Month: September 2013 Page 3 of 4

A tridimensionalidade das referências

CONHECIMENTO E INFORMAÇÃO

A comunicação, na sua origem, promove o encontro com o outro, a partilha que, se aproveitada, revela as diferenças que nos fazem seres autênticos. Descobrirmo-nos “iguais em direito”, mas diferentes na essência é fundamental também para a preservação das referências. Já em uma sociedade aberta, em que a comunicação de massa serve de ponto de encontro amplificado entre as “alteridades”, surge a necessidade de repensar a coabitação cultural, no que diz respeito, especialmente, ao reconhecimento e a importância das diferentes referências.

Partindo disso, Dominique Wolton propõe a distinção de três tipos “globais” de discurso ou visões de mundo. Como ele mesmo afirma, “o progresso da democracia é permitir a cada um, através da informação, o acesso a certa compreensão dos múltiplos pontos de vista sobre o mundo, desde que se tenha bem em mente tudo o que continua distinguindo as três grandes relações com o mundo que a informação, o conhecimento e a ação constituem”.

Saber que informar não é conhecer e conhecer não é agir é “admitir a existência de três grandes discursos e relações com o mundo que estruturam a sociedade; é reconhecer o papel complementar e indispensável dos três, pois cada um deles representa uma visão particular do mundo”, afirma massmidiólogo francês.  Dominique Wolton afirma que “o conflito de legitimidade é reconhecer a legitimidade e a irredutibilidade dos três discursos (informação, conhecimento e ação) na sociedade democrática. É também pedir que cada um desempenhe o seu papel e não o dos outros”.

Simplificando, com temor de não reduzir a complexidade do pensamento de Wolton, a diversidade de referências, quando pensada na perspectiva social e buscando a coabitação cultural, pode ser relacionada a três diferentes visões de mundo, baseadas na informação, no conhecimento e na ação. A relação entre essas três realidades promove a verdadeira comunicação, pois não simplesmente informa, ou gera conhecimento e ação, mas permite, ao mesmo tempo em que afirma a originalidade dessas três dimensões, que, relacionando-se, essa “tridimensionalidade” leve a coabitação.

“Coabitar é, em primeiro lugar, refletir sobre as condições simbólicas, portanto culturais, que permitem simultaneamente trocas e um mínimo de distancia”.

Antídoto contra o mal

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A grande lição do final de semana que passou foi redescobrir a importância (para não dizer: necessidade) de alimentar-se de coisas boas. Um bom antídoto contra o mal.

Nos últimos meses, vendo (e vivendo) situações negativas, em diversos ambientes, comecei, em doses homeopáticas, a perder a esperança nas pessoas, no mundo e em Deus. O grande problema é que, essa falta de expectativa positiva, nos leva a aceitar o mal que “busca” se fazer presente; faz-nos aceitar comodamente os limites, nossos e alheios, como triste “condenação”. Esse “vitimismo” não é somente contra produtivo, mas auxilia a manutenção do “status quo”.

Procurar o bem, nos acontecimentos e relacionamentos, nos dá o fôlego suficiente para ultrapassar, no dia-a-dia, a linha tênue entre o “simples viver” para o “viver e fazer a diferença”.

Simplesmente viver, é aceitar, cotidianamente, que o pouco que fazemos é inútil à transformação da sociedade. É não ter a ilusão, romântica ou ideológica, de que as coisas mudam através dos pequenos atos. Essa concepção é tão racional, tem tanta lógica, que parece verdadeiramente definitiva.

Contudo, não são as revoluções exteriores que transformam definitivamente a nossa vida, mas as mudanças interiores, a capacidade de “ler” os acontecimentos de maneira diferente, visando um agir “novo”, que não muda (talvez) o mundo, mas o “revoluciona” sim, no pequeno.

Alimentar-se de coisas, relacionamentos e experiências boas nos tira do comodismo omisso e nos impulsiona a fazer a diferença na nossa e na vida que existe ao nosso redor.

Mais um Francisco para entrar na história

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Entre os considerados “santos” pela Igreja Católica aquele que, provavelmente, mais arrebatou simpatizantes, dentro e fora da comunidade eclesial, é um tal de Francisco de Assis; testemunho avassalador de radicalidade, simplicidade, desapego e amor à natureza.

Francisco, nascido na belíssima Assis, região da Úmbria italiana, ficou também conhecido por ser pai dos pobres e dedicar sua vida no cuidado aos excluídos e doentes da sua cidade. Inspiradas nele nasceram inúmeras expressões religiosas que, também nos dias de hoje, testemunham a caridade, como pilar da fé cristã.

