Ontem a noite, assistindo o Profissão Repórter, da Rede Globo, sobre a situação dos bolivianos submetidos ao trabalho escravo no Estado de São Paulo, me lembrei da difícil realidade de viver imigrado.
Por duas vezes, na Suíça e na Itália, passei um período longo no “estrangeiro” e pude experimentar, na pele, o quanto é difícil viver em uma sociedade que não é a nossa. Essas dificuldades surgem já pelo simples fato linguístico, climático e gastronômico. Três dimensões impossíveis de “escapar” e que, enquanto não superadas, geram um sentimento de solidão tremendo, fruto, especialmente, da incomunicabilidade.
Passado tudo isso (e é preciso ter muita paciência e força de vontade), começa uma nova etapa na vida do estrangeiro: a legalização. Depois que entramos em determinado país, por motivo de estudo, trabalho ou casamento, é necessário prestar contas ao estado “acolhedor” e para isso, enfrentar momentos burocráticos, muitas vezes, humilhantes.
Difícil esquecer a experiência vivida na “Questura di Firenze”, a polícia federal local, responsável pela legalização dos imigrantes. Um lugar frio, com bancos duros, sem água para beber, um único e imundo banheiro, aspectos ainda mais dramáticos porque, para ser atendido, é preciso esperar, no mínimo, 5 horas.
Essa falta de respeito do estado italiano com os imigrantes tem explicações. O número de cidadãos vindos do leste europeu, norte da África e da América Latina aumentou muito nos últimos anos e, proporcionalmente, diminuiu a paciência do governo da Itália (ainda mais o país estando imerso em uma crise econômica e social avassaladora).
Porém, é sabida que a importância dos imigrantes, em um mundo globalizado, é fundamental para o desenvolvimento econômico. A circulação de pessoas promove diferentes ideias, costumes, soluções. Isso sem contar a aceitação de “subempregos” por parte dos imigrantes que, geralmente, os cidadãos, nativos de países de histórico econômico rico, não se submetem.
Esse assunto, que parecia dizer respeito somente ao Velho Continente, tem crescido exponencialmente no Brasil. O drama de bolivianos, que cruzam a fronteira do país para trabalhar e são escravizados nas oficinas de costura, é emblemático. As causas são muitas, mas, finalmente, são sempre seres humanos e suas famílias, na maioria, pobres, que acabam sofrendo todo tipo de abuso, desrespeito, colocando o Brasil na mesma condição de “explorador” que reclamávamos dos países europeus.
Certamente não se deve ignorar um grupo, minoritário, de imigrantes que vem ao país para enriquecer, aproveitando-se da “impunidade crônica” brasileira. Esses devem ser investigados e convidados a retornar aos seus países. Contudo, todos aqueles que chegam ao Brasil a trabalho ou para estudar (e estando legalizados) devem ser valorizados, respeitados em seus direitos (e obrigações) e, jamais, serem escravizados.
Elizabete Muniz
Parabéns !! Fico orgulhosa de ter um sobrinho-filho assim!!!!!!Estou esperando ansiosamente que fale sobre a educação no brasil!