Os desolados contemporâneos
Sinceramente, raras vezes me envolvi em “movimentos” que, de alguma forma, a minha intuição parecia prever um final duvidoso. Foi assim também diante das últimas manifestações populares do Brasil. Quando, porém, decidi participar delas para ter uma opinião “interna” acabei não me envolvendo, por motivos familiares importantes.
Contudo, sinceramente, fiquei feliz pelos resultados concretos e “invisíveis” das passeatas. Achei pedagogicamente fundamental para a minha geração, estereotipada como acomodada e individualista. Os jovens se uniram e venceram! Desconstruíram a imagem que a sociedade tinha deles, mas, por outro lado, agora, está nascendo outra, um pouco preocupante.
A finalidade que motivou a passeata, principalmente em São Paulo, se perdeu em bordões… dos militantes aproveitadores, dos anti partidários, dos ignorantes e hipócritas, dos violentos e também daqueles “de boa vontade”. E, como ensina a história, quando não existe coesão, emerge o caos.
Esses milhões de brasileiros espalhados pelo país estão lutando contra o sistema, o governo, a PM, a Tropa de Choque, a Fifa, o Feliciano e, agora, também lutam entre si. Militantes de esquerda contra os de direita; militantes políticos contra anti partidários. Mas, a pergunta de um milhão continua: para onde vamos? A anarquia é a solução? Quais as mudanças concretas que queremos? Sim… mudar esse país, acredito que seja consenso, mas as mudanças podem ser positivas ou negativas, se não houver um método eficaz.
Olhando para fora do Brasil, podemos tirar muitas lições do que está acontecendo no Oriente Médio. A Primavera Árabe foi também um basta ao sistema vigente. Um basta necessário, como o nosso; importante, como o nosso; mas melhorou a vida dos cidadãos? Não. Ainda não. Isso sem falar das incontáveis vidas que foram tiradas para justificar A CAUSA!
A democracia é, sem dúvidas, o melhor e mais justo sistema político. Mas, para que sobreviva, precisa de um suporte, um esqueleto. É nessa estrutura em que se colocam os partidos, movimentos sociais e qualquer tipo de organização popular. A política “partidária” é a “Àgora” dos tempos modernos, onde se discutem ideias, propostas, visando o bem comum.
Na prática, a democracia brasileira é, em geral, um fracasso. Os projetos e dinâmicas do nosso país não têm construído um projeto que represente o povo, principalmente os mais necessitados. Contudo, é por meio da política que devemos participar, transformar a nossa sociedade, propondo mudanças, projetos e fiscalizando o que está (ou não) sendo feito.
Diante do caos instalado, vejo que uma reforma política é necessária. Precisamos aproximar nossos líderes do povo. Fazê-los justificar seus atos, suas decisões, votos, perante os eleitores. Uma proposta interessante que emergiu nos últimos dias é o VOTO DISTRITAL.
Enfim, se não aproveitamos essa oportunidade para transformar o país, usando a energia coletiva para elaborar propostas coesas, principalmente respeitando às diferenças, perderemos a chance de mudar a história do Brasil. Assim, em vez de nos orgulharmos da Revolta do Vinagre, iremos nos envergonhar de ter participado do ato que inaugurou mais uma enorme tragédia na história do país, como foi à Ditadura.