Que a mídia, no geral, é um instrumento de manipulação das elites econômicas, isso qualquer “pseudo-marxista” de plantão afirmaria de olhos fechados. Em uma sociedade em que as dinâmicas sofrem cada vez mais influência dos meios de comunicação de massa, faz sentido o imenso interesse que os detentores do poder têm sobre esses meios.
Contudo, independentemente do seu uso, a comunicação é um instrumento que, na sua ontologia, leva, indiscriminadamente, à partilha, mesmo se não de maneira plenamente gratuita e integral. Em defesa da comunicação de massa e da sua vinculação com a ideia de progresso, o comunicólogo francês Dominique Wolton, recorda o quanto ela “contribuiu par expandir os quadros da sociedade, para democratizar os gostos, os comportamentos, os julgamentos e, de certo modo, para relativizar o domínio das elites sobre a sociedade”.
Wolton não afirma, de jeito algum, que este domínio das elites tenha acabado (mesmo considerando uma diminuição perceptível em relação ao passado não tão distante). Para ele, as elites são hoje mais numerosas e heterogêneas e mídia desempenhou um importante papel de democratização. “De um modo geral”, afirma Wolton, as elites “nunca defenderam muito a democracia de massa”.
Em uma geração as elites se converteram à comunicação de massa para, ás vezes sem pudor, usar a mídia em prol se seus interesses, mas sem jamais questionar a sua essência. Para essas elites, explica Wolton, “a comunicação é ruim, perigosa, discutível, mas vamos usá-la em nosso beneficio”. Porém, essa instrumentalização da comunicação acabou reforçando a ideia de que ela se reduz à transmissão de informação, em que o espectador simplesmente aceita o que lhe é transmitido.
Na contramão do conceito de comunicação de massa, reforçados pelas elites, está o fato de que, mesmo que manipulada, selecionada, condicionada, essa, e qualquer outro tipo de comunicação, transforma. Principalmente por conta do processo de interpretação, que age no processo comunicacional de forma independente, estando profundamente vinculado àqueles que recebem uma informação.
Essa explosão das relações fundadas em um contexto de comunicação de massa tornou, inevitavelmente, a sociedade, hoje, culturalmente mais aberta. O grande desafio que emerge, neste cenário, parece levar a comunicação de massa (como instrumento social) a percorrer um novo caminho, que não se limite à expansão da transmissão de informação, nem se baseie exclusivamente na interpretação da mesma, mas reencontre os sujeitos comunicacionais que fazem uso desse instrumento, para, com eles, redescobrir o fator comum, centrípeto, que os faz, essencialmente iguais e, ao mesmo tempo, profundamente diferentes.
Mais textos sobre o tema: clique aqui.