A fragilidade, os limites, a finitude da existência, o impossível. Essas são algumas realidades que nos possibilitam vivenciar a nossa humanidade, conscientes da nossa incapacidade em encontrar respostas concretas às várias situações dolorosas que nos acometem durante a vida.
Mas existe, nessa mesma experiência, tipicamente humana, a possibilidade de abertura ao que, por natureza, não conseguimos conter plenamente e nem compreender com exatidão: o mistério de algo maior que move tudo no Universo.
O exemplo de Jesus: sofrimento que transforma
Mistério que, no cristianismo, tem em Jesus Cristo sua encarnação e no grito da cruz o seu cume. Sim, naquela dor, Jesus abraçou todos os homens e os levou a participar da vida divina. Também Ele, homem como todos nós, se viu sem resposta e no seu profundo abandono nos encontrou.
Mesmo não acreditando no dogma que envolve essa experiência histórica, mística, teológica podemos nos ater a reflexão que envolve a sua dimensão antropológica. O que a experiência de Jesus pode nos dizer, como seres humanos, independente da religião que professamos (ou não)? Que o sofrimento pode tornar-se um lugar de encontro.
A vida revela sua potência e sentido profundo a partir do sofrimento e da capacidade de sofrer. A aceitação do próprio sofrimento como evento existencial implica a possibilidade de ir além dele e, assim, momentos de encontros fecundos podem ser gerados. Não se trata de conformismo, mas vivencia ativa da dor.
Existe um estar junto que é sempre possível! Sofrer com quem sofre, chorar com que chora, não ter respostas, mas se permitir descobrir os caminhos juntos! Compartilhar é a palavra! Comunhão de si e de tudo o que se é com os outros, principalmente aqueles que estão nessa disponibilidade. Assim, o sofrimento passa a ser vivido como parte da própria existência, pessoal e comunitária; como aspecto humano que pode, de maneira surpreendente, nos levar à realização.
Presença de algo maior
Um reconfortante sentimento de paz pode emergir ao constatar que não estamos sozinhos. A presença sutil e estrondosa de algo maior, que nos compreende e quer estar ali, evidencia um AMOR que faz o coração arder. Presença misteriosa que acompanha, oferece confiança, esperança, serenidade.
Em diálogo com a terapia ocupacional, é interessante estabelecer o seguinte paralelo: o profissional é convidado a olhar para além do sofrimento alheio. Justo onde o paciente, geralmente, enxerga apenas o limite, as dificuldades e tudo que perdeu, o terapeuta deve ajudá-lo a descobrir suas potencialidades, dar um novo significado ao seu fazer e, de modo amplo, também o seu viver.
Enquanto a pessoa que está sendo tratada rejeita, ignora, nega a situação dolorosa é difícil visualizar a possibilidade de continuar e, assim, encontrar sentido no cotidiano e nas relações. É justamente o processo de assimilar a dor, integrá-la e reconhecê-la como parte de si, que permite ao paciente continuar a viver e não se conformar em assistir o transcorrer dos dias. Nessa perspectiva, apropriação de si pode significar saber estar na dor, para conseguir colher dela aspectos ainda não conhecidos de si mesmo e dos outros.
Quanto mais o espaço terapêutico configura-se como um espaço de encontro em que vínculos positivos podem ser estabelecidos, é possível proporcionar VIDA a partir da dor. Dessa forma, contempla-se o homem na sua integralidade e favorece-se o exercício da própria humanidade em plenitude.
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