Imigrantes

Uma simples conversa significaria uma viagem gratuita e personalizada para a terra natal do novo colega – e ele à sua – desde que ambos abram os espaços para tal. Essas viagens sem sair do lugar, para a Itália, Chile, República Democrática do Congo, Mali, Togo, Serra Leoa, Portugal, Bulgária, entre outros, podem não significar diversão ou momentos de descontração, mas certamente guardam lições de vida e superação.

Políticas públicas para imigrantes

Imigrantes Entre os dias 29/11 e 01/12, participei, em São Paulo, da 1ª Conferência Municipal de Políticas para Imigrantes. Cerca de 300 pessoas de 35 nacionalidades diferentes estiveram presentes em pelo menos um dos três dias de evento. Era só uma amostra do caldeirão de culturas e oportunidades de aprender e repassar vivências. Um mundo ainda pouco compreendido e muito menos aproveitado do que deveria ser.

Da minha colega italiana, soube que ela é do Partido Democrático e odeia o Berlusconi; de Serra Leoa e República Democrática do Congo são colegas também de profissão, jornalistas; de Togo (que abriu um sorriso enorme quando citei o nome do jogador de futebol Adebayor, ídolo nacional), soube que ele veio para o Brasil após se converter ao cristianismo e encontrar oposição da família, muçulmana. Enfim, teria uma pequena aula com cada um que eu parasse para conversar.

O desprezo social pelo migrante

Essa consciência a respeito da importância de aprendermos com as diferenças do outro, no entanto, ainda é pouco compreendida pela sociedade – não apenas no Brasil. Pelo contrário, o migrante é visto como “ladrão de empregos”, acusado de “ocupar espaço” nos serviços de saúde e educação, de “não querer se integrar à sociedade onde ele se insere”. No entanto, pouco se fala da contribuição que cada um deles pode trazer para o novo lar.

Imigrantes Esse tipo de reação, ontem e hoje, soa ainda mais estranha em uma cidade como São Paulo, que deve boa parte de sua formação social, histórica e econômica a esses “forasteiros”, que vieram dos quatro cantos do Brasil e do exterior, muitas vezes recebidos com desconfiança e até com sentimentos de repúdio por parte dos cidadãos locais.

Os personagens mudaram, mas não a essência da rejeição ao diferente – os “carcamanos”, termo pejorativo usado para se referir aos italianos do começo do século XX, foram trocados pelos “baianos” e agora pelos “bolivianos”. É triste ver que uma cidade, que tem o gene migrante em seu DNA, repudiar justamente um dos elementos que a tornam única. É horrendo ver o local de origem de uma pessoa ser usado como forma de ofensa a ela.

Consciência global para um agir local

Em uma sociedade globalizada, onde tudo acontece em tempo real e as fronteiras ficam cada vez mais imperceptíveis, o diferente está mais próximo de nós do que nunca. É até compreensível o espanto com essa aproximação repentina, mas não se pode jamais repudiar, discriminar ou recriminar.

Mesmo que leve tempo, o melhor a ser feito por cada um de nós é abrir-se para conhecer e aprender com quem é diferente. Não significa – e nem deve significar – abandonar sua cultura e tudo o que já se aprendeu em troca do que chega de novidade, mas sim agregar novas experiências e respeitar as visões de mundo diferentes da nossa. Os ganhos serão certamente maiores do que os supostos efeitos colaterais.

Indico um vídeo muito bonito que conta algumas histórias dos filhos de imigrantes de São Paulo:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=kLP6SwAs8tc]

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rodrigo Viajo porque necessito, volto porque quero viajar de novo | Rodrigo DelfimRodrigo Borges Delfim, formado em jornalismo pela PUC-SP em 2009, trabalha atualmente na área de Novas Mídias do portal UOL. Interessado em Mobilidade Humana, Políticas Públicas e Religião, desde outubro de 2012 mantém o blog MigraMundo para debater e abordar migrações em geral. É também participante da Legião de Maria, movimento leigo da Igreja Católica, desde 1999.