mystique

É sempre difícil saber quais são os verdadeiros interesses que se escondem nas reportagens que vemos/lemos. Por mais que os fatos sejam objetivos, existe sempre um enfoque que direciona o leitor/espectador para determinadas conclusões.

O que aprendi, na minha formação, é que o jornalista pode, ao ler os fatos de um evento, condicionar o receptor às suas conclusões, às suas verdades, destruindo aquele valor objetivo que está no DNA dos fatos, mas que se torna subjetivo a partir do momento em que é “lido”. Pode-se ver esse dilema claramente no modo como a Rede Globo apresentou o fracasso corintiano na Copa Libertadores, quarta feira passada, e a Virada Cultural, ocorrida neste final de semana.

Após o fim do jogo que decretou a eliminação do Corinthians, a torcida corintiana deu um show. Aplaudiu, cantou, vibrou, mostrando que futebol é mais que vencer. Porém, a exaltação feita pela mídia da “religião” Corinthians é o que mais me incomoda, porque os mesmos corintianos fanáticos que deixam tudo – inclusive família ou emprego – pelo time, se acabaram “na porrada”, fora do estádio, depois do jogo. Logo em seguida da tal “festa”, membros de torcidas organizadas rivais, se espancaram brutalmente, como animais. Torcedores do mesmo time, que dentro do estádio estavam cantando juntos. Uma vergonha! Interessante, contudo, que a Rede Globo (e também outros meios de comunicação) fez questão de diminuir, quase ignorar o episódio violento. Mas, para mim, a festa foi ofuscada pela violência brutal. As imagens estão aí pra falar.

O mesmo comportamento, mas na contramão da exaltação positiva, a Globo teve em relação à apuração dos fatos da Virada Cultural (que acabou pautando outros veículos, como o Estadão).

É verdade, os números mostram: essa foi a edição da Virada mais violenta, com 2 mortes, inúmeros roubos, arrastões e esfaqueamentos. Mas, proporcionalmente, o evento promovido pela prefeitura de São Paulo foi um grande sucesso. 4 milhões de pessoas espalhadas pelo centro da cidade. Muitas atrações para todos os públicos. Famílias, idosos, portadores de deficiência, todos ali para desfrutar desse maravilhoso evento.

Contudo, claro, a violência (fato objetivo) ofuscou de certa maneira, o evento.  Mas será que ela deveria ser estampada nas capas de jornais e nas chamadas do Fantástico como principal aspecto da Virada?

A minha resposta é não! Esta leitura tendenciosa, como aconteceu também na eliminação do Corinthians na Libertadores, só prejudica as avaliações sobre ambos os acontecimentos. Em nenhum dos dois eventos houveram só coisas boas, então por que só a festa corintiana foi hegemonicamente positiva?

Triste é saber que a violência dos torcedores corintianos também afetou a Virada. Depois do título, ontem à noite, dezenas de torcedores brigaram nas redondezas da Estação da Luz, ao lado do Show do uruguaio Jorge Drexler, que fechou a Virada. Porque isso não foi noticiado?