Uma das perguntas que mais me fazem, quando digo que sou ciclista em São Paulo há mais de 5 anos, é: você não tem medo?
Li recentemente uma frase bonita do Escritor e humorista norte-americano, Mark Twain: “Evitar a felicidade com medo que ela acabe é o melhor meio de ser infeliz. Coragem é resistência ao medo, domínio do medo, e não ausência do medo”.
A frase não tem ligação direta com o fato de eu ter optado a bicicleta como meio de locomoção, mas exprime uma importante lição que todo ciclista urbano deveria aprender: resistir e dominar o medo, mas nunca perdê-lo.
O medo nos ajuda a ser prudente. Faz lembrar que, no caos do trânsito, da falta de educação e respeito, nós somos aqueles que mais arriscamos as nossas vidas, sobretudo pelo fato de estarmos mais desprotegidos. Esse importante sentimento nos ajuda a parar quando necessário, encostar a bicicleta, deixar passar um ônibus ou um táxi apressado.
Contudo, tenho que dizer o quanto é difícil exprimir, sendo ciclista, à felicidade fruto desse exercício de resistir e dominar o medo de pedalar na cidade. Chegar todo dia ao trabalho depois de uma pedalada é uma sensação que todo paulistano, que vive há poucos quilômetros do trabalho, deveria experimentar. A bicicleta nos faz sentir mais vivos, ajuda a perceber onde estamos e valorizar o fato de ter pernas, pulmão, coração… saúde (sem contar o aumento de rendimento no trabalho). Isso me faz cotidianamente superar o medo de algum incidente…
Outra questão é a probabilidade de que algo de ruim aconteça comigo. As estatísticas mostram que acontecem, proporcionalmente, muito mais acidentes com motoristas de automóveis e motoqueiros, que com os ciclistas. A questão da velocidade tem, penso, muito a ver com esse fato.
Na bicicleta o verdadeiro perigo são os outros. Desrespeito, pressa, desatenção podem realmente causar problemas sérios a um ciclista. Por outro lado, cabe também a quem pedala respeitar o trânsito: evitar calçadas, estar atento aos semáforos, dar passagem para ônibus, ambulância, táxi não andar na contramão, não andar nas faixas centrais de ruas e avenidas com muito tráfego de automóveis. Enfim, procurar estar constantemente em harmonia com o ambiente e não querer se “impor” de maneira “agressiva”.
Assim, com paciência, começamos a lidar de maneira positiva com o nosso medo de pedalar na cidade, convivendo “pacificamente”, com ele.