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O amor se desdobra em infinitos sorrisos. Pensar dessa forma me ajuda a perceber o bom das duas coisas: amar (e ser amado) e receber (e dar) um sorriso. É o que chamo de ontologia do cônjugue.

Essas duas (ou quatro) experiências, contudo, só são possíveis por meio de um encontro verdadeiro com o “outro”.  Mas, é um encontro dialógico e não dialético, que leva à uma síntese que não é fruto da destruição do mais fraco, mas da partilha.

Explico.

Por muito tempo pensei ter habilidades suficientes para lidar com o tal “outro”. O encontro com alguém, essencialmente diferente, mas com a mesma dignidade e direitos, nunca tinha sido um verdadeiro problema. E olha que já convivi com pessoas de todas as regiões do Brasil e de muitos países do mundo…

Só que essa concepção de “outro” mudou muito com o casamento e, principalmente, tem me feito perceber que nas outras relações construídas existia uma certa distância respeitosa, que fazia com que o encontro fosse menos “verdadeiro”, isto é, menos Encontro.

Contudo, no casamento, isso não é mais possível. A vida com “o outro” é fundamentalmente interligada, plasmada. A magia, ou o mistério, dessa experiência opera uma revolução interior, um mergulho em um mundo novo, completamente desconhecido, maravilhoso e, proporcionalmente, amedrontador.

Aquele “outro”, essencialmente diferente, na sua história, descobertas, experiências traumáticas, cultura, agora é uma parte de você. E parece que nós, seres humanos, temos mania de querer esconder, descartar, ignorar, aquilo que não é muito bonito em nós. Quando, porém, a dificuldade ou aquilo que não gostamos está no cônjuge muda-se fundamentalmente a dinâmica.

No casamento a aceitação paciente do outro é um processo “necessário” (entre aspas, porque, na verdade, somos SEMPRE livres) que se renova infinitamente. Aceitar o “outro”, casado, é enfrentar corajosamente os nossos limites mais profundos, sem nenhuma possibilidade de “fuga”, de distância respeitosa. Optar pela omissão, o descaso, o silêncio, é sacrificar o valor da união, dar-se por vencido neste imenso desafio.  Por isso, estar imerso nessa difícil dinâmica relacional me faz redescobrir o porquê de ter casado na Igreja, isto é, do valor religioso do casamento.

Existem momentos em uma relação em que a dificuldade do “outro” (nossa com ele e dele conosco) vai além das nossas capacidades humanas. É justamente neles que a “graça” do Sacramento nos ajuda a perceber que, construir uma família, é um caminho feito “à três”. As dificuldades existem, são grandes, dolorosas, mas servem para purificar o significado do amor e são sempre sustentadas pelo amor de Deus.

Diante disso, redescobrir a seriedade de amar e a graça (divina) que recebemos para superar a falta de amor (humana), causam a mesma sensação de plenitude ao receber um sorriso do “alvo” do nosso amor. Não é sinônimo de sucesso, conclusão definitiva, mas é a certeza (momentânea)  de estar caminhando, de modo certeiro, para fazer o “outro” verdadeiramente feliz.