Mas, parece que não somente ás ordens e os movimentos religiosos decidiram seguir o rastro de Francisco de Assis. O cardeal Bergoglio, agora Papa Francisco, tem mostrado, através de suas atitudes “pastorais” que “um novo catolicismo” começa a emergir.

O carisma e a simplicidade do papa Francisco é assunto batido. No Brasil, foram incontáveis as demonstrações de que, antes de tudo, o sacerdócio é SERVIÇO para a comunidade eclesial e não privilegio de uma elite clerical que, historicamente, gozou de um prestígio que transgredia o significado original do termo.

Contudo, o Francisco do século XXI não para de revolucionar. Esta semana, após receber a carta de uma jovem romana, abandonada pelo marido, grávida e que dizia temer não poder batizar seu filho, o papa ligou para a jovem e disse que, ele mesmo, iria batizá-lo. O gesto inusitado e carregado de significados para a Igreja católica sacramenta a “pedagogia pastoral” do sumo pontífice: falando pessoalmente com um fiel, para acolher seu drama, ele fala a todos, promovendo um novo modo de ser igreja, ser católico, em que, antes de tudo, se olha o ser humano e, depois, a “lei”.

Além do seu xará italiano, parece que outro revolucionário que viveu neste mundo, há 2.000 anos, propunha a mesma coisa. Mas, sendo humana, a Igreja Católica acabou se tornado uma espécie de antro dos fariseus modernos, mais voltada para a lei, que para o amor, que acolhe todos.

O testemunho do papa Francisco parece ser a resposta “transcendente” aos sinais dos tempos, em que valem mais os relacionamentos, a convivência no amor fraterno, a acolhida de todos. Afinal de contas, Jesus e seus discípulos se preocuparam mais em SER/VIVER Igreja do que escrever regras para adesão exclusiva da mesma.

Pois bem, parece que o catolicismo está, finalmente, retrocedendo e, assim, progredindo.

Dona Maristela perdeu seu dicionário e esqueceu o significado de “respeito”

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“A solidariedade e a fraternidade são elementos que fazem da nossa civilização verdadeiramente humana”, disse o Papa Francisco, durante a sua passagem pelo Brasil na Jornada Mundial da Juventude. E bem, é difícil saber o quão distantes ambos “elementos” estão da nossa realidade.

Nos últimos dias, eu tive o “desprazer” de assistir ao depoimento desumano da gaúcha Maristela Basso, ao vivo, no Jornal da Cultura. Advogada, Doutora em Direito Internacional (Ph.D) e Livre-Docente (Pós-Doutora-Post-Ph.D) em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo. Inscrita desde 1983 na OAB/RS, OAB/SP, OAB/RJ e OAB/DF, a advogada possui experiência nos Estados Unidos, Itália, México e Alemanha.

Os títulos são suficientes para preencher muitas páginas do seu curriculum lates, mas a ignorância e o desrespeito que demonstrou em rede nacional deprecia a classe intelectual brasileira, marcada por um elitismo que pouco fez, e pouco faz, pelos mais necessitados.

Comentando o incidente diplomático bilateral ocasionado pela fuga ao Brasil do senador opositor boliviano Roger Pinto Molina, com a ajuda do encarregado de negócios da Embaixada do Brasil em La Paz, Eduardo Sabóia, Maristela Basso disse:

“A Bolívia é insignificante em todas as perspectivas, (…) nós não temos nenhuma relação estratégica com a Bolívia, nós não temos nenhum interesse comercial com a Bolívia, os brasileiros não querem ir para a Bolívia, os bolivianos que vêm de lá e vêm tentando uma vida melhor aqui não contribuem para o desenvolvimento tecnológico, cultural, social, desenvolvimentista do Brasil”.

Faz muito tempo que não sentia tanta vergonha de um cidadão brasileiro. Raramente os nossos representantes conseguem levar ao mundo uma imagem positiva do país, mas, assistindo ao comentário da senhora Basso, percebi que a coisa ainda pode piorar.

A desumanidade do comentário não só denuncia (novamente) o imenso desrespeito que alguns brasileiros vêm demonstrando com os estrangeiros que chegam ao nosso país, mas evidenciam um preconceito vergonhoso, com milhares de adeptos e que “fazem coro” à senhora Basso.

Por outro lado, a veemente contestação do cientista político Carlos Novaes, que também participava da edição do jornal, ao discurso de Maristela Basso, mostra que existem, sim, intelectuais que consideram o respeito um elemento primordial das reflexões sobre os acontecimentos do mundo.

