Nas últimas semanas recebi o bonito convite para, com a minha esposa, apadrinhar casamentos de dois casais de amgios. É maravilhoso ver as pessoas com quem eu cresci junto, realizando o sonho de fundar uma família, com todas as formalidades importantes, porque elas tornam a união de duas pessoas que se amam, um evento verdadeiramente comunitário.
Isso, contudo, me fez pensar na seriedade deste que os cristãos chamam (mesmo às vezes sem viver) de sacramento. Um casal que eu apadrinhei, infelizmente, hoje não existe mais. Outro vive uma situação complicada, que parece caminhar rumo ao fim. Diante disso, comecei a ficar mais receoso em aceitar esse tipo de convite.
Este ano, descobri que o apadrinhamento é uma responsabilidade grande, não só perante a família que inicia, mas diante de Deus. Assim, disse a um desses casais que eu aceitava somente se eles nos deixassem (eu e minha esposa) livres para “dar pitaco” na família deles, sobretudo quando estiverem vivendo momentos complicados entre eles. Ser padrinho é realmente o convite a estabelecer um vinculo verdadeiro com seus afilhados, mesmo que, devido à distância geográfica, limite-se à dimensão espiritual. Se não for desta maneira, não tem sentido. Ser padrinho se transforma em um formalismo estúpido e carnavalesco.
A realidade das famílias binacionais
Este mesmo casal a quem discursei meu “atestado de intromissão”, vive uma realidade parecida com a minha e da minha esposa: a dos casamentos binacionais. Se casar já é uma grande novidade na vida de dois indivíduos, casamento entre pessoas de continentes diferentes é uma dupla-aventura.
Nesse – quase – um ano como família “suíça-brasileira”, eu e minha esposa pudemos experimentar – na pele – o quanto as diferenças culturais influenciam as atitudes e incidem diretamente no cotidiano da vida em família. Parece algo banal e às vezes até passa despercebido, mas nos momentos de dificuldade, a diversidade de alguns valores pode ser motivo de conflito. Claro que isso acontece também entre casais do mesmo país, mas acredito que aqueles formados por pessoas de países diferentes vivem essa experiência de maneira potencializada.
Por exemplo, independente onde ela se instale, fatalmente, um ou ambos os conjugues de famílias binacionais deve abdicar da própria língua, da comida, da família natural e dos amigos, algo que está ligado à essência de cada individuo. Parece-me fundamental considerar com maturidade e “respeito” esse aspecto.
Por outro lado, existe a riqueza infinita no relacionamento entre pessoas de culturas diferentes, que vão, aos poucos, se misturando, criando uma nova cultura, híbrida, capaz de aproveitar o bom e descartar o ruim das culturas de origem. Aumenta-se o background cultural, o conhecimento das línguas, os gostos gastronômicos, o mundo fica muito maior.
Não posso discursar demasiadamente sendo parte de uma família “embrionária”, com pouquíssimo tempo e experiências, mas me sinto feliz demais por fazer parte de uma família binacional. Ela me impulsiona a viver o casamento com uma seriedade capaz de superar os ruídos de comunicação – verbal ou não.
É fantástico perceber também que temos construído, com outros casais binacionais, um vínculo bonito, de ajuda e partilha mútua para, juntos, superarmos todos os possíveis obstáculos que envolvem essa palavrinha simples, mais cheia de significados, chamada cultura.