No nosso dia a dia lidamos, certamente, com algum tipo de sistema de computador. Estudando ou trabalhando e mesmo para resolver coisas pessoais, a utilização dessas poderosas ferramentas do século XX nem sempre é uma experiência prazerosa ou prática.
Quem nunca teve dificuldade para pagar uma conta pela internet? Sofreu para comprar um produto em uma loja virtual ou descarregar uma foto de seu dispositivo móvel no próprio computador? A lista de atividades que podem ser feitas pelo computador e que, devido a sua complexidade, acabam com a nossa paciência, é grande. Isso me faz pensar no que eu posso fazer, como profissional de tecnologia, para ajudar as pessoas a lidarem melhor com um sistema de computador.
Uma complexidade desconhecida
Sinto que as pessoas que não são da área de tecnologia têm dificuldade de entender porque os sistemas, muitas vezes, são tão ruins, ou levam tanto tempo para serem feitos; porque é tão difícil fazer com que os sistemas realizem tarefas que parecem bastante corriqueiras e simples para um ser humano. Eu costumo dizer para os meus clientes que precisamos considerar que o computador é uma ferramenta que não tem inteligência própria. Tudo que ele faz foi programado por um ser humano.
Desta forma, criar uma lista de instruções de algo básico, para que um computador realize a tarefa,como escovar os dentes, por exemplo, torna-se extremamente complexo. São muitas variáveis que devem ser levadas em consideração, que nós, pela prática cotidiana, se quer pensamos quando estamos escovando os dentes: Qual a força deve ser colocada ao segurar a escova e ao apertar o tubo de pasta de dente? Qual o ângulo deve ser adotado para a escova no momento em que ela entra na nossa boca e toca os dentes? Qual a distância deve existir entre a escova e os dentes?
Claro que nós não precisamos de um computador para escovar nossos dentes. Utilizei um exemplo corriqueiro e simples para fazermos, juntos, um exercício de reflexão a respeito da complexidade existente no processo de criação de um sistema de computador.
Quando um sistema de computador atrapalha mais do que ajuda
Durante minha carreira profissional, já ouvi muitas reclamações de usuários dizendo que a implantação de um novo sistema de computador havia tornado seu trabalho mais difícil e demorado, contrariando o seu objetivo, que era agilizar e tornar mais eficiente e fácil o trabalho das pessoas.
Como isso acontece? Quando os sistemas atrapalham mais do que ajudam? A minha resposta é a seguinte: quando os profissionais de tecnologia não conseguem dialogar com seus usuários, ou seja, quando se esquecem de se colocar no lugar deles para, a partir daí, começar a compreender quais são as suas necessidades.
Claro que questões de prazo e custo dos projetos também influenciam o resultado final. Se eu tenho uma semana para desenvolver um sistema de computador, por mais simples que ele seja, corro um grande risco de que ele acabe se tornando um problema ao invés de uma solução.
Como evitar que isso aconteça
Sempre que alguém me pede para criar um novo sistema de computador, eu, antes de tudo, procuro entender o contexto no qual a pessoa quer inseri-lo, quais as informações e por qual motivo elas estão sendo geradas. Também procuro identificar quem realiza as atividades que serão gerenciadas pelo sistema. Isto é, de maneira global, procuro identificar quem são as pessoas por trás dos processos; quais as suas necessidades, dificuldades, para que o sistema seja um projeto para, acima de tudo, auxiliá-las. Alguns programadores não gostam desta abordagem e preferem pular esta etapa e iniciar imediatamente o desenvolvimento, ou seja, a escrita do código do sistema de computador.
Porém, o que vejo acontecer em 90% dos casos nos quais os programadores não se importaram em entender as demandas, essencialmente “humanas”, antes de iniciar a fase de criação do sistema de computador, são sistemas que, após algum tempo de uso, são desligados ou substituídos, seja por outro tipo de ferramenta ou por outro sistema. Para evitar desperdício de tempo e dinheiro, eu aconselho a, antes de pensar em criar ou comprar um sistema de computador, procure compreender, talvez com a ajuda de um profissional, como é o seu processo de trabalho hoje e o que você precisa melhorar. Às vezes acaba-se descobrindo que há algo melhor do que aderir a um sistema de computador para atender a sua necessidade. Neste caso, segue uma ideia do que fazer com seus computadores, para que eles não fiquem encostados:
Brincadeiras a parte, gostaria de reforçar que é essencial que os profissionais de tecnologia procurem entrar no mundo dos seus usuários, esvaziando-se da própria experiência “técnica” e das ideias funcionais que tenham em mente, para dar espaço àquilo que ele vai ouvir do usuário.
Mesmo seguindo a metodologia que propus, muitas vezes é difícil estabelecer uma comunicação eficaz entre as duas partes envolvidas na elaboração de um sistema de computador, pois a verbalização de um pensamento pode não ser suficiente para expressar o que realmente queremos dizer. Tenho minhas ideias sobre o processo de comunicação em si, mas isso é papo para outro post.
Até sexta, não se esqueçam de aproveitar seus momentos off-line.
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Mariana Redondo de Assis – Formada em Sistemas de Informação pela Universidade São Judas Tadeu em 2005, concluiu em 2010 a pós graduação em Engenheira de Software pela Universidade de São Paulo (USP). Atua no mercado de TI há 11 anos, passando pelas áreas de suporte, desenvolvimento, projetos e pré-vendas. Atualmente é consultora de sistemas de gerenciamento de conteúdo na Thomson Reuters, responsável pelas plataformas de conteúdo para toda América Latina.