Quando eu tinha 12 anos, meus pais decidiram me inscrever em um curso de criação de programas, em uma linguagem de programação bastante utilizada na época. Eu achei o curso um pouco chato porque era feito para adultos e os professores usavam exemplos que ainda não faziam parte da minha realidade. Logo depois que concluí o curso, tentei criar um descanso de tela com várias janelinhas que fariam um movimento em perspectiva, como se elas estivessem vindo em nossa direção. Elas também iriam variar nas cores e nas posições de inicio da trajetória.
Mesmo que hoje em dia seja comum ouvirmos notícias de crianças prodigio que fizeram aplicativos para iPhone, no meu caso não foi bem assim. Eu acabei desistindo depois de uma semana. Contudo, cada vez mais, projetos em todo mundo querem propor a programação, como um instrumento fundamental para o aprendizado de crianças.
Primeiras experiências concretas
Em 2012 a Estônia anunciou que começaria a incluir a programação nos cursos de ensino fundamental do país. Isso quer dizer que crianças, a partir de 7 anos, começariam a aprender a criar programas para computadores. Algum tempo depois, em uma pesquisa feita no Reino Unido, 93% das pessoas concordaram que as escolas do país deveriam seguir o exemplo da Estônia e incluir um curso de programação no currículo do ensino fundamental.
Estas notícias são apenas dois exemplos entre muitas iniciativas que trazem indícios que o ensino da programação para crianças parece ser uma tendência que veio para ficar. Talvez a maioria das pessoas diria, sem pestanejar, que aprender a programar com 7 anos seria ótimo para o desenvolvimento e para o futuro das crianças. Será mesmo?
Para Jon Mattingly, criador de um aplicativo para iPad que ensina crianças a criar programas de computador brincando, sim. Segundo Mattingly, ensinar programação para crianças a partir dos 6 anos é uma ótima forma de plantar sementes para o futuro.
Aprendizado que não pressione as crianças
Acredito que dar oportunidade às crianças de aprenderem, desde cedo, a pensar de forma lógica, a partir da linguagem de programação, pode ser uma grande ajuda quando elas crescerem e forem se aprofundar no conhecimento da profissão. E mesmo se eles não quiserem virar programadores, entender como os programas funcionam pode ser útil em outras áreas.
Porém, hoje a vida das crianças esta, cada vez mais, repleta de compromissos: aulas de idiomas, dança, esporte, e agora, informática. Todos estes cursos são muito úteis e podem ajudá-las no próprio desenvolvimento. Contudo, deve-se ter cautela para que não se cometa exageros. Crianças com muitas responsabilidades podem acabar ficando sem tempo para brincar e se divertir tornando-se adultos muito cedo.
Além disso, acho importante que os professores estejam preparados para ensinar as crianças a descobrir um equilíbrio entre o tempo usado no computador e fora dele, ajudando-as a se desenvolver também de forma relacional. Quem sabe, por exemplo, promovendo a colaboração entre elas na hora de criar um programa e ensinando-as a desligar o computador para aproveitar outros .
Não quero dizer que ensinar a criança a programar pode ser algo ruim que atrapalhe sua infância. Contudo é preciso ter cuidado para não pressioná-la a obter resultados ou levá-la a pensar que este é o único caminho de sucesso que ela poderá percorrer. De acordo com Mitch Resnick, pesquisador do MIT, o ensino de programação não é necessariamente um fim, mas um meio para que as crianças possam aprender e se interessar por outras coisas. Por exemplo, quando aprendemos a ler e escrever nem todos nos tornamos grandes escritores. Mas, a capacidade de ler, interpretar e criar textos permite que nos desenvolvamos em qualquer disciplina.
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Relacionar-se de maneira sadia com a tecnologia
Como acenei nos últimos posts, é fundamental usarmos a tecnologia como meio e não como fim, procurando sempre um equilíbrio na relação entre o universo virtual e a vida off-line. Uma vantagem de ensinar as crianças desde cedo sobre os benefícios da programação, é também possibilitar uma relação sadia com o mundo virtual e o real.
Depois, eu também me pergunto: será que o curso de programação que fiz aos 12 anos, me influenciou a trabalhar na área de tecnologia? Sinceramente, não saberia dizer ao certo, mas, posso afirmar que, ao tentar criar aquele descanso de tela, me vi pesquisando informações sobre perspectiva, física, design. Enfim, a tentativa de começar a criar algo com aquela tecnologia me fez aprender outras coisas, além de uma simples linguagem de programação.
Dar a possibilidade para as crianças aprenderem a programar pode ser bom para o seu desenvolvimento e aprendizado, contudo, temos que tomar cuidado para não criar expectativas ou forçá-las a se tornarem prodígios precoces. Cada um tem o seu talento e a programação deveria servir como algo que potencializa essa descoberta, permitindo que as crianças explorem novos universos.
Mariana Redondo de Assis – Formada em Sistemas de Informação pela Universidade São Judas Tadeu em 2005, concluiu em 2010 a pós graduação em Engenheira de Software pela Universidade de São Paulo (USP). Atua no mercado de TI há 11 anos, passando pelas áreas de suporte, desenvolvimento, projetos e pré-vendas. Atualmente é consultora de sistemas de gerenciamento de conteúdo na Thomson Reuters, responsável pelas plataformas de conteúdo para toda América Latina.