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A vida urbana é um marco na evolução da humanidade. Encontramos um modo de partilhar o espaço social, manipular os recursos naturais para o bem comum e, assim, trocamos o nomadismo e a barbárie, pela cidade e a ordem social.

O parágrafo acima poderia provavelmente ser encontrado em qualquer livro de história. É uma análise fria e, de certa forma, coerente se observamos o percurso histórico milenar do ser humano. Contudo, partindo dos parâmetros atuais, isso não significa, de maneira alguma, que estamos vivendo BEM.

A inclusão social e a sociedade digitalizada que caracterizam o contexto urbano moderno permitem (felizmente) que sejamos indivíduos. A conquista de uma concepção de ser humano que garante a sua unicidade e o direito pessoal de escolha aumenta o número de pessoas envolvidas nas dinâmicas sociais. Mas, ainda existem outros milhares de excluídos, diariamente silenciados, principalmente nas periferias.

Só por esse motivo o “bem comum” da vida urbana é questionável. Enquanto ela gera exclusão não pode ser enquadrada como última etapa do desenvolvimento humano. Existe uma “existência social”, fora dos grandes centros, mais harmônica, mesmo se talvez menos “conectada”, que têm muito a dizer a respeito do modo como vivemos.

Lembro-me que, quando estive na Indonésia pós-tsunami, viajando com um grande amigo nativo, perguntei a ele o porquê se viam tantos jovens sentados nas calçadas conversando enquanto tinham todo o país para reconstruir. “Eles já têm tudo”, respondeu-me, o que fazia sentido, pois diante de uma catástrofe, o bem maior é a própria vida. Casas e coisas materiais podem ser reconquistadas com o tempo.

Aquela lição me fez perceber o quanto é fundamental procurar um equilíbrio para a nossa vida. Dentro do contexto urbano nós aceitamos, em prol do bem estar material, um ritmo de vida homicida, que diminui a nossa expectativa de vida de maneira relevante e pior, transforma o nosso bem supremo em simples “sobrevivência cotidiana”.

Do outro lado do planeta, no imenso país do sudoeste asiático, as pessoas trabalham, seguem suas vidas, com (talvez) menos benefícios tecnológicos, enquanto nós, nas grandes cidades do Brasil, nos conformamos com o “ensardinhamento” cotidiano no transporte público, uma jornada de trabalho de 10 a 12 horas, a crescente quantidade de moradores de ruas e inúmeros outros dramas que geram ainda mais exclusão e desigualdade.

Por isso vivemos pouco. Por isso vivemos mal. Aceitando ambos sem ao menos refletir. E assim a vida se consome rapidamente.