Nunca duvide quando outros casais mais rodados dizem: “Quando você casar, o relacionamento com o(a) outro(a) muda completamente!”. É verdade. O problema é que o tom da afirmação, ou a nossa interpretação dela, é sempre pejorativa. A gente sempre acha que na vida em família as coisas vão piorar. Vai-se perder a alegria, espontaneidade, a liberdade do namoro, mas não é bem assim, mesmo existindo riscos.
É verdade que antes do casamento a gente, geralmente, fantasia muito a vida a dois. Acha que vai ser sempre o paraíso, que estaremos 24 horas do lado daquela(e) que mais amamos no mundo… Claro que isso acontece! Mas também tem uma infinidade de experiências, aparentemente não tão bonitas, que se vive em família e, por mais que eu tente explicar, é preciso estar casado para entender plenamente.
A minha mais nova descoberta tem relação direta com um cômodo da casa, que frequentamos diariamente e que, se não está limpo, incomoda bastante: o banheiro.
A vida em família (desculpe-me se escandalizo) é, também, igual ao banheiro. Precisa ser agradável, aconchegante, limpa, para que possamos “descarregar”, serenamente, aquilo de desnecessário que “processamos” durante o dia. É onde nos lavamos, eliminando a sujeira acumulada “fora” e nos renovamos, ficando mais bonitos, relaxados e, consequentemente, mais felizes.
Partindo da perspectiva mencionada acima, existe o risco de pensar que a vida em família (principalmente em relação ao parceiro) se limita a um único “objeto” do banheiro, onde eliminamos tudo aquilo que processamos durante o nosso dia: a privada.
Não. A família não é um lugar funcional onde somente descarregamos as experiências e sentimentos ruins acumulados durante o dia. Ela é, na verdade, lugar onde levamos as nossas dificuldades, as crises, os anseios, como um dom, para, juntos, redimensioná-los e crescermos. Do contrário, aos poucos a vida em família vai sendo minada pelas coisas ruins e a alegria que, a priori, uniu duas pessoas que se amam, começa a dar espaço aos resmungos, ás insatisfações, cobranças, divisões.
Claro que a linha é tênue, e chegar a um equilíbrio em que as dificuldades são “doadas” de maneira pura e gratuita, exige um exercício cotidiano (para não dizer infinito). No meu caso, tendo a acrescentar o quão necessária é a “mãozinha” de Deus para que, eu e minha esposa, jamais nos esqueçamos da sacralidade da família.