O silêncio e a palavra: uma relação com potencial de iluminar a sociedade

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Uma das lições mais ricas que aprendi nos meus estudos teológicos é que a Verdade se revela (Alétheia) de maneira ternária: no silêncio interior (kenosis), nas manifestações exteriores (fenômenos naturais ou sociais) e na relação com Outro. Essa descoberta fundamental  me ajudou a entender melhor o meu papel como jornalista profissional e comunicólogo pois, no universo da comunicação de massa, a relatividade da Verdade é defendida como pilar pragmático.

É a partir dessa leitura pessoal que me debrucei na obra do “massmidiólogo” italiano, diretor da editora Città Nuova e professor do Instituto Universitário Sophia, Michele Zanzucchi. “Il silenzio e la parola. La luce. Ascolto, comunicazione e mass media” é um ensaio sobre essa relação ternária como lógica da comunicação.

A obra de Zanzucchi apresenta o silêncio e a palavra como “sujeitos” do ato comunicativo. Sem um verdadeiro silêncio “kenótico” e uma palavra que se relaciona com ele, a comunicação não é capaz de gerar/transmitir/revelar a Luz que nasce (ou pode nascer) dessa relação.  Na linguagem “comunicativa”, escutar e comunicar são dois pilares que constroem a identidade da communicatio.

Algumas críticas do autor ao fazer comunicativo (de massas), na minha opinião, não procedem. Muitas vezes ele também se mantém na análise demasiada dos “meios”. O grande buraco teórico está nos capítulos conclusivos da obra, que sofrem para sustentar, com argumentos sólidos, a teoria principal. Mesmo assim, o livro tem leituras transdisciplinares essenciais para entender profundamente a comunicação de massas na lógica ternária.

Muitas das intuições de Michelle eu não tenho agora presente, algumas delas geniais, mas irei explorá-las depois de concluir a primeira parte do estudo aplicado de Dominique Wolton, a partir da análise da obra “É preciso salvar a comunicação”.

Contudo, este é um livro que vale a pena ler e meditar.

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2 Comments

  1. De fato, Valter, não sei a que ponto, no livro que vc cita, Michelle Zanzucchi aprofunda o discurso “Il Silenzio e la Parola, la Luce”, apresentado no congresso internacional Net One realizado em Roma no ano de 2004. Penso que o “buraco” que vc, de forma perpicaz, percebe na teoria dele tem a ver com o escopo e a ousadia do projeto teórico desse autor, que desbrava veredas ainda não percorridas. A partir do discurso a que me referi, penso que seu grande mérito é propor o “silêncio” como instância fundadora do dicurso comunicativo, o que parece contraditório para a nossa mídia convencional, que não privilegia esse mesmo silêncio. Parabéns por divulgar um pensamento pioneiro que está sendo construído com esforço no terreno muitas vezes inóspito de uma mídia, cuja marca tantas vezes tem sido a da incomunicabilidade. Gostaria de ler o livro para conhecer melhor a novidade (da qual vc nos deu um “aperitivo”) acerca dos conceitos de Alétheia e Kenosis. Abraço!

  2. Realmente Marcello… o trabalho é realmente PIONEIRO, por isso (ainda) INCOMPLETO… Acredito – considerando minha enorme ignorância – que Wolton daria uma ótima fundamentação aos conceitos e questionamentos do Michelle… mas acho que muito deverá ser feito por nós!

    Os conceitos de Alétheia e Kenosis, traduzidos na obra de Michelle em uma linguagem “comunicativa” eu, na verdade, extraí dos estudos teológicos e metafísicos, em Sophia… eles fundamentam, no meu ver, essa lógica “ternária” que é silêncio, palavra e Luz!

    Tamo junto!

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