Month: June 2013 Page 2 of 3

Desculpe a sinceridade, mas é só o primeiro passo!

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Eu sempre achei que o casamento era sinônimo de família. A maior “revolução” na vida de uma pessoa é unir-se a uma “outra”, igual em dignidade, mas profundamente diferente. Talvez, por isso, o casamento seja algo tão grande; por isso que muitas pessoas têm medo ou, por outro lado, romantizam, se iludem, achando que ele, por si só, já basta para ter/ser uma família.

Contudo, na prática, é tudo “outra coisa”. Descobrir que a família não se limita à simples união física entre duas pessoas foi, para mim, perceber que o casamento é só o primeiro passo.

Família, se constrói no dia a dia, na harmonização de sonhos, exigências, manias, projetos… no respeito mútuo, no investimento contínuo de caminhar em direção ao outro. Tudo isso gera muito desgaste, exige muito mais investimento de energia, mas sem viver essas dinâmicas “difíceis” não se constrói uma família “de verdade”.

Bom! É essa também a minha leitura sobre a incrível “Revolução do vinagre”.

Hoje eu acordei cedo, como tantas outras terças. Tomei café da manhã e saí de casa, rumo ao metrô.  Chegando lá, nenhuma surpresa: a passagem ainda custava R$3,20 e o metrô ainda estava lotado.

Imediatamente me veio a imagem da linda manifestação de ontem… milhares de pessoas em São Paulo, que “contaminaram” o país, mostrando visivelmente uma insatisfação com o “status quo” e exigindo mudanças.

Indo, hoje, para a 6ª manifestação em três semanas, qual o balanço positivo de tudo isso? A situação mudou? O governo voltou atrás? Não!

Contudo, neste caso, não valem só as questões materiais. O “movimento” instituiu uma nova cidadania entre os paulistanos. Renovou a consciência e a esperança de que “o povo unido” é a explicação para estarmos vivendo em uma democracia.

Mas, desculpa a sinceridade: esse é só o primeiro passo!

Como o casamento não é sinônimo de família, manifestação não é sinônimo de revolução. As mudanças que já acontecem na cidade, estão sendo feitas por grupos menos “visíveis”, que procuram, de maneira séria e organizada, dialogar com o poder público e exigir dele uma postura cidadã.

Um exemplo, que eu conheço e acompanho de perto, é o movimento dos ciclistas. Já no período das eleições ele fez os candidatos assinarem um termo de compromisso com as causas que ele defende. Atualmente, após alguns casos tristes de violência contra ciclistas na cidade, o movimento se organizou, elaborou propostas e se encontrou com o prefeito Haddad e a Secretaria de Transporte para exigir mudanças.

O sucesso desse diálogo são algumas garantias importantes, como a ciclovia no percurso da linha de monotrilho da zona leste de São Paulo e a campanha por respeito aos ciclistas que será lançada brevemente.

Isso é “grande coisa”? Não. Resolve o problema da mobilidade na cidade? Também não. Mas é uma mudança concreta, é nasceu do esforço de estabelecer a mesma harmonização de sonhos, exigências, projetos… e, principalmente, do respeito mútuo.

Estou torcendo para que, quem tem participado das passeatas, se dê conta da dificuldade que é ser um SUJEITO POLÍTICO ATIVO e os grandes desafios de transformar concretamente a cidade. Não é fácil trabalhar em conjunto, “politicamente”, em prol dos direitos coletivos, por meio do diálogo e não na gritaria.

Contudo, desta consciência, que nasceu das passeatas, eu acredito que podem surgir coisas maravilhosas para todos, mas é importante não “se bastar” e ter a coragem de dar o segundo passo.

O colapso de uma cidade desumanizada

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O mesmo direito que temos, como cidadãos, de protestar nossa insatisfação e exigir do Estado soluções, o governo tem de justificar suas decisões (mesmo que, neste caso, qualquer decreto pode ser questionado “pacificamente” pelo povo).

Essa dinâmica dialógica, grande conquista da democracia, coloca o direito de expressão como um elemento fundamental no “krátos” do povo, mesmo se, geralmente, esquece-se que qualquer direito incute uma responsabilidade.

Dessa forma, a tensão entre governo e população é legítima. Qualquer insatisfação popular deveria, contudo, servir como possibilidade de crescimento do diálogo, oportunidade de aproximação do povo às dinâmicas políticas, que, infelizmente, no contexto brasileiro, se resumem ao voto.

O que, porém, é inadmissível, em ambas as partes, é o uso da violência. Nenhuma causa, ou defesa dela, se justifica com a força. Essa atitude primitiva e ideológica representa um retrocesso diante de tudo aquilo que foi conquistado.

A luta no período da Ditadura Militar para que, hoje, vivamos nesta democracia (por pior que possa ser) já teve os seus mártires. Por isso, não é necessário repetir esse tipo de confronto, completamente descabido no contexto atual, mas desenvolvê-lo de outras maneiras, mais inteligentes.

E não digo que os jovens não devam lutar, pois acredito que realmente é fundamental. A minha crítica é em relação ao modelo, à postura destrutiva, que só causa alvoroço, faz vítimas e sacramenta o que todo mundo já sabe: São Paulo é uma cidade desumanizada.

Não preciso ir a nenhuma manifestação para saber disso. Não preciso tomar gás de pimenta nos olhos ou bala de borracha no corpo. Viver nesta cidade, nos dias de hoje, morar ao lado da Crackolândia, ser filho de professor de escola pública e não poder caminhar com tranquilidade nas ruas do centro são motivos suficientes para que eu me responsabilize e faça alguma coisa pela cidade!

Quem acha que a tomada das ruas é importante, faça! Divirta-se! Mas, sinceramente, não pense que isso basta para mudar a cidade, o país. Essa ideologia foi construída com objetivos políticos específicos.

Não meus queridos! Mudar a cidade exige outras coisas! Lutar pela igualdade social, sem perder a sensibilidade para com os mais necessitados; abrir mão da maconha que sustenta o tráfico de drogas; respeitar os idosos no transporte público; tolerar o “Outro”, completamente diferente; não jogar lixo nas ruas; não beber e dirigir, para não arrancar o braço de ciclistas; não compactuar com o fenômeno do consumismo… Enfim, para mudar a cidade, o país, antes de tudo, é importante mudar a si mesmo.

Contudo, isso não tira a importância coletiva de uma “luta”. A passeata dá visibilidade à causa e mostra ao poder público que existem muitos insatisfeitos.

É aqui que a violência descabida do Estado tem agido de maneira escandalosa. O que a Polícia Militar  – que não deveria existir – tem feito em São Paulo é um crime horroroso! Mas ela tem agido assim, cotidianamente, exterminando jovens nas periferias, compactuando com a corrupção. O fato é que, agora, ela está batendo nos filhos da Classe Média, então o “mal é maior”.

Para mim, a metodologia da Polícia Militar, principalmente do Choque, é a expressão máxima da desumanização da cidade, decorrente de uma administração pública incompetente que,  há 20 anos, com seus prefeitos e governadores, de direitas e esquerdas, tem transformado a capital econômica do Brasil no antro da violência cotidiana.

Como mudar à sociedade de maneira eficaz? Como humanizar a Polícia Militar para que ela esteja a serviço da população? Como desenvolver uma prática de atuação política construtiva? Como regulamentar a ação da Mídia para que ela não esteja sujeita às manipulações ideológicas? Tantas perguntas. Poucas respostas prontas.

O que é certo, vendo vídeos, lendo depoimentos e observando fotos, é que a força da revolta contra o Estado e a descabida resposta violenta não são por conta dos 20 centavos à mais nas passagens de ônibus e metrô. Aqui cabe um questionamento antropológico, filosófico, religioso, em que os jovens, novamente, podem ser simples marionetes ideológicos ou verdadeiros protagonistas da mudança.

Um modelo de protesto que gera o confronto violento

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Uma das instituições que considero mais problemáticas no contexto brasileiro é a Policia Militar. Ela sempre me faz pensar, com preocupação, se existe mesmo a necessidade de termos tantas instituições mantenedoras da ordem (polícias militar, civil, federal e exército).

Deixando de lado a minha opinião pessoal sobre o excesso de corporações policiais, a segunda coisa que mais me questiono é o teor da formação de um policial militar. A Polícia Militar, paga por nós brasileiros, ao meu ver, deveria estar preparada para manter a ordem social, protegendo o bem estar dos cidadãos do país, que  não é, porém, um sujeito abstrato; é cada um, negro, branco, índio, rico, pobre; é qualquer pessoa que adquiriu os direitos civis legalmente e que deve ser defendida, jamais agredida.

Contudo, de maneira geral, alguns representantes dessa instituição policial humilham, agridem, reprimem e até executam cidadãos que protestam, buscando exercer seu direito de expressão, de ser um ator político. A violência policial desperta o ódio e desfaz o vínculo entre cidadãos com a Corporação. Dessa forma, a Polícia Militar se torna um grupo independente, quase uma milícia, que age de acordo com as próprias ideologias e esquece de que é, acima de tudo, uma prestadora de serviços aos cidadãos brasileiros.

Enfim… meus questionamentos a respeito da Polícia Militar têm aumentado diante da atual “desordem social” em São Paulo, que faz vítimas inocentes e coloca a Corporação contra os manifestantes.

Hoje, eu pude assistir a entrevista com o jovem Caio Martins, integrante do Movimento Passe Livre (MPL), explicando o andamento dos protestos e  o crescimento de um cenário violento, devido ao modelo de reivindicação adotado. “Depois que começa a repressão a manifestação já é outra, não é mais unida e organizada como antes”, disse o jovem.

Mas, enfim, considerando que a Polícia Militar “é aquela que é”, vamos raciocinar de maneira clara e objetiva:

Os sujeitos envolvidos no conflito são: Os manifestantes – que têm o direito (e, na minha opinião, devem) de se organizar para exigir medidas que sejam favoráveis à população como um todo; e os policiais – que são PAGOS para manter a ordem social, ou seja, AGIR, quando ela esteja ameaçada.

A passeata, inicialmente, organizada pelo MPL e que ganhou proporções difíceis de controlar, é um modelo de protesto que provoca a ação da polícia, que não pode permitir o fechamento das vias públicas, principalmente no horário do rush. Por mais que a luta do Movimento seja legítima e essencialmente positiva, ela descambou para o descontrole, porque, primeiramente, ignorou o fato de que a Polícia Militar é despreparada para lidar com pessoas e, depois, pela falta de coesão e unidade metodológica dos envolvidos na manifestação. Enquanto existem muitos jovens que pregam a PAZ no ato de ocupar as ruas, outros grupos políticos, ideologicamente violentos, usam a massa para impor “na base da força” as medidas exigidas coletivamente.

Existe uma apuração manipulada da mídia destacando só o negativo? Existe. A violência descamba só depois que a polícia repressora ataca? Pode ser. O fato contudo é que o contexto mudou e esse modelo de protesto está levando seus envolvidos à iminência de uma tragédia, que precisa ser compreendida e responsabilizada.

Concordo com o jovem do MPL que a violência, gerada no contexto da passeata, acaba banalizando, ocultando, a violência cotidiana que o cidadão sofre, de maneira silenciosa e que, quase sempre, “abaixa a cabeça”.

O radicalismo juvenil, contudo, precisa ter a consciência de que nenhuma vida perdida vale uma causa. É preciso saber que as situações nos conduzem à caminhos que as vezes produzem consequências trágicas.

Eu, ainda acredito que a passeata não muda a conjuntura do problema. É preciso transformar, antes de tudo, a própria vida, a postura cidadã. A desilusão de muitos trabalhadores diante dos acontecimentos, pode se dar pelo fato de que, muitos desses jovens “revolucionários” que estão lutando (de maneira violenta) pelo direito a um transporte público com valor decente, têm seu Audi, com o qual ele se desloca cotidianamente, parado na garagem.

As transformações precisam de uma consciência coletiva e não só vontade política. Isso a história do passado e do presente nos ensinam. É só olhar para os frutos da aclamada Primavera Árabe.

Ateu, graças a Deus!

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“Quem fez mais mal à humanidade? Os bancos, as ideologias ou as religiões?”. Essa pergunta, semanalmente posta aos entrevistados de “Provocações”, na TV CULTURA, do “mestre” Abujamra, sempre me faz pensar em “qual” religião ele coloca em questão. E se é aquela em que eu acredito.

