Imagine como seria morar em um lugar onde as pessoas não têm energia elétrica em casa e muito menos internet? Neste cenário, seria impossível utilizar qualquer meio de comunicação moderno, como a televisão ou o celular, certo? Errado!
Em alguns dos meus últimos posts, refleti sobre alguns aspectos negativos das redes, como a fuga da realidade e a liquidez dos relacionamentos. Hoje, quero me focar em apresentar uma forma positiva de utilização da tecnologia.
A revolução dos celulares está mudando a África
Avanços relevantes melhoraram muito a qualidade de vida de inúmeras pessoas em todo o mundo. Mesmo assim, na África, milhares de pessoas ainda vivem sem energia elétrica, água potável e somente 5% da população de lá tem uma conta no banco.
O déficit tecnológico existe, mas um instrumento está revolucionando a vida de muitas pessoas no continente africano: as mensagens de texto por celular, também conhecidas como SMS ou torpedos.
É interessante perceber que, mesmo com as inúmeras restrições tecnológicas existentes, um dado curioso chama atenção: o continente africano está à frente dos Estados Unidos e da Europa em quantidade de pessoas que tem um celular, totalizando cerca de 650 milhões de usuários.
Ainda sem um sistema elétrico disponível para todos, as pessoas que vivem afastadas dos grandes centros carregam seus celulares com baterias e geradores e cada vez mais cresce a possibilidade de carregar aparelhos eletrônicos por meio da energia solar.
Pode até parecer estranho, visto que, quando pensamos na África, as primeiras impressões que temos são (infelizmente) em relação à pobreza e as suas consequências. Mas as coisas estão mudando!
Por outro lado, isso nos levaria, talvez, a pensar: então os africanos passam fome, mas têm celular? Não seria uma atitude incoerente? Muito pelo contrário! Atualmente, a mobilidade (o uso de telefones móveis) tem ajudado muito a população africana a melhorar vários aspectos das suas vidas.
Exemplos relevantes
Um bom exemplo de como os celulares são importantes colaboradores para o desenvolvimento da África é o seu auxílio à agricultura. Os agricultores locais estão utilizando o serviço de envio de notícias por SMS para saber a previsão do tempo, descobrir os preços praticados para os seus produto no mercado e para receber textos sobre técnicas de cultivo.
Com os celulares, os africanos também podem receber remessas de dinheiro, enviadas por familiares que estão vivendo na Europa ou América. Com este crédito, fazem compras e pagam seus fornecedores, tudo pelo celular.
Além da utilização econômica, os celulares também estão sendo utilizados por programas de saúde e de combate a desnutrição. O Pesinet é um projeto do governo de Mali (noroeste africano) no qual os agentes de saúde enviam dados, semanalmente, sobre as crianças que vivem em locais remotos, para os médicos que estão nos grandes centros urbanos. Quando o médico vê que o estado de saúde é grave, ele manda um SMS para os agentes, com instruções para uma avaliação mais profunda.
Paradoxos sociais e tecnológicos: E eu? O que faço?
Em meio à miséria e a falta de perspectiva, os africanos encontram nos celulares um respiro de esperança, uma possibilidade de terem dias melhores com menos fome e mais conforto. A tecnologia não vai resolver o problema da África, mas já está ajudando muitas pessoas a terem acesso à informação e, com isso, se desenvolverem. Paradoxalmente, nos países desenvolvidos, que têm abundância tecnológica, as pessoas querem se desintoxicar, como comentei no meu último post.
Refletindo sobre a minha impotência em relação à diminuição das desigualdades na África, tenho procurado não deixar que a indiferença tome conta de mim. Amanhã irei trabalhar o dia todo em um evento promovido pela Afago, uma ONG que atua na periferia de São Paulo, promovendo cursos profissionalizantes, reforço escolar e oficinas culturais para as crianças e jovens da região. A Afago não é só uma provedora de ajuda material, mas uma fonte de esperança para uma vida melhor e mais igual para as pessoas da comunidade .
Acredito que existem inúmeras formas de usar a tecnologia para melhorar a vida das pessoas carentes. Nós todos podemos fazer a nossa parte, praticando o consumo consciente, aprendendo que não precisamos “ter para ser” e, principalmente, descobrindo que, se damos o primeiro passo em direção às situações de dor que nos rodeiam, começamos a transformar à sociedade.
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Mariana Redondo de Assis – Formada em Sistemas de Informação pela Universidade São Judas Tadeu em 2005, concluiu em 2010 a pós graduação em Engenheira de Software pela Universidade de São Paulo (USP). Atua no mercado de TI há 11 anos, passando pelas áreas de suporte, desenvolvimento, projetos e pré-vendas. Atualmente é consultora de sistemas de gerenciamento de conteúdo na Thomson Reuters, responsável pelas plataformas de conteúdo para toda América Latina.