o bem comum, coletivo.

Outra coisa que percebi, fora do Brasil, é que o transporte particular não tem o mesmo valor de “status social” como é no nosso país. Em países ricos, em que se privilegia a qualidade de vida e a manutenção dos recursos naturais, as pessoas valorizam a possibilidade de se locomoverem com o transporte público, bicicletas. O carro é usado, principalmente, nos finais de semana.

Claro, diriam muitos paulistanos (muitos sem terem jamais saído da cidade), em nenhum desses lugares o transporte público é tão superlotado! Bom. Isso é não é verdade! Hoje, nas grandes cidades do mundo, nos horários de pico, é comum a superlotação do transporte público. Roma, Genebra, Milão, Nova Iorque… Vá passar alguns meses trabalhando ou estudando em uma delas para ver se estou dizendo besteira! Aqui, pensando na situação de São Paulo, retorna a questão das proporções. Superlotação em uma cidade de 500 mil habitantes é um problema pequeno, se comparado a uma com 11 milhões de habitantes.

Porque ser a favor dos corredores de ônibus em São Paulo

Mobilidade urbanaToda essa explanação eu desenvolvi para questionar as reclamações dos motoristas de carro,  contra as medidas do governo municipal de, ao menos, iniciar um processo de transformação da mobilidade urbana em São Paulo.

Minha família não tem carro, meus pais não tem carro. Nós nos movemos com transporte público e bicicleta por opção (e por vivermos e trabalharmos em locais em que isso é possível). Fico triste com a incoerência da crítica a respeito da precariedade do transporte público, de gente que anda de carro, sozinho, com ar condicionado, ouvindo música ou assistindo filme, enquanto a grande maioria dos paulistanos vai, de um lugar para o outro, em pé, “ensardinhada”, sem o mínimo conforto. Justamente por isso, e pensando no bem da maioria, qualquer tentativa de melhoria da mobilidade urbana na cidade deveria ser aplaudida de pé, festejada por todos, porque um transporte público de qualidade é a base para uma mobilidade decente.

Na última semana a revista Época, da editora Globo, colocou a mobilidade urbana em sua reportagem de capa. De maneira simplória, beirando o banal, a matéria decreta, em menos de um ano atividade, o fracasso dos corredores de ônibus.

Hoje, li uma interessante e equilibrada carta aberta que questiona a reportagem. A maior riqueza dela não é não responder agressivamente aos desvios falaciosos da revista, mas mostrar que os juízos em relação às politicas públicas precisam respeitar um tempo mínimo, para que não acabem destruindo as ideias que (talvez) beneficiem a maioria.

Claro, e como diz a carta, não devemos fechar os olhos aos erros (comuns) de qualquer projeto politico. Porém, precisamos estar cientes de que, morando em uma sociedade (e não isolados em bolhas) é necessário estarmos prontos a perder um pouco do nosso conforto individual, em detrimento do bem comum (Quantas famílias já não foram desabrigadas para construção de ruas e rodovias que melhorassem o fluxo de veículos automotivos? ).

Como disse uma amiga, talvez nós não vejamos a cidade melhorada que se espera no futuro, mas isso não nos tira a responsabilidade em apoiar a construção de um lugar melhor para nossos filhos, já no presente.

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