Resgatar a humanidade, a tolerância e, principalmente, a valorização das inúmeras diferenças culturais, nacionais ou importadas (mesmo que não sejam de um “país do Norte”), é fundamental para o “despertar do gigante”. Mas, para isso, é necessário o respeito, que, caso alguém não saiba o que significa, coloco abaixo a definição do dicionário Houaiss.

respeitar     Datação: sXV

n verbo

 transitivo direto –  1     ter respeito, deferência por (alguém ou algo); ter em consideração – Ex.: os filhos respeitam-no

 transitivo direto –  2     demonstrar acatamento ou obediência a; cumprir, observar – Ex.: r. as ordens

 transitivo direto –  3     ter medo de, recear –  Ex.: r. o animal bravio

 transitivo direto –  4     tomar em considerações; ter em conta; atender a – Ex.: r. a vontade do povo

 transitivo direto –  5     não causar qualquer prejuízo a; poupar – Ex.: r. as obras do passado

 transitivo direto –  6     ter cuidado com; não perturbar – Ex.: r. o sono de alguém

 transitivo direto – 7     demonstrar tolerância com; suportar, admitir – Ex.: r. críticas

 transitivo indireto –  8     dizer respeito a; concernir – Ex.: esses fatos respeitam à justiça

 transitivo indireto –  9     estar na direção; estar voltado; apontar – Ex.: quando saiu, o navio respeitava ao norte

 pronominal – 10   guardar o decoro que convém à sua situação, à sua dignidade; dar-se ao respeito

Uma resposta violenta e hipócrita

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Sendo radicalmente a favor da vida e contra qualquer pessoa, governo ou instituição que se sinta no direito de controlá-la, nunca considerei a pena de morte uma possível solução diante de um crime cometido, independente da gravidade.

“Claro, você nunca passou por isso!”, diria alguém que vivenciou uma experiência traumática de violência. Contudo, acredito, cada vez mais, que existe um paralelismo nas mais diferentes experiências de vida, que tira a necessidade de alguém ter de viver tudo para entender os sentimentos por detrás delas. Assim, continuo contra a pena de morte.

Matar é eliminar um individuo que incomoda. A pena de morte denuncia tanto os limites intrínsecos de qualquer ser humano, como a nossa incapacidade de lidar com alguns problemas que, muitas vezes, nós, como sociedade, somos a causa. Matar é almejar o corte do mal pela raiz; é acreditar que, dessa forma, não só se elimina o problema, mas intimidam-se os possíveis futuros agressores.

Bem, se fosse realmente assim, veríamos os casos de violência diminuir, o que não acontece. A resposta violenta a um crime social não educa, não resolve o problema, não promove soluções verdadeiras.

O argumento acima serve também como reflexão, no advento de um possível bombardeio à Síria. Com o uso de armas químicas, o governo do país acabou cometendo um crime gravíssimo perante a Comunidade Internacional. Por isso, é inquestionável a importância de uma dura repreensão aos agressores, para que esse crime não abra precedentes difíceis de mensurar. Mas, pergunto: adianta soltar algumas bombas, mesmo que com alvo estratégico, em um país já castigado pela guerra interna? A resposta violenta irá “ensinar” algo aos agressores?

A resposta é não. Não adianta nada. Como não adianta executar alguém que teve sua existência roubada por problemas psicológicos, ou traumas sociais. Você só tira o problema da frente, não o resolve.

Não sou eu quem toma as decisões, que tem a responsabilidade dos líderes do Conselho de Segurança da ONU, ou dos chefes de estado das grandes potências do mundo. São eles que têm o dever de encontrar soluções “criativas” para uma punição eficaz contra o governo Sírio. Contudo, seria oportuno que eles tivessem a consciência de que uma iminente guerra: só tiraria ainda mais vidas, muitas delas inocentes; só continuaria promovendo o ódio dos países árabes contra o Ocidente; só aumentaria a ameaça terrorista.

Acredito que é preciso intervir a favor do povo Sírio, que está sendo eliminado por um governo irresponsável, inconsequente, genocida, mas é fundamental que essa intervenção seja pensada, articulada coletivamente e de maneira inteligente.  De nada adianta fornecer armamentos para os conflitos no Oriente Médio e depois condenar a violência descomedida. Isso se chama hipocrisia.

Diante de tudo, o mais importante é jamais se esquecer do imenso valor da PAZ. Ignorá-lo pode causar um grande arrependimento.

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