atentado

Sempre ouvi dizer que as diferenças enriquecem o casamento. Posso garantir, sendo casado com uma estrangeira, que essa é uma verdade fundamental.

A diferença ajuda a gente a ser mais completo, a ampliar as perspectivas, desenvolver nossa sensibilidade e, assim, errar menos. Ontem, tive mais uma prova dessa realidade.

No final da tarde, entrei na internet e descobri que tinham sido explodidas duas bombas em Boston. Como jornalista, lendo os fatos que iam sendo apresentados pelos sites e redes de televisão, concluí, pelas evidências, que se tratava de um atentado terrorista.

O evento na capital do estado Massachusetts tinha um simbolismo importante, local e nacionalmente. Duas explosões aconteceram durante a Maratona de Boston, a mais antiga do mundo (moderno), disputada há 117 anos, e que reunia atletas de todas as partes do mundo.

Para relembrar: o ataque às Torres Gêmeas foi realizado no coração econômico dos Estados Unidos (Nova Iorque), com dois aviões e em dois arranha-céus onde trabalhavam uma vasta representação internacional.

As semelhanças são muitas, mas aqui emerge o valor da diferença: O jornalista é “treinado” para realizar uma leitura imediata dos fatos, para depois definir o evento. Assim, quando alguém perguntar “o que aconteceu?” ele, rapidamente, pode dar uma resposta clara e objetiva. Já uma especialista em relações internacionais, como minha esposa, age de maneira diferente. Assim que eu defini o atentado em Boston como “ataque terrorista” ela, imediatamente, disse que eu deveria tomar cuidado com a terminologia da definição. Não entendi o porquê. Os fatos falavam por si só, mas, passadas algumas horas, assistindo ao discurso de Obama, em que ele também tomou esse cuidado terminológico, me dei conta do quanto é importante respeitar o tempo, a apuração mais aprofundada, mesmo que a notícia “tenha que sair”.

O termo “terrorismo” e a sua instrumentalização feita, especialmente pelo governo Bush, produziu um mal histórico e serviu para justificar a morte de inúmeros inocentes no Oriente Médio. A chamada “Guerra ao Terror” acentuou o ódio dos “fanáticos” e pode ser considerada uma das causas do discurso demente do ditador norte coreano.

Definir como “atentado” sim, porque foi. Mas incluir “terrorismo” é afirmar que existe uma organização “criminosa” responsável pelo ato de violência, não somente direcionado às pessoas presentes no momento da explosão, mas ao Estado estadunidense e o seu significado simbólico, como liderança do chamado Ocidente. Essa conclusão ainda precisa de tempo.

Mais uma lição que aprendi com as diferenças. Ainda bem que elas existem.