Month: November 2013 Page 4 of 5

Somos se aparecemos: a responsabilidade comunitária do comunicador

Somos se aparecemos

Uma das reflexões mais importantes que um comunicador, ao meu ver, deve SEMPRE fazer diz respeito a sua responsabilidade perante a comunidade em que ele está inserido. Em uma sociedade em que o espaço público é totalmente midiatizado “tudo o que é importante está na mídia, então aqueles que estão na mídia são importantes”, explica o comunicólogo francês, Dominique Wolton. Essa dinâmica social promove uma legião de narcisistas, que parecem viver para “aparecer”, pois isso (infelizmente) define a sua relevância perante os outros. Enfim, somos se aparecemos.

Nesse contexto, não é necessário explicar muito sobre o poder que está nas mãos, tanto de quem comunica, como daqueles que gerenciam as empresas de comunicação.

Contudo, deve ser impedida, a todo custo, a subversão vergonhosa dos meios de comunicação de massa, em que a forma suplanta o conteúdo. A responsabilidade dessas empresas e seus operadores precisa ser socialmente regulamentada, para que, em vez de servir como pedestal funcional para que os detentores do poder (politico e econômico) “apareceram”, as mesmas busquem valorizar aquilo que impulsiona à consciência coletiva, o bem comum.

Segundo Wolton, a “estrelização” da sociedade, que iniciara com o cinema e a imprensa de grande público, vem explodindo a mais de meio século, ilustrando a crise de valores que atravessou nossas sociedades. “Ontem, haviam outros valores: a política, a ciência, a religião etc., enfim, uma diversidade de legitimidades concorrentes. Hoje, tudo se alinhou à logica midiática que se torna a principal legitimidade”.

Casamento, vida em família e o banheiro | Valter Hugo Muniz

vida em família

Nunca duvide quando outros casais mais rodados dizem: “Quando você casar, o relacionamento com o(a) outro(a) muda completamente!”. É verdade. O problema é que o tom da afirmação, ou a nossa interpretação dela, é sempre pejorativa. A gente sempre acha que na vida em família as coisas vão piorar. Vai-se perder a alegria, espontaneidade, a liberdade do namoro, mas não é bem assim, mesmo existindo riscos.

É verdade que antes do casamento a gente, geralmente, fantasia muito a vida a dois. Acha que vai ser sempre o paraíso, que estaremos 24 horas do lado daquela(e) que mais amamos no mundo…  Claro que isso acontece! Mas também tem uma infinidade de experiências, aparentemente não tão bonitas, que se vive em família e, por mais que eu tente explicar, é preciso estar casado para entender plenamente.

A minha mais nova descoberta tem relação direta com um cômodo da casa, que frequentamos diariamente e que, se não está limpo, incomoda bastante: o banheiro.

A vida em família (desculpe-me se escandalizo) é, também, igual ao banheiro. Precisa ser agradável, aconchegante, limpa, para que possamos “descarregar”, serenamente, aquilo de desnecessário que “processamos” durante o dia. É onde nos lavamos, eliminando a sujeira acumulada “fora” e nos renovamos, ficando mais bonitos, relaxados e, consequentemente, mais felizes.

Partindo da perspectiva mencionada acima, existe o risco de pensar que a vida em família (principalmente em relação ao parceiro) se limita a um único “objeto” do banheiro, onde eliminamos tudo aquilo que processamos durante o nosso dia: a privada.

Não. A família não é um lugar funcional onde somente descarregamos as experiências e sentimentos ruins acumulados durante o dia. Ela é, na verdade, lugar onde levamos as nossas dificuldades, as crises, os anseios, como um dom, para, juntos, redimensioná-los e crescermos. Do contrário, aos poucos a vida em família vai sendo minada pelas coisas ruins e a alegria que, a priori, uniu duas pessoas que se amam, começa a dar espaço aos resmungos, ás insatisfações, cobranças, divisões.

Claro que a linha é tênue, e chegar a um equilíbrio em que as dificuldades são “doadas” de maneira pura e gratuita, exige um exercício cotidiano (para não dizer infinito). No meu caso, tendo a acrescentar o quão necessária é a “mãozinha” de Deus para que, eu e minha esposa, jamais nos esqueçamos da sacralidade da família.

