Hoje de manhã, fui “provocado” pelo “post” de um amigo, carioca, com o manifesto escrito por um aluno do curso de Relações Internacionais, que se negou a fazer um trabalho sobre Marx. Não é de se estranhar que a revista VEJA tenha dado espaço para um depoimento deste, pois é uma excelente oportunidade de atacar o governo, como ela nunca escondeu fazer.
Como ex-estudante de uma universidade declaradamente de esquerda e tendo sido, também eu, obrigado a aturar, quase exclusivamente, pensadores inspirados nas ideias de Marx, entendo bem a revolta do jovem João Victor Gasparino. O que não concordo, porém, é um tipo reflexão que mantém o debate “polarizado”, expondo somente os limites intrínsecos das ideais, mas sem procurar dialogar com o bem que elas, possivelmente, produziram.
Uma das descobertas que fiz, durante a minha pós-graduação, foi entender que existe, sempre, um ser humano por trás de uma ideia. Assim, estando distantes historicamente delas, temos geralmente a dificuldade de entender como e por qual razão ela foi concebida.
Por exemplo. Membros da famosa Escola de Frankfurt, Adorno e Horkheimer, ambos alemães de origem judaica, exilaram-se nos Estados Unidos, após fugir da perseguição nazista em seu país natal. Os dois pensadores sentiram na pele o drama da perseguição politico-ideológica e racial do regime nazista (de extrema direita) e, provando um sentimento de frustração devido ao fracasso da revolução Iluminista dos quais acreditavam, encontraram nas ideias de Marx uma (possível) resposta ao despotismo ideológico nazifascista, mas que, perpetuando-se, essas ideias também acabaram incorporando um viés ideológico.
Diante desses pensadores, seres humanos falhos, é importante a “misericórdia intelectual”, pois é difícil jugar historicamente os erros cometidos em um contexto tão distante do nosso. Contudo, herda-se também um grande aprendizado: Nenhuma teoria, religiosa ou não, de esquerda ou de direita, é infalível.
Somos produtores falhos de ideias, mas, como se vê também historicamente, no encontro produtivo, no debate, na escuta, unimos os fragmentos de verdade “escondidos” nelas e geramos aquilo que, indo para a prática, pode ser considerado DESENVOLVIMENTO.
A crítica do jovem estudante da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) que relaciona as ideias marxistas ao governo brasileiro é muito relevante enquanto apelo. Contudo, deve ser acolhido não como um “grito” contra as ideias políticas vigentes, mas como percepção realista de que o romantismo em relação à esquerda ideológica, não nos levou à “Terra Prometida”.
É aqui que fica a lição, acredito eu. O problema do PT não é a defesa de suas ideias, de origem marxista, mas a transformação delas em ideologias, centrípetas, impostas como verdade absoluta e, consequentemente, excludentes àqueles que não as aderem.
Quero uma mudança política no ano que vem porque, sendo incapaz de propor um diálogo respeitoso e produtivo, o governo petista NÃO ME REPRESENTA, mesmo consciente que de ele produziu benefícios à sociedade, como fez o governo do PSDB e, por que não, a ditadura militar.
É fundamental, no contexto atual, que os políticos tenham a coragem de dialogar com o diferente, coragem de escutar, a fim de que as ideias possam, independentemente das suas origens, concorrerem para o bem comum.