Racismo no futebolÀs vezes me deparo com situações em que sinto estar vivendo na Idade da Pedra, onde os atos animalescos, pouco racionais, definiam os privilégios sociais. Diante desses “escândalos” eu não consigo deixar de lembrar que as grandes conquistas da humanidade caminharam, decisivamente, para uma maior inclusão e não para exclusão de seres humanos. Por isso em muitos países não existe mais escravidão, a comunicação pode ser considerada “de massa”, a educação é um bem “para todos”, existe um estatuto da criança, a declaração universal dos direitos dos homens e etc. Porém, e isso espanta, ainda existem pessoas que promovem a segregação.

A pior das exclusões, para mim, é o racismo. Não por ser afrodescendente e, por isso, potencialmente vítima, mas porque ela “coisifica” brutalmente o ser humano pela cor da sua pele, pela sua etnia, as raízes. Infelizmente o futebol vem sofrendo “desse mal” há muitos anos e, nos últimos dias, os casos de racismo ganharam proporções que exigiram a mediação institucional da FIFA.

O relato no blog de Cosme Rimoli explica a situação: “Na partida entre CSKA e Manchester City, o alvo dos torcedores foi Yaya Touré, jogador negro que nasceu na Costa do Marfim. Era só a bola cair no seu pé e lá vinha a imitação de macacos na arquibancada. A partida era válida pela Champions League, a mais importante competição de clubes de futebol do mundo. O marfinense ficou revoltado. Mas não seguiu o caminho fácil de apenas reclamar na imprensa. Parou o jogo, mostrou ao árbitro e pediu que a partida fosse encerrada. Não foi.”

O que parecia mais um dos muitos casos de racismo no futebol no Velho Continente, se transformou no estopim que levou a FIFA a, finalmente, agir.  Yaya Touré disse, em alto e bom som: “esse tipo de situação tem de acabar até o Mundial de 2018”. Caso não acabe, o jogador prometeu organizar um boicote dos negros, podendo se estender à Copa do Mundo.

Bastou que uma vítima desse racismo animalesco desse uma declaração radical, ainda mais sendo um ídolo do futebol inglês, para que o presidente da maior entidade do futebol mundial, o suíço Joseph Blatter, percebesse o quanto a postura da Fifa é branda, quase conivente. Imagine uma Copa do Mundo sem negros? Sem Balotelli, Touré, sem Neymar, Paulinho… Sem as Seleções Africanas. Impossível! Os exemplos de casos de racismo na Europa são vergonhosos e “não adianta apenas multar e obrigar os clubes a jogar com portões fechados. Aqueles que possuem racistas entre seus torcedores precisam pagar caro”, afirma Rimoli.

As ameaças de Touré parecem ter surtido efeito e Blatter começou a se mobilizar para mudanças efetivas nas regras. Dessa forma, os racistas devem ser proibidos de assistir aos jogos; as polícias passarão a identificar e indiciar, vetando o acesso deles aos estádios nos dias em que seus times estiverem jogando. Aos clubes, as punições serão muito mais severas. Em vez de multas, perda de pontos. E, em caso de reincidência, até mesmo eliminação de campeonatos.

É fundamental criar regras severas contra qualquer manifestação de racismo. Seja de cor, raça ou até mesmo opção sexual. O futebol é conhecido como o esporte mais democrático do mundo, mas não pode seguir a demagogia “terminológica” existente no contexto político.

Espero que o caso sirva de exemplo para o mundo inteiro, inclusive ao Brasil, onde o racismo no futebol existe, mas que, como na sociedade, é travestido de uma hipocrisia cultural. Mas, pelo menos no futebol, o preconceito deve custar caro.

Alguns vídeos sobre o assunto:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=ogz2wqRCQZI]

Especial do Esporte Espetacular sobre o racismo

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=LUCONduhYCk]