Racismo no futebol: a banalização das conquistas sociais em prol da inclusão | Valter Hugo Muniz

Racismo no futebolÀs vezes me deparo com situações em que sinto estar vivendo na Idade da Pedra, onde os atos animalescos, pouco racionais, definiam os privilégios sociais. Diante desses “escândalos” eu não consigo deixar de lembrar que as grandes conquistas da humanidade caminharam, decisivamente, para uma maior inclusão e não para exclusão de seres humanos. Por isso em muitos países não existe mais escravidão, a comunicação pode ser considerada “de massa”, a educação é um bem “para todos”, existe um estatuto da criança, a declaração universal dos direitos dos homens e etc. Porém, e isso espanta, ainda existem pessoas que promovem a segregação.

A pior das exclusões, para mim, é o racismo. Não por ser afrodescendente e, por isso, potencialmente vítima, mas porque ela “coisifica” brutalmente o ser humano pela cor da sua pele, pela sua etnia, as raízes. Infelizmente o futebol vem sofrendo “desse mal” há muitos anos e, nos últimos dias, os casos de racismo ganharam proporções que exigiram a mediação institucional da FIFA.

O relato no blog de Cosme Rimoli explica a situação: “Na partida entre CSKA e Manchester City, o alvo dos torcedores foi Yaya Touré, jogador negro que nasceu na Costa do Marfim. Era só a bola cair no seu pé e lá vinha a imitação de macacos na arquibancada. A partida era válida pela Champions League, a mais importante competição de clubes de futebol do mundo. O marfinense ficou revoltado. Mas não seguiu o caminho fácil de apenas reclamar na imprensa. Parou o jogo, mostrou ao árbitro e pediu que a partida fosse encerrada. Não foi.”

O que parecia mais um dos muitos casos de racismo no futebol no Velho Continente, se transformou no estopim que levou a FIFA a, finalmente, agir.  Yaya Touré disse, em alto e bom som: “esse tipo de situação tem de acabar até o Mundial de 2018”. Caso não acabe, o jogador prometeu organizar um boicote dos negros, podendo se estender à Copa do Mundo.

Bastou que uma vítima desse racismo animalesco desse uma declaração radical, ainda mais sendo um ídolo do futebol inglês, para que o presidente da maior entidade do futebol mundial, o suíço Joseph Blatter, percebesse o quanto a postura da Fifa é branda, quase conivente. Imagine uma Copa do Mundo sem negros? Sem Balotelli, Touré, sem Neymar, Paulinho… Sem as Seleções Africanas. Impossível! Os exemplos de casos de racismo na Europa são vergonhosos e “não adianta apenas multar e obrigar os clubes a jogar com portões fechados. Aqueles que possuem racistas entre seus torcedores precisam pagar caro”, afirma Rimoli.

As ameaças de Touré parecem ter surtido efeito e Blatter começou a se mobilizar para mudanças efetivas nas regras. Dessa forma, os racistas devem ser proibidos de assistir aos jogos; as polícias passarão a identificar e indiciar, vetando o acesso deles aos estádios nos dias em que seus times estiverem jogando. Aos clubes, as punições serão muito mais severas. Em vez de multas, perda de pontos. E, em caso de reincidência, até mesmo eliminação de campeonatos.

É fundamental criar regras severas contra qualquer manifestação de racismo. Seja de cor, raça ou até mesmo opção sexual. O futebol é conhecido como o esporte mais democrático do mundo, mas não pode seguir a demagogia “terminológica” existente no contexto político.

Espero que o caso sirva de exemplo para o mundo inteiro, inclusive ao Brasil, onde o racismo no futebol existe, mas que, como na sociedade, é travestido de uma hipocrisia cultural. Mas, pelo menos no futebol, o preconceito deve custar caro.

Alguns vídeos sobre o assunto:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=ogz2wqRCQZI]

Especial do Esporte Espetacular sobre o racismo

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=LUCONduhYCk]

Para ir além da Linha Vermelha | Rodrigo Delfim

Linha Vermelha

Madalena, Iguatemi, Itaim. O que te vêm à mente quando ouve ou lê essas três palavras? Provavelmente os barzinhos da Vila Madalena, as baladas do Itaim Bibi e as compras no caríssimo Shopping Iguatemi.

E quanto ao Parque Santa Madalena? E Jardim Iguatemi? Ou sobre Itaim Paulista? Pois é, esses três locais de fato existem e são bairros da zona leste de São Paulo. E embora sejam bem menos famosos que os badalados points de entretenimento e consumo do lado oeste da cidade, concentram centenas de milhares de pessoas vivendo neles.

Esse exemplo simples mostra o quão diversa e contraditória é a cidade de São Paulo. Ostentação e simplicidade; riqueza e pobreza; condomínios de luxo e moradias em áreas de risco; grifes internacionais e pequenas lojas de produtos a R$ 1,99; arranha-céus e chácaras que lembram o começo do século XX.

A capital paulista vai muito além dos locais midiáticos. E nem é preciso ir muito longe. Basta ir além da linha vermelha, por exemplo. Sim, aquela mesma que vai da Barra Funda até Itaquera. Como praticamente todo o trecho leste corre em superfície, é bem interessante notar como a paisagem vai mudando conforme o trem avança zona leste adentro. As grandes torres residenciais pouco a pouco dão lugar a casas mais modestas, prédios mais baixos até chegar ao terreno ainda pouco ocupado nos arredores da estação Itaquera – o novo estádio do Corinthians já muda a paisagem local

Essa complexidade não pode – ou ao menos não deveria – ser ignorada ou desprezadas por aqueles que vivem na metrópole. Infelizmente ainda é possível notar certo “bullying” contra quem vive fora dos locais “top” de São Paulo.

Causou espanto para mim, por exemplo, quando cheguei à faculdade de Jornalismo na PUC-SP, em 2006, e contava nos dedos as pessoas que sabiam o que era a região do ABC Paulista. Ou então que já tinham ido além da estação Sé do metrô de São Paulo.

Enfim, se quisermos entender a complexidade que nos rodeia em uma cidade que é um verdadeiro minimundo, é preciso conhecê-la, sair dos círculos tradicionais. É preciso ir além da linha vermelha, mas também da azul, verde, lilás (em referência às linhas de metrô da cidade). Para começar, basta virarmos a esquina.

rodrigoRodrigo Borges Delfim, formado em jornalismo pela PUC-SP em 2009, trabalha atualmente na área de Novas Mídias do portal UOL. Interessado em Mobilidade Humana, Políticas Públicas e Religião, desde outubro de 2012 mantém o blog MigraMundo para debater e abordar migrações em geral. É também participante da Legião de Maria, movimento leigo da Igreja Católica, desde 1999.

Incendies – 2010 – Denis Villeneuve: Pensando sobre a origem do mal

Incendies

Raros filmes que eu pude assistir tiveram a capacidade de tocar os meus questionamentos mais profundos a respeito da vida, e no como podemos fazer dela uma experiência de Amor, no sentido agápico. E bem, ontem fui surpreendido pelo maravilhoso e premiadíssimo Incendies.

A história é simples. Começa no Canadá, com um casal de gêmeos encontrando o escrivão do testamento da sua falecida mãe, que ao dar-lhes duas cartas, anuncia dois novos membros desconhecidos da família: um irmão e um pai. Assim, procurando descobrir o que teria acontecido no passado misterioso de sua mãe, os dois partem para o Líbano, iniciando uma aventura que irá mudar completamente a história daquela que eles consideravam uma família “comum”.

Incendies, como nenhum outro filme, me fez pensar a respeito da origem do mal. Fez-me lembrar do livro de Hans Jonas “O conceito de Deus depois de Auschwitz” e o mal que existe na divisão promovida pela guerra.

Durante meus estudos teológicos, entendi que o bem é uma força que promove a união entre seres, enquanto o mal é uma força que divide. Consequentemente, tudo aquilo que nos afasta uns dos outros é essencialmente mal, e vice versa. Esse conceito é bem presente no filme. As divisões levam a escalada de um mal de proporções inimagináveis, e o bem, silencioso, singelo e, sobretudo, raro, se renova no desejo dos personagens permanecerem juntos, unidos.

O que pensei, contudo, após o filme, foi sobre a possibilidade de uma dessas forças, sobretudo a benéfica, ser potencializada. O filme, com uma sensibilidade formidável, mostra que a “origem” de uma nova vida nasce do perdão. É por meio dele que o Amor se renova e pode novamente unir, curar feridas.

Obra de arte. É o termo que define melhor Incendies. Um dos filmes mais bonitos que pude ver nos últimos anos.

Ratings: 8,1/10 from 37.720 users

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=0nycksytL1A]

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