Eu, que estava em vias de terminar o meu texto desse mês para o eLe , não pude deixar de escrever essa breve nota sobre o falecimento de Nelson Mandela e compartilhar com vocês mais essa homenagem ao grande homem, líder da luta anti-apartheid na África do Sul, que marcou profundamente a história do século XX.
Durante os dois últimos anos, Nelson Mandela esteve internado várias vezes por conta de uma infecção pulmonar grave, recorrência da tuberculose que contraiu nos anos de prisão. Apesar do esforço da família e do governo sul-africano em preparar a população para esse momento, no dia 5 de dezembro, a notícia chegou aos nossos ouvidos acompanhada de uma profunda tristeza. O mundo ficava mais cinza, simplesmente porque, ainda que esperadas, são sempre tristes as partidas.
Ao ler as notícias que chegavam, me veio a memória, logo de pronto, a imagem de Nelson Mandela discursando sobre a liberdade, contra o racismo e a intolerância, no dia em que tomou posse da presidência da África do Sul. Assisti, mais uma vez, o vídeo desse momento tão importante na história da humanidade para relembra-las.
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São belas as palavras que encontramos alí, é verdade. Mas, algo de maior impacto existia por trás do discurso que ele proferia em tom sério. Algo que fazia com que aquelas palavras deixassem de ser só palavras bonitas e transcendessem a linguagem verbal, chegando aos corações. Parece-me que esse “algo” que confere legitimidade incontestável ao que se diz é a própria vivência daquilo que se quer transmitir.
A experiência dá vida às palavras da mesma forma que as palavras inspiram as vidas. Por isso, quando Nelson Mandela discursava as palavras ressoavam para além do valor racional daquelas ideias de igualdade, união – se pensarmos bem, não há muita racionalidade no advogar pelo perdão aos próprios algozes. É também por essa mesma razão que a sua vida e morte nos toca tanto.
Esse estadista é amado mundo afora e foi a peça chave no processo político sul-africano naquele momento, pois foi um grande unificador, negociando o fim do apartheid com o Governo do Partido Nacionalista. Depois de terminado o seu mandato de cinco anos como presidente, se retirou da política, em 1999, e passou a dedicar-se ao combate e a prevenção da AIDS; Luta a qual se sentia especialmente ligado em razão da morte do seu filho, vítima da doença.Foi a sua vida, mais do que qualquer descoberta genial ou ideia revolucionária, que fez desse homem tão mortal, como qualquer outro, um “ícone mundial”. Ele esteve preso durante 27 anos por lutar contra o regime segregacionista e antes de ser o primeiro presidente negro da África do Sul, eleito em 1994, foi prêmio Nobel da Paz (junto a Frederik de Klerk) por suas ações em favor da reconciliação entre negros e brancos, dois polos de uma divisão histórica profunda.
Nelson Mandela será sempre símbolo indispensável das lutas sociais pela liberdade. Sua coragem de viver concretamente por um ideal de unidade, até as últimas consequências, nos inspira não apenas à uma profunda admiração ao seu exemplo, mas nos motiva a seguir em frente, colocando em prática esse ideal!
Ana Elisa Bersani – Formada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), em 2010, é mestranda em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Com especial interesse nas áreas de Antropologia do Desenvolvimento e da Ajuda Humanitária, desenvolve pesquisa com ênfase em contextos de crise e pós-desastre. Tendo realizado pesquisa de campo no Haiti, integra, atualmente, o conjunto de Visiting Students do MIT Anthropology (Massachusetts Institute of Technology) em Boston, Estados Unidos.