Depois de um período de exclusão do pensamento religioso, principalmente contraposto aos âmbitos filosófico e científico, surge, ao poucos, um despertar do interesse religioso. “Não significa automaticamente retorno à fé cristã, mas, sobretudo, à abertura de credibilidade no confronto de outras formas religiosas e até mesmo pseudo – religiosas”, afirma o teólogo italiano Piero Coda.

Esse fenômeno, continua Coda,“juntamente com a valorização da dimensão afetiva, experiencial e até mesmo mística, que se contrapõe à tendência racionalista e reducionista do moderno, apresenta um aspecto antropológico regressivo e perturbador”.

Pensando as definições de Piero Coda, entendi o porque do olhar “negativo” de Abujamra às manifestações religiosas contemporâneas, majoritariamente pseudo-religiosas, ao meu ver.

O ser humano, na sua religiosidade ontológica, encontrou, através de uma caminho “devocional” a possibilidade de “encontrar” a legítima face de Deus. As inúmeras práticas religiosas concebidas de forma comunitária (mesmo que o caminho espiritual seja pessoal) se propõem a “revelar” esse Deus/Luz/Amor que existe na essência de todo ser humano. Contudo, se essa dimensão espiritual não promove autenticamente à pessoa humana, transforma-se em ideologia, fundamentalismo, idolatria.

Foi, e parece ainda ser, esse semblante da religião o motivo (de certa maneira compreensível) de repulsa, principalmente daqueles que se propõe a entender profundamente a historia da humanidade.

Hoje, a devoção tem, muitas vezes, um aspecto partidário, ideológico, deixando de exprimir sua dimensão universalista. Vive-se a própria religiosidade promovendo a mesma rivalidade que existe entre torcedores de times  de futebol. Também os líderes espirituais acabam idolatrados da mesma forma que os famosos do mundo da música ou outras celebridades.

É esse fanatismo religioso, que promove a necessidade de afirmação da própria fé perante os “outros” e a exclusão de quem não partilha uma determinada prática, que precisamos tomar cuidado. Essa forma de “religião” divide pessoas, culturas e deixa de promover o ser humano, na sua dimensão fraterna, naquilo que une.

Diante dessa religião, eu sou ateu. Mas acredito que Buda, Maomé  e Jesus Cristo também seriam.

Pensando os modelos de Ensino e de Comunicação

humanistaHoje, por meio de uma rede social, debati com caros colegas de estudo algumas questões a respeito do cenário educacional brasileiro.

Mesmo tendo abordagens e leituras diferentes, mais por conta das nossas histórias pessoais, do que  por qualquer outro motivo, pudemos pensar juntos sobre a importância da distinção da escola com os outros “espaços” da sociedade, para que ela recupere algumas dimensões de caráter filosófico e, porque não, religiosos, que o modelo de ensino funcional perdeu. Essa distinção não é, contudo, um rompimento de relações, mas a redescoberta da identidade específica da escola, no favorecimento de um processo de ensino global.

Dominique Wolton, ao analisar o ambiente pedagógico, essencialmente “transmissor de conhecimentos”,  com o universo comunicacional, por ele analisado, é categórico:

“No campo da educação é preciso transmitir os conhecimentos… mas, hoje, os professores estão muito mais atentos às condições de recepção. Ensinar sempre foi comunicar, isto é, pensar nas modalidades que permitem ao receptor, o aluno, compreender aquilo que lhe é dito, e ao professor, por sua vez, levar em conta as reações de seu aluno”.

Conhecer as dificuldades e, principalmente, os ruídos, em prol de uma comunicação autêntica necessita, essencialmente, do encontro fundamental com o Outro (e seus limites). Essa metodologia relacional e, por que não, pedagógica, permite que a “partilha” seja “aceita” pelo receptor de uma informação/conhecimento.

Assim, tanto o comunicar, como o ensinar, em uma dinâmica relacional, promove modelos mais eficazes, no que diz respeito aos resultados funcionais e, principalmente, redescobrem a riqueza de uma metodologia que nasce da fadiga do “Encontro entre “Outros”.

“O indivíduo que aprendeu a melhor se conhecer e a se expressar  (e eu acrescentaria aqui, na metodologia que se fundamenta no Encontro entre Outros) é também mais critico”, afirma Wolton.

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