“Quem fez mais mal à humanidade? Os bancos, as ideologias ou as religiões?”. Essa pergunta, semanalmente posta aos entrevistados de “Provocações”, na TV CULTURA, do “mestre” Abujamra, sempre me faz pensar em “qual” religião ele coloca em questão. E se é aquela em que eu acredito.
Depois de um período de exclusão do pensamento religioso, principalmente contraposto aos âmbitos filosófico e científico, surge, ao poucos, um despertar do interesse religioso. “Não significa automaticamente retorno à fé cristã, mas, sobretudo, à abertura de credibilidade no confronto de outras formas religiosas e até mesmo pseudo – religiosas”, afirma o teólogo italiano Piero Coda.
Esse fenômeno, continua Coda,“juntamente com a valorização da dimensão afetiva, experiencial e até mesmo mística, que se contrapõe à tendência racionalista e reducionista do moderno, apresenta um aspecto antropológico regressivo e perturbador”.
Pensando as definições de Piero Coda, entendi o porque do olhar “negativo” de Abujamra às manifestações religiosas contemporâneas, majoritariamente pseudo-religiosas, ao meu ver.
O ser humano, na sua religiosidade ontológica, encontrou, através de uma caminho “devocional” a possibilidade de “encontrar” a legítima face de Deus. As inúmeras práticas religiosas concebidas de forma comunitária (mesmo que o caminho espiritual seja pessoal) se propõem a “revelar” esse Deus/Luz/Amor que existe na essência de todo ser humano. Contudo, se essa dimensão espiritual não promove autenticamente à pessoa humana, transforma-se em ideologia, fundamentalismo, idolatria.
Foi, e parece ainda ser, esse semblante da religião o motivo (de certa maneira compreensível) de repulsa, principalmente daqueles que se propõe a entender profundamente a historia da humanidade.
Hoje, a devoção tem, muitas vezes, um aspecto partidário, ideológico, deixando de exprimir sua dimensão universalista. Vive-se a própria religiosidade promovendo a mesma rivalidade que existe entre torcedores de times de futebol. Também os líderes espirituais acabam idolatrados da mesma forma que os famosos do mundo da música ou outras celebridades.
É esse fanatismo religioso, que promove a necessidade de afirmação da própria fé perante os “outros” e a exclusão de quem não partilha uma determinada prática, que precisamos tomar cuidado. Essa forma de “religião” divide pessoas, culturas e deixa de promover o ser humano, na sua dimensão fraterna, naquilo que une.
Diante dessa religião, eu sou ateu. Mas acredito que Buda, Maomé e Jesus Cristo também seriam.
Eugênia Carla Cavalcanti
Maravilhoso o texto.Traz um forte debate.Não acredito que as novas religiões são pseudas,porque se assim fosse, diria que a nossa também seria.Apesar de termos um Deus revelado enquanto origem, tudo perfeito! Mas, no decorrer da história e da institucionalização da Igreja muitos conceitos,dogmas,princípios,moral foram construídos por homens ainda que,como dizem, à luz do Espírito Santo e,se, o Espírito Santo sopra onde quer,quem sou eu para afirmar que estas novas religiões são falsas?Parabéns pela ousadia de trazer ao debate as novas religiões.
Eugênia Carla
Pedagoga -Especialista em Metodologia do Ensino Religioso
Valter Hugo Muniz
Pois é Eugênia… na verdade, na minha concepção (porque o “aspas” era do Piero Coda) toda a religião que se torna fundamentalista pode ser considera “pseudo”, pois, para que seja autêntica expressão religiosa, precisa promover DEUS (na sua imensa variedade de expressões), mas sobretudo o HOME (na sua imensa variedade de escolhas, mas que carrega em si um “denominador comum” com todos os seus iguais)… A provocação é boa quando partilhada… obrigado por (me